Por Marco Gonzalez
Composição de 5 praias representando as cores (branco, preto, vermelho, rosa e verde) encontradas na areia das praias selecionadas nas margens do Oceano Índico
(Adaptação das imagens utilizadas neste texto).
São descritas as principais causas geológicas das cores das areias de algumas praias coloridas banhadas pelo Oceano Índico.
O Oceano Índico é limitado pela África, no oeste, pela Ásia, no norte e no leste, e pela Austrália e pelo Oceano Antártico, no sul. Tem uma área de 70,56 milhões de km², um volume de água de 264 milhões de km³ e um litoral de 66.526 km. É a terceira maior das cinco bacias oceânicas do mundo, depois do Pacífico e do Atlântico.
Possui 4 vias navegáveis de acesso importantes: Canal de Suez, Estreito de Bab el Mandeb, Estreito de Ormuz e Estreito de Málaca. E inclui os seguintes corpos d'agua principais: Mar Arábico, Golfo de Bengala, Mar de Andaman, Mar de Savu, Mar do Timor, Grande Baía da Austrália, Canal de Moçambique, Golfo de Áden, Mar Vermelho, Golfo Pérsico e Mar de Omã, além de outros corpos d’água tributários.
Mares, estreitos, canais, baía e golfos do Oceano Índico (Adaptado de Solar System Scope).
História geológica
A maior parte da bacia do Oceano Índico não excede 5 milhões de anos. Sua abertura iniciou no Mesozoico com o desmembramento da África em relação ao Gondwana Oriental. No Cretáceo, a África se separou da Austrália e da Antártida. A Placa da Índia se movia para o noroeste, mas, com a abertura da parte ocidental do Oceano Índico no Cretáceo superior, ocorreu uma rápida movimentação daquela placa para o nordeste até sua posição atual.
Tais alterações nos movimentos tectônicos foram causadas pela reestruturação de zonas de rifte e pela formação dos novos eixos de extensão das dorsais meso-oceânicas do Oceano Índico. A subducção aumentou em suas margens continentais em direção aos vales pré-continentais com profundidades de 4 a 7 km e mais de 8 km na Fossa de Sunda.
Há, porém, muitas lacunas de conhecimento na história geológica da abertura do Oceano Índico, especialmente sobre a movimentação da Placa da Índia por ∼9 mil km para o norte após a fragmentação do Pangeia. De qualquer forma, acredita-se que a Índia se separou lentamente da Antártida no Cretáceo Inferior, acelerou alcançando a velocidade de ∼18 a 20 cm/ano, no Cretáceo Superior (simultaneamente com a ocorrência dos Traps Deccan), e depois desacelerou para ∼5 cm/ano, no início do Cenozoico. Neste período final são encontrados os primeiros indícios da colisão entre as placas da Índia e Eurasiana, tendo como consequência a formação do Orógeno Himalaia-Tibetano.
Traps Deccan: província vulcânica continental de derrame basáltico do Cretáceo-Paleógeno que abrangeu uma área de mais de 500 mil km² no oeste e no centro da Índia, com um volume estimado de ∼512 mil km³ de lava praticamente horizontal em erupção subaérea e com espessura máxima de ∼3,4 km. Está localizada no extremo norte de um hotspot que se originou na Ilha da Reunião, no Oceano Índico, onde um vulcão ainda está ativo. |
Desde a separação da Índia do Gondwana, no Jurássico, até seu encontro com a Ásia, já no Cretáceo, evidências faunísticas caracterizam a Índia como uma "balsa biótica". A presença de um Promontório Indiano, formado quando a Índia se separou da Austrália e da Antártida, ameniza algumas incoerências em relação à ligação terrestre que pode ter sido precoce entre a Índia e a Ásia.
Este Promontório Indiano pode ter derivado para o norte juntamente com a Placa da Índia no Cretáceo, mas colidido já no Campaniano (idade do Cretáceo superior) com a Placa Eurasiana. Portanto, isto teria acontecido ∼40 milhões de anos antes da formação dos Himalaias, quando a margem norte da Placa da Índia teria colidido com a margem sul da Placa Eurasiana.
Na fase inicial da fragmentação do Pangeia, o desenvolvimento de ressurgências do manto no norte do Oceano Tétis desencadeou o movimento para norte da Placa da Índia. A principal força motriz desta placa é a força de arrasto do manto atuando na sua base, reforçada pelo fluxo do manto sob o atual Oceano Índico. Mesmo após a sua colisão com a a Placa Eurasiana, a Placa da Índia continua o seu movimento para norte, elevando o Himalaia e o Planalto Tibetano, indicando que ainda persiste a ação da força de arrasto do manto na sua base.
