Em breve:
A Paleoclimatologia e os indícios do clima do passado geológico

9 de abril de 2023

A geologia dos extremos topográficos da Terra

Por Marco Gonzalez

Ondulações do geoide em cores falsas, relevo sombreado e exagero vertical de ×10.000 (Crédito: ICGEM - International Centre for Global Earth Models).

Altura, proeminência, altitude, profundidade e distância ao centro da Terra são medidas que podem ser usadas para determinar os extremos topográficos da Terra (ou do geoide) apresentados neste texto.

Ondulação do geoide (ou altura do geoide): distância vertical entre as superfícies do geoide e do elipsoide. Pode ser negativa ou positiva, variando aproximadamente entre -100 m a +100 m.
Elipsoide: figura tridimensional formada quando uma elipse é girada em torno de um dos seus eixos. No caso do modelo terrestre, o elipsoide formado é achatado (oblato) nos polos e, em decorrência, é inchado (tem maior raio) na linha do equador.
Geoide: forma irregular da superfície da Terra obtida matematicamente e por leituras da força de atração da gravidade terrestre. Removendo-se os efeitos das marés e das correntes oceânicas, a forma da Terra se estabelece suavemente ondulada (projetando-se o nível do mar sob os continentes), com a altura do geoide subindo onde a gravidade é alta e afundando onde a gravidade é baixa. Assim é obtido um modelo que leva em consideração o nível médio global do mar, que é usado para medir elevações da superfície com precisão.

Medidas topográficas dos extremos

Altura, proeminência, altitude, profundidade e distância ao centro da Terra

Altura, altitude, profundidade e distância ao centro da Terra.

Proeminência (Adaptado de: Svetlana Shele).

Estas medidas são úteis para determinar os pontos da superfície do geoide que são extremos topográficos: o que tem maior altura, o que tem maior altitude, o mais proeminente, o mais profundo e aquele que tem a maior (ou menor) distância até o centro da Terra.

Altura: distância vertical entre um ponto, acima de um referencial, e este referencial, que geralmente é a superfície do terreno.
Altitude: distância vertical entre um ponto, acima de um referencial, e este referencial, que geralmente é o nível do mar.
Altura absoluta (ou cota absoluta): sinônimo de altitude.
Profundidade (1): distância vertical, na direção da gravidade, entre um ponto e um referencial (por exemplo, a superfície do geoide).
Profundidade (2): distância vertical, na direção da gravidade, entre um nível de água (por exemplo, o nível do mar) e o ponto considerado.
Proeminência: maior desnível vertical entre o cume em questão e o ponto onde um nível do mar imaginário o transformasse no cume mais elevado de sua "ilha". Na figura acima, "nmi B", cria três "ilhas" e B é o mais elevado cume da "ilha central". Por outro lado, "nmi A" cria duas "ilhas" e o cume A é o mais elevado na "ilha A+B".

Nos casos de altura, altitude e profundidade, os referenciais utilizados neste texto são sempre:
  • a superfície do terreno para a altura e
  • o nível do mar tanto para a altitude quanto para a profundidade.
No caso da altura, a superfície do terreno é representada pela base da elevação. Por exemplo, o Pico das Agulhas Negras tem altitude de 2.789 m, mas sua altura é de ~489 m, pois a base deste pico está localizada no platô de Itatiaia, cuja altitude é de ~2.300 m.

Base de elevação: plano horizontal definido por planície ou superfície de lençol d'água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela depressão mais baixa ao seu redor.

No caso da distância até o centro da Terra, é preciso considerar que, em virtude do achatamento do geoide nos polos, o raio polar é de 6356,752 km e o raio equatorial é de 6378,137 km. Ou seja, a distância média da superfície até o centro da Terra aumenta quando nos afastamos dos polos e nos aproximamos da linha do equador.

Referências:

Classificação das montanhas (acesso em 2023): www.extremos.com.br

Proeminência (acesso em 2023): routes.tips

Medidas da Terra (acesso em 2023): nssdc.gsfc.nasa.gov

Maior altura (considerando elevações com base acima do nível do mar)

Monte Denali

Altura: 5.486 m
Altitude do topo: 6.190 m
Altitude da base: 610 m
Localização: Cordilheira do Alasca, no centro-sul do Alasca, EUA.

Localização do Monte Denali e da Cordilheira do Alasca (Adaptado de: Nzeemin).

O Monte Denali tem a maior altura entre as elevações da Terra com base acima do nível do mar. Embora ele tenha menor altitude que o Monte Everest, acaba suplantando-o em termos de altura porque a base do Everest tem uma altitude muito elevada.

Denali foi escalado pela primeira vez em 1913. Seu topo foi alcançado por uma equipe de alpinistas liderada pelo padre episcopal, reformador social e alpinista britânico Hudson Stuck (1863-1920) e pelo guia de alpinismo norte-americano Henry Peter Karstens (1878-1955).

O nome "denali" significa "o alto" em Koyukon, uma língua  nativa tradicional do Alasca. Este nome foi usado pelos primeiros pesquisadores e naturalistas para identificar este monte. Porém, em 1896, um garimpeiro passou a chamar Denali de "Monte McKinley" em homenagem a William McKinley, um candidato presidencial dos EUA na época. McKinley foi eleito e mais tarde assassinado. Então, em 1917, o Congresso dos EUA, apesar da fraca vinculação deste político com o Alasca, reconheceu formalmente seu nome para identificar o Monte Denali. No entanto, em 2013, a Comissão de Energia e Recursos Naturais do Senado dos EUA decidiu renomear o Monte McKinley para Monte Denali definitivamente.