Dorsais da bacia do Oceano Índico
A dorsal meso-oceânica do Oceano Índico apresenta as seguintes 3 ramificações que se juntam na Junção Tríplice Rodriguez (ou Ponto Triplo Rodriguez):
- Dorsal Central Indiana. Separa a Placa da Somália da Placa da Índia e da Placa Australiana. Segue para o norte, quando se transforma na Dorsal de Carlsberg, e então se direciona para o noroeste, entrando no Golfo de Aden.
- Dorsal Sudoeste Indiana. Separa a Placa da Somália da Placa da Antártida. Segue para sudoeste e posteriormente para oeste, entrando no Oceano Atlântico onde se conecta com a Dorsal Mesoatlântica.
- Dorsal Sudeste Indiana. Separa a Placa Australiana da Placa da Antártida. Segue para sudeste até entrar no Oceano Pacífico entre a Tasmânia e a Antártida, onde se conecta à Dorsal Meso-oceânica do Oceano Pacífico.
Estas ramificações subdividem o Oceano Índico em 3 setores que incluem bacias isoladas por elevações e cristas locais. Esta estrutura complexa causa variações na geomorfologia do fundo do Oceano Índico e dá indícios da interconexão geomorfológica profunda dele com os oceanos Atlântico e Pacífico.
Já na superfície, nas margens do Oceano Índico, são encontradas diversas praias coloridas, como as que estão localizadas na próxima figura e descritas, a seguir, agrupadas pela cor da areia.
Localização das 15 praias coloridas, selecionadas neste texto, banhadas pelo Oceano Atlântico (Adaptado de Solar System Scope).
Referências:
Praias de areia branca
Localização: no norte da Ilha de Bazaruto, da República de Moçambique, banhada pelas águas do Canal de Moçambique.
As ilhas do Arquipélago de Bazaruto constituem grandes corpos de areia e dunas depositadas durante transgressões marinhas. São essencialmente produtos da erosão do continente que foram transportados pelos rios Limpopo e Save. A Ilha de Bazaruto, a maior do arquipélago, tem ∼37 km de comprimento e até 7 km de largura.
Antigas rochas ígneas e metamórficas de ∼1,35 bilhão a 530 milhões de anos atrás são encontradas como embasamento no Arquipélago de Bazaruto. A margem da África no Oceano Índico, no Mesozoico médio e desde a fragmentação do Gondwana, tem sido influenciada por movimentos da crosta terrestre e por flutuações do nível do mar. Neste contexto, a região próxima da costa acumulou espessos depósitos de sedimentos de origem fluvial.
O Arquipélago de Bazaruto, na costa de Moçambique, possui uma diversificada biota de recifes de águas pouco profundas incluindo foraminífera bentônicos. Estes recifes ocupam ambientes e regimes sedimentares indicativos de fácies recifal, de canal ou lagunar. Tais ambientes contribuem muito para o fornecimento de carbonatos e favorecem a estabilidade da estrutura dos recifes.
As ilhas deste arquipélago são consideradas ilhas-barreira formadas em período de nível do mar relativamente estável como resultado da ação das ondas com areia adicional sendo acrescentada entre marés.
Ilha-barreira: depósito de areia em constante mudança que se forma paralelamente à costa sob a ação repetida das ondas do mar, do vento e do movimento das marés. |
O vento se encarrega de formar dunas de areia alinhadas e, posteriormente, a água da chuva, ligeiramente ácida, dissolve o carbonato de cálcio destas dunas, transportando-o para áreas mais baixas. A água subterrânea, então, saturada com carbonato de cálcio flui para o mar e, encontrando água mais alcalina, precipita o carbonato de cálcio entre os grãos de areia. A areia da Praia de Bazaruto é produto desta receita que, inclusive justifica sua cor.
Geologia do Arquipélago de Bazaruto (acesso em 2024): https://www.researchgate.net
Praia de Sainte-Marie
Localização: na Ilha Sainte-Marie, na costa nordeste do Arquipélago de Madagascar, da República de Madagascar, banhada pelo Oceano Índico
A Ilha Sainte-Marie foi descoberta em 1503 por navegadores portugueses e, como era Dia da Assunção, deram-lhe o nome de "Santa Maria". Mas esta ilha também é conhecida com o nome de Nosy Boraha ("Ilha de Boraha" na língua malgaxe). Há duas histórias para explicar este nome. A primeira diz que, por volta de 1592, navegadores holandeses fizeram escala na ilha e a batizaram com o nome de "Ilha Ibrahim" (ou "Nosin'Iborahimo" em malgaxe, que acabou derivando para "Nosy Boraha"). A segunda história, mais fantástica, conta que um pescador chamado Boraha foi arrastado por uma baleia e salvo por um peixe que o trouxe de volta à terra. Então, Nosy Boraha passou a identificar esta ilha do Arquipélago de Madagascar.
A geologia do Arquipélago de Madagascar pode ser caracterizada através de três grupos:
- Embasamento malgaxe: antigo maciço que cobre dois terços da ilha principal do arquipélago. Suas rochas originais foram retrabalhadas por sucessivas orogenias e modificadas por migmatização, granitização, charnockitização e metamorfismo, resultando rochas com texturas cristalofílicas de difícil diferenciação e classificação.
- Rochas sedimentares: são divididas no norte e no nordeste em três baias (Diego, Majunga e Morondava) e na bacia da costa oriental (costa da Ilha Sainte-Marie). Na costa oriental, sedimentos do Neógeno e do Cretáceo formam franja costeira continental (arenitos e areias) ou marinha (calcários e margas) e algumas porções são acompanhadas de intensas erupções vulcânicas.
- Rochas vulcânicas:
- magmatismo do Cretáceo dominado por basaltos toleíticos no perímetro da ilha e
- magmatismo do Terciário ao Quaternário dominado por rochas alcalinas subsaturadas centrado na zona axial de Madagascar.
Charnockito: rocha ígnea ou metamórfica de alto grau metamórfico, granítica ou granitoide, que se caracteriza por apresentar hiperstênio em sua composição. |
Nas costa leste e no sul da Ilha Sainte-Marie, são encontrados calcários coralíneos, conchas e materiais arenosos. Também na costa oeste são particularmente difundidas areias ricas em corais e conchas. Estas características justificam a cor branca da areia costeira desta ilha.
Geologia da Ilha de Madagascar (acesso em 2024): https://core.ac.uk
Praia Trou aux Biches
Localização: na costa noroeste da ilha principal do Arquipélago das Ilhas Maurício, no distrito de Pamplemousses da República de Maurício, banhada pelo Oceano Índico.
As Ilhas Maurício foram descobertas pelos portugueses no início do século XVI e, posteriormente, foram colonizadas por holandeses, franceses e britânicos. Seu nome foi uma homenagem ao príncipe holandês Johan Maurits van Nassau-Siegen (1604-1679), nascido na Alemanha e conhecido no Brasil como Maurício de Nassau. Foi governador do Brasil-holandês entre 1637 e 1644 e recebeu o apelido de "The Brazilian".
Localizadas no Planalto Mascarenhas, as ilhas Maurício constituem um vestígio do hotspot que passou pela Ilha da Reunião, localizada ∼200 km a sudoeste. Como resultado, foram produzidas rochas vulcânicas de três séries:
- Série Mais Antiga (7,8–5,5 milhões de anos). Representa os remanescentes erosivos de um grande vulcão-escudo com um conjunto de lavas basálticas transicionais.
- Série Intermediária (3,5–1,9 milhões de anos). Composta por produtos da atividade vulcânica reativada após um hiato de 2 milhões de anos após a série anterior.
- Série Mais Jovem (0,70–0,17 milhões de anos). Constituída principalmente por basaltos alcalinos com basanitos subordinados e apresenta abundância de elementos que refletem graus mais elevados de fusão.
As rochas aflorantes da região da Praia Trou aux Biches pertencem à Série Mais Jovem. Há também alternância de areia coralínea com as rochas vulcânicas. A planície entre as dunas e o relevo do interior da ilha são constituídos por antigos depósitos arenosos eólicos e marinhos, com restos de corais e conchas que ainda são extraídos em pedreiras.
O nome da Praia Trou aux Biches significa "Buraco da Corça" em francês e, apesar disto, acumula boas referências. Tem aparecido com frequência nos rankings das "praias mais bonitas do mundo". Os quase 2 km de extensão de areia branca contribuem para esta fama e tem origem nas rochas do litoral local.
Geologia do Arquipélago das Ilhas Maurício (acesso em 2024): https://www.researchgate.net
Praia Nungwi
Localização: no norte da ilha principal do Arquipélago de Zanzibar, na Tanzânia, banhada pelo Oceano Índico.
O Arquipélago de Zanzibar é separado da costa da África Oriental por um corpo d'água estreito e raso controlado por falhas. O próprio arquipélago se originou de falhas em blocos, no Neógeno, associadas a um depocentro deltaico da África Oriental. Nas porções centrais de Zanzibar ocorrem rochas siliciclásticas do Mioceno Inferior (conglomerados de canais e arenitos, além de lamas e margas de intercanais). Estas porções são interdigitadas e margeadas por diversos calcários do Mioceno.
Os sedimentos do Mioceno são recobertos por
- extensos calcários do Pleistoceno (da Série Azania, que abriga numerosas cavernas, tubos de dissolução e dolinas de colapso) e
- rochas siliciclásticas do Pleistoceno Superior e do Holoceno (areias eólicas, areias fluviais e cascalhos, colúvios provenientes da reformulação de sedimentos do Mioceno e outros).
Tubo de dissolução (ou de solução): tubo pequeno, vertical e moderadamente cilíndrico (∼0,5 m de largura e 2 a 5 m de comprimento) encontrado em calcarenito poroso macio (mal cimentado) e geralmente associado a solo moderno ou antigo ou a faixa de calcrete. Calcrete: material carbonático, muitas vezes calcítico ou de nitrato de sódio entre outros sais, derivado de intemperismo químico em climas áridos. Acumula-se localmente em camadas, permeando e cimentando fragmentos residuais e solos dessas regiões. Também conhecido como eolianito ou microbialito |
A cor branca da areia da Praia Nungwi tem origem no calcário do Quaternário, encontrado na região, rico em fragmentos de corais e recife.
Geologia de Zanzibar (acesso em 2024): https://www.researchgate.net2
Praia de Watamu
Localização: no município de Watamu, na costa sudeste do Quênia, banhada pelo Oceano Índico.
Na região de Watamu é encontrado o chamado Complexo de Recifes Fósseis datado do Plioceno médio ao Pleistoceno médio. Consiste em um conjunto de calcário coralíneo e calcarenito, com intercalações de areias quartzosas, seixos de arenito, lodo e algas calcárias.
Este complexo se estende de 3 a 5 metros além da atual linha de costa, subjacente à planície costeira. Atinge elevações de até 30 m acima do nível do mar e, em profundidade, pode chegar a 60 m abaixo do nível do mar. Coquinas também são encontradas na Praia de Watamu e consistem em depósitos ricos em carbonato eólico derivados de materiais litorâneos.
Coquina: calcário poroso bioclástico constituído principalmente de conchas e seus fragmentos. |
Estas litologias garantem a cor branca da areia da Praia de Watamu.
Praia Anse Source d'Argent
Localização: na costa sudoeste da Ilha La Digue, do Arquipélago das Seychelles, da República das Seychelles, banhada pelo Oceano Índico.
O Arquipélago das Seychelles é constituído por 115 ilhas no interior de um rico ecossistema marinho tropical no Oceano Índico Ocidental. Com uma área terrestre de apenas 455 km², este ecossistema, devido às elevadas taxas de endemismo de espécies, recebe destaque através de Sítios do Património Mundial da UNESCO. A geologia única das Seychelles, por outro lado, é de interesse para o setor petrolífero com potencial para petróleo e gás.
As ilhas do Arquipélago das Seychelles são subdivididas em cinco grupos espalhados por 1.340.000 km² do Oceano Índico, na costa leste da África. São ilhas oceânicas incomuns, constituídas em grande parte por rochas graníticas do Pré-Cambriano. A espessura da crosta terrestre e a presença de crosta oceânica caracterizam este arquipélago como um "microcontinente", sendo um fragmento deixado para trás após a fragmentação do Gondwana. Originalmente teria feito parte de um arco continental na margem do Rodínia.
As rochas do Pré-Cambriano Superior mais abundantes nas Seychelles consistem em uma variedade de rochas graníticas (sensu lato) não deformadas e não metamorfizadas, cortadas por diques doleríticos. A maioria dos granitos das Seychelles contém cristais de feldspato e até 10% de hornblenda marrom/verde e/ou biotita marrom. Na grande maioria são granodioritos e monzogranitos. Na Ilha La Digue, predomina um granito subalcalino do Grupo Plaslin do Neoproterozoico.
Em La Digue e em algumas ilhas das Seychelles, tafoni são comuns e muitas vezes preservam manchas de calcário. Depósitos de calcário do Pleistoceno ocorrem com frequência na região da Praia Anse Source d'Argent. O mais extenso destes depósitos está localizado além do extremo sul desta praia cobrindo uma área de ∼8 m² contra a parede de um afloramento de granito.
Tafone: cavidade natural com forma circular de pequena profundidade, desenvolvida em escarpa rochosa, em climas secos desérticos ou ao longo de falésias marinhas, de dimensões variadas até métricas. Plural: tafoni. |
Na Ilha La Digue, a cor branca da Praia Anse Source d'Argent lhe motiva o nome ("Enseada Primavera de Prata"). Tal característica é garantida pelos depósitos de calcário locais.
Geologia das Seychelles (acesso em 2024): https://www.researchgate.net1
Praia de Angaga
Localização: na Ilha Angaga, no Arquipélago das Maldivas, da República das Maldivas, banhada pelo Oceano Índico.
O Arquipélago das Maldivas é o território de um país insular que consiste, em sua parte central, por uma dupla cadeia de atóis que cercam "o mar interior das Maldivas". Este mar tem ∼50 km de largura e 500 m de profundidade no norte e entre 300 e 400 m no sul.
Atol: recife de coral com forma circular que cresce sobre um alto-fundo submarino, podendo dar origem a uma ilha com uma lagoa rasa no centro. |
As Maldivas, com 26 estruturas de atóis, ficam sobre um planalto vulcânico de 1.000 m de profundidade cercado por fundos oceânicos com profundidades entre 2.000 e 2.500 m, que rapidamente descem a 4.000 m. As flutuações do nível do mar antes e depois da última glaciação deixaram vestígios identificáveis nas planícies de recifes e nos sedimentos lagunares. São notáveis traços característicos nos perfis das encostas externas (partes frontais) dos atóis, como no Atol Ari Sul das Maldivas onde se encontra a Ilha Angaga.
Esta ilha tem uma elevação máxima de ∼2 m. No seu interior crescem palmeiras cercadas por manguezais, floradas de frangipani e uma praia de areia fina rica em coral que lhe dá a cor branca. Durante o período das monções (abril a outubro) a costa oeste fica exposta a fortes ondas e correntes, enquanto nos meses de inverno muita areia se acumula no lado noroeste, produzindo uma longa praia arenosa. O recife que rodeia a ilha fica entre 50 e 500 m da costa.
Um resort foi construído em 1989 com 50 bangalôs. Uma praga de coroas de espinhos (Acanthaster planci) surgiu em 1993 e causou graves danos aos corais e aos recifes. Um dos principais motivos foi a colheita da Concha de Tritão (Charonia tritonis) para produzir souvenirs. Em 2016 foi iniciado um projeto de restauração de corais que já teve sucesso em outras ilhas e tem tido bons resultados em Angaga também.
Praia Qalansiyah
Localização: na costa noroeste da Ilha de Socotra, no distrito Hidaybu do Iêmen, voltada para o Golfo de Áden e banhada pelo Mar Arábico.
Praia Qalansiyah (Crédito: Hexli98).
O Arquipélago de Socotra, na costa do Iêmen, inclui três ilhotas (Abd al Kuri, Samha e Darsah) e a Ilha de Socrota. Esta dista ∼240 km do "Chifre da África", a oeste, e a 380 km da Península Arábica, ao norte. É um Patrimônio Mundial da UNESCO, com elevados níveis de endemismo na flora, sendo conhecida como "Galápagos do Oceano Índico". Apresenta evidências de assentamento humano que remontam a mais de 2.000 anos.
Chifre da África: região da África oriental que inclui a Península da Somália e o leste da Etiópia, podendo ainda abranger Djibuti e Eritreia. São quatro países ligados culturalmente ao longo de suas histórias. |
Socotra justifica o endemismo na flora pelo longo período de isolamento do continente Afro-Árabe. Assenta-se em uma microplaca tectônica na Plataforma Socotran, um embasamento do Pré-Cambriano submerso. Esta microplaca de granito de origem continental foi formada como parte do continente Afro-Árabe, nas proximidades do leste de Omã e da Índia, quando uma série de eventos tectônicos no Mesozoico levaram à fragmentação do Gondwana Oriental. Estes eventos causaram alterações estruturais na Plataforma Socotran, iniciaram o processo de rifte do Golfo de Aden e a separação final de Socotra do continente Afro-Árabe no Oligoceno-Mioceno.
Além do núcleo granítico, em que se destacam as Montanhas Haggehe, há uma série de planaltos calcários que atingem até 1.000 m de altitude (Planalto Diksam), depositados em transgressões marinhas no Cretáceo e no Paleoceno-Eoceno. A porção do Paleoceno-Eoceno constitui a maior parte da superfície da Ilha de Socotra com áreas cársticas.
Em períodos de nível do mar mais baixo, durante o Último Máximo Glacial, a maior parte da Plataforma Socotran emergiu. No centro, ao sul e ao norte da Ilha de Socotra, são encontradas planícies costeiras com areias e recifes de coral do Quaternário. Este material justifica a cor da areia da Praia Qalansiyah, que consiste em um largo e extenso areal branco se destacando no fundo castanho-amarelado da Ilha de Socotra. Nas proximidades, o mar é raso e com presença de corais. O lado norte da praia tem a configuração de um esporão e forma a Lagoa Detwah. Esta lagoa se parece como um "rio marinho" que flui para o mar na maré baixa e para o interior da ilha na maré alta.
Praia Radhanagar
Localização: na costa oeste da Ilha Havelock, do Arquipélago de Ritchie, da República da União de Myanmar (antiga Birmânia ou Burma), banhada pelo Mar de Andaman.
O Arquipélago de Ritchie faz parte do Arquipélago Andaman, que fica a sudeste da Baía de Bengala representando uma porção da cordilheira Andaman-Nicobar. Esta cordilheira, que se estende de Myanmar até Sumatra e Java, em direção ao sul, é um prisma de acreção da zona de subducção da Placa de Sunda. Suas rochas do Terciário registram a transformação tectônica da região, incluindo a evolução e o fechamento do Oceano Tétis. Nesta região, a Placa da Índia está subduzindo para o norte sob a Placa Eurasiana e obliquamente sob a Placa de Burma ao longo da Fossa de Sunda.
Prisma de acreção (cunha de acreção): parte superior de placa tectônica em subducção, representada por camadas sedimentares da margem ativa bem como da fossa e outras rochas associadas que vão sendo aglutinadas e incorporadas ao serem "raspadas" em sucessivas falhas de empurrão contra esta placa no processo de subducção. |
A estratigrafia do Arquipélago Andaman compreende quatro unidades:
- Grupo Ofiolito do Cretáceo superior ao Paleoceno,
- Grupo Mithakhari do Eoceno inferior e médio (arenitos, conglomerados e folhelhos),
- Grupo Flysch Andaman do Oligoceno ao final do Eoceno e
- Grupo Arquipélago do Mioceno ao Plioceno (arenitos, argilitos siltosos, margas calcárias e calcários).
Do Grupo Arquipélago faz parte a Formação Long do Mioceno Médio que inclui o Calcário Melville, exposto na Praia Radhanagar justificando a cor branca de sua areia. Ele consiste de alternâncias regulares de calcários (com foraminífera), siltitos fossilíferos e camadas de argila.
Geologia do Arquipélago Andaman (acesso em 2024): https://www.lyellcollection.org
Praia de Lucky Bay
Localização: no canto sudoeste do Parque Nacional Cape Le Grand, na costa sul da Austrália, banhada pelo Oceano Índico.
A geologia da Austrália Ocidental abrange 4,4 bilhões de anos da história da Terra e sua estrutura geológica consiste em núcleos cratônicos estáveis do Arqueano. Eles foram suturados progressivamente durante o Proterozoico em crátons sucessivamente maiores e, finalmente, em um supercontinente. Esta região começou a se separar do que restou do Gondwana no final do Jurássico, da Índia e da África durante o Cretáceo Inferior e da Antártica no Cretáceo. Mais recentemente, a costa norte da Austrália começou a colidir com o sudeste da Ásia.
Na costa sul da Austrália Ocidental e em tempos ainda mais atuais, em uma tempestade de verão de 1802, o navegador e cartógrafo britânico Matthew Flinders (1774-1814) navegava em uma rota perigosa ao explorar a região. Para não correr riscos demasiados, buscou abrigo para a tripulação e seu navio HMS Investigator em uma baía que chamou de Lucky Bay ("Baía da Sorte").
Nas proximidades, no sul da Austrália Ocidental, atualmente, está localizado o Parque Nacional Cape Le Grand. No seu canto sudoeste, onde se situa Lucky Bay, são encontrados maciços afloramentos de granitos e gnaisses do Pré-Cambriano expostos pela erosão e pela tectônica da crosta terrestre durante os últimos 600 milhões de anos. Cavernas e túneis nestas rochas foram abertos ou ampliados pela ação das ondas e correntes subaquáticas no Eoceno, quando o nível do mar era 300 metros mais elevado que agora.
Planícies de areia cobrem grande parte do Parque Nacional Cape Le Grand, que apresenta baías com amplas praias entre promontórios rochosos na costa sul da Austrália Ocidental. Seus granitos e gnaisses formam uma cadeia de picos como o Mississippi Hill (com 180 m de altitude), localizado ∼4 km a noroeste da Praia de Lucky Bay.
Em 2006, Luky Bay foi vencedora em um julgamento que elegeu a praia com areia mais branca da Austrália. Sendo uma praia cuja areia deriva de rochas graníticas, levou vantagem devido à sua composição quartzosa que produz uma areia geralmente mais branca que, por exemplo, as praias com areias ricas em conchas ou corais.
Lucky Bay (acesso em 2024): https://exploreparks.dbca.wa.gov.au
Localização: na costa sudeste da Ilha Grande Terre, do Arquipélago de Mayotte, departamento ultramarino francês, banhada pelas águas do Canal de Moçambique.
Fazendo parte do Arquipélago das Comores, Mayotte é um arquipélago vulcânico situado entre a África e Madagascar. Inclui duas ilhas principais (Grande Terre e Petite Terre) com uma área total de 374 km². É quase totalmente circundado por uma barreira de recife não contínua com mais de 160 km de extensão.
Comores se originou da deriva da Placa da Somália no topo de um hotspot. Neste movimento foi produzida uma cadeia vulcânica que se estende deste o Atol Glorioso (250 km a nordeste de Mayotte) até o vulcão ativo Karthala (2.263 m de altitude) na Ilha Grande Comore (250 km a noroeste de Mayotte).
Mayotte provavelmente resultou da evolução de dois vulcões-escudo que ficaram submersos no Mioceno, sendo expostos acima do nível do mar desde 10 milhões de anos atrás. As principais rochas que afloram em Mayotte são basálticas, fonolíticas e traquíticas, além de depósitos piroclásticos e rochas argilosas intemperizadas.
Na região da Praia Mtsamoudou são encontradas rochas vulcânicas fonolíticas e basálticas, justificando a cor escura da areia desta praia.
Praia Tilmati
Localização: no município de Karwar do distrito de Uttara Kannada, no estado de Karnataka, na costa oeste da Índia, banhada pelo Mar Arábico.
No distrito de Uttara Kannada ocorrem rochas do Arqueano que, ao contrário do que acontece na maior parte da Índia central, não foram soterradas pelos grandes fluxos de lava conhecidos como Traps Deccan. As rochas deste distrito são subdivididas em dois grupos: (i) Dharwar, mais antigo, e (ii) Gnaisse Peninsular, constituído por rochas intrusivas mais jovens. Granitos e xistos do Grupo Dharwar ocorrem na porção oeste de Uttara Kannada, quase paralelamente à costa.
A areia preta que se estende por 150 metros na Praia de Tilmati contrasta com as areias de cor comum das praias vizinhas: Polem, ao norte, e Majali, ao sul. A responsável pela diferença entre estas praias é a geologia. Tilmati é uma enseada formada entre rochas constituídas por granito preto. Durante a monção, a água do mar fica presa nestas pedras e, ao escoarem, formam vórtices que erodem o granito preto e produzem a cor escura da areia local. Esta cor dá nome à praia. "Tilmati", na língua konkani, deriva da junção de "tillu" ("sementes de gergelim", no caso, referindo-se às de cor preta) com "matti" ("solo" ou "lama").
Tilmati (acesso em 2024): https://www.thenewsminute
Praia de areia vermelha
Praia de Broome
Localização: na Baía Roebuck, na costa noroeste da Austrália, banhada pelo Oceano Índico.
Detalhe da areia da Praia de Broome (Crédito: Neerav Bhatt).
A Planície Roebuck é uma planície costeira com ∼15 km de largura e ∼30 km de comprimento e está localizada ao longo da costa noroeste da Austrália. Foi desenvolvida pelo preenchimento com lama carbonática de uma grande baía marinha no Holoceno. Originalmente, no início do Holoceno, esta baía era preenchida por inundações marinhas. Suas margens eram cortadas por areia vermelha do Pleistoceno (Areia de Mowanjum) ou avanços de dunas com arenito do Mesozoico (Arenito Broome). Com a queda progressiva do nível do mar e a invasão de lama carbonática de fontes marinhas na baía, ela evoluiu para uma planície costeira onde atualmente está localizada a Baía Roebuck.
Nesta baía está localizado o Observatório de Aves Broome. Acredita-se que os lodaçais da Baía Roebuck sejam uma das fontes mais ricas de alimento do mundo para aves migratórias limícolas (aves de ambiente com limo, lodo ou lama). Os manguezais que crescem ao redor da baía fornecem a base para as cadeias alimentares de moluscos, caranguejos e peixes.
A Praia de Broome (ou explicitamente Praia do Observatório de Aves Broome), assim como outras praias da Baía Roebuck, é abastecida de sedimentos avermelhados da Planície Roebuck que dão cor às suas areias.
Praia Pantai Merah
Localização: na costa leste da Ilha de Komodo, na Indonésia, banhada pelas águas do Mar de Savu.
As ilhas da Indonésia estão localizadas entre quatro placas principais, a da Índia, a Australiana, a do Pacífico e a Eurasiana. A Ilha de Komodo faz parte de um dos arcos vulcânicos que, durante o Cenozoico, ao longo da borda da Placa de Sunda, resultou da subducção da placa do Oceano Índico sob as do sudeste asiático. No final do Mioceno e no Plioceno, ocorreu a colisão do continente australiano com a parte oriental deste arco.
Formadas por vulcanismo do Eoceno, as ilhas da Indonésia, no lado oeste, preservam rochas do Jurássico. A litologia é constituída geralmente por cinzas vulcânicas, conglomerados e formações de corais soerguidas tectonicamente. Devido à origem vulcânica, a topografia acidentada é dominada por elevações arredondadas (com alturas entre 500 e 600 m) com orientação norte-sul. No litoral irregular, promontórios muitas vezes com falésias íngremes são entremeados por numerosas baías, enseadas e praias, entre elas, Pantai Merah.
A Ilha de Komodo (algo como "ilha do dragão" na língua local) faz parte do Parque Nacional de Komodo (Patrimônio Mundial da UNESCO) e das Pequenas Ilhas Sonda. É conhecida por ser o habitat natural do dragão de Komodo (Varanus komodoensis), o maior lagarto do mundo, que chega a 3 m de comprimento e a pesar mais de 70 kg.
Os mares ao redor destas ilhas apresentam franjas e manchas de recifes de coral. A Praia Pantai Merah ("Praia Vermelha" em indonésio) tem areia de cor rosada devido aos foraminífera presentes nela. Sua areia é formada por fragmentos de corais misturados com conchas e carbonato de cálcio. No mar local, verdadeiros jardins de corais subaquáticos contém centenas de espécies de corais moles e duros e muitos peixes.
Referências:
Ilha de Komodo (acesso em 2024): https://komododiscovery.com
Ilha de Komodo (acesso em 2024): https://www.islander.io
Parque Nacional de Komodo (acesso em 2024): https://whc.unesco.org
Praia Verte
Localização: em Pointe du Tremblet, no sudeste da Ilha da Reunião, departamento ultramarino francês, banhada pelo Oceano Índico.
A Ilha da Reunião está localizada na borda leste da Bacia das Mascarenhas, uma bacia tectonicamente inativa. Esta ilha é composta por três vulcões-escudo: Piton des Neiges, Alize e Piton de la Fournaise ("Pico da Fornalha", traduzido do francês). Este último é o único ativo e está localizado na ponta sudeste da ilha. Acredita-se que o edifício vulcânico da Reunião tenha uma idade de ∼5 milhões de anos, tendo sido construído com lava basáltica.
Em 2007, ocorreu uma erupção do Vulcão Piton de la Fournaise que intensificou ainda mais a paisagem local de lava solidificada, conhecida como Le Grand Brûlé ("o Grande Queimado"), situada também no sudeste daquela ilha. Em alguns pontos, a lava de 2007 alcançou uma espessura de 60 m resultando na solidificação de um basalto rico em olivina. Os cristais deste mineral são os primeiros a se formar à medida que a lava esfria.
Olivina: silicato de magnésio de cor verde oliva claro a verde amarelado e, ocasionalmente, marrom, com brilho translúcido, dureza 6,5 a 7 e peso específico 3,2 a 4,3. |
A lava desta erupção do Piton de la Forunaise chegou à praia e deu origem a uma plataforma que cobriu um antigo porto de pesca próximo ao Pointe du Tremblet. Este porto era uma simples laje de basalto que permitia a atracação de barcos. Desta maneira, a lava formou a novíssima Praia de Tremblet em abril de 2007.
A erosão do basalto de Le Grand Brûlé produziu a areia rica em olivina desta praia e os cristais de olivina, sendo mais pesados que a maioria dos outros componentes erodidos, acumularam-se ali. Isto fez como que a areia ganhasse uma tonalidade esverdeada e a praia passou a ser conhecida como Praia Verte ("Verde" em francês). Sua cor é mais ou menos intensa dependendo da iluminação do dia.
Referências:
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