Geologia do Monte Denali

O Parque Nacional Denali revela que o Alasca é a parte geologicamente mais ativa dos EUA. Forças tectônicas enrugam seus terrenos produzindo a Cordilheira do Alasca, um arco que se alonga por mais de 960 km. Nela, o Monte Denali se destaca como o mais elevado dos seus picos. 

A Cordilheira do Alasca é constituída principalmente por rochas sedimentares e secundariamente por rochas ígneas. Ela resulta do soerguimento de rochas antigas que, além disto, sofreram intrusões de magma e fluxos vulcânicos. Tal soerguimento ocorreu no final do Mesozoico e no início do Terciário ao longo do seu eixo atual devido à subducção da placa do Pacífico sob a placa Norte-Americana.

O Monte Denali foi incluído nesta movimentação há ~56 milhões de anos a partir da ruptura da crosta terrestre através da Falha Denali. O magma granítico solidificou em profundidade e, ao longo de milhões de anos, Denali foi sendo soerguido sob pressão entre as placas tectônicas. Simultaneamente, o material sedimentar que lhe cobria na superfície foi sendo erodido. Este soerguimento continua a uma taxa de ~1 mm/ano.

O Monte Denali e a Cordilheira do Alasca (Foto: Lorenz King / JLU).

A Falha Denali é uma falha transcorrente lateral direita que se estende do sudeste ao centro-sul do Alasca. Há indícios de deslocamentos pós-mesozoicos tardios de até 400 km. Em falhas transcorrentes como esta, curvaturas são concretizadas através de dobras do tipo Kink ou de flexões restritivas. Elas conseguem transferir o componente horizontal do movimento para um componente vertical, como aconteceu com o Monte Denali. A chamada Curvatura Denali se intensificou há 6 milhões de anos e persistiu alterando sua tendência de leste para o oeste.

Falha transcorrente: aquela que apresenta deslizamento horizontal paralelo à direção do plano de falha, sendo este plano vertical ou subvertical.
Falha transcorrente lateral direita (ou dextral): aquela onde o bloco mais distante (para quem olha perpendicularmente para seu plano de falha) teve movimento para a direita.

Dobra do tipo Kink: onde as camadas mudam de inclinação ao longo de uma distância muito curta e cada trecho é relativamente plano.

Flexão restritiva (restraining bend): movimento de deslizamento em uma curva na zona principal de deslocamento que produz estruturas compressivas.

Neste contexto tectônico e estrutural, a erosão e a translação dos blocos crustais são fatores que limitam o efetivo soerguimento. Porém, de maneira incomum, o Monte Denali persistiu por milhões de anos e conseguiu se sobressair topograficamente. Um dos fatores que contribuiu para isto foi a constituição granítica do Monte Denali, devido à resistência à erosão desta rocha, viabilizando que fosse alcançada a altura que o monte tem hoje principalmente após os últimos 6 milhões de anos.

O granito (essencialmente monzonito de quartzo rosa) do Monte Denali é mais resistente ao intemperismo que as rochas das elevações vizinhas, constituídas por folhelhos, calcários e arenitos. Assim o monte se sobressai, embora seja mais jovem que a maioria das montanhas próximas, que possuem idades que variam entre 100 milhões e 400 milhões de anos ou mais.

Referências:

Monte Denali (acesso em 2023): education.nationalgeographic.org

Denali x Everest (acesso em 2023): www.dailyo.in

Denali x McKinley (acesso em 2023): www.govinfo.gov

Cordilheira do Alasca (acesso em 2023): www.nps.gov1

Geologia do Monte Denali (acesso em 2023): www.nps.gov1

Geologia do Monte Denali (acesso em 2023): phys.org

Geologia do Monte Denali (acesso em 2023): www.meteorologiaenred.com

Geologia do Monte Denali (acesso em 2023): www.rmiguides.com

Geologia do Monte Denali (acesso em 2023): www.microblife.in

Falha Denali (acesso em 2023): www.researchgate.net

Maiores altura e proeminência

Vulcão Mauna Kea

Altura e proeminência: 10.210 m
Altitude do topo: 4.205 m
Altitude da base: -6.005 m
Localização: na Ilha do Havaí, no arquipélago de mesmo nome.

Localização do Mauna Kea no Havaí (Adaptado de: Jacques Descloitres).

Mauna Kea possui a segunda maior área acima do nível do mar dentre os cinco vulcões-escudo encontrados na ilha do Havaí. É a maior elevação da Terra tanto em termos de proeminência quanto em altura, tendo sua base no fundo do oceano Pacífico.

Vulcão-escudo: vulcão caracterizado pela efusão de material magmático basáltico muito fluido que origina uma estrutura de derrames de lava a partir da cratera em cone amplo com baixos ângulos topográficos (2º a 8º).

O primeiro não-havaiano a alcançar o cume do Mauna Kea foi o empresário, político e reverendo norte-americano Joseph Goodrich (1800-1867) em 1823. Ao chegar lá, Goodrich verificou que não havia sido o primeiro a chegar ali, pois observou um arranjo de pedras que acreditou que tivesse sido feito por um anterior visitante do local.

Mauna Kea é uma montanha sagrada para o povo havaiano e é o lar de muitos animais e plantas raros e ameaçados de extinção, incluindo o inseto Wëkiu, o pássaro Palila e a planta Mauna Kea Silversword. Ele também abriga alguns dos telescópios e observatórios astronômicos mais poderosos da Terra, incluindo o telescópio Keck, que possui o maior espelho já construído.

Geologia do Mauna Kea

O vulcão adormecido Mauna Kea com observatórios astronômicos em seu topo (Foto: Leijurv).

Há ~800 mil anos, começaram as erupções do Mauna Kea a partir do fundo do mar e, entre 200 mil e 250 mil anos, terminou seu estágio de escudo de crescimento rápido. Neste período, ele construiu mais de 90% de seu volume total estimado de 42 mil km³. Há 60-70 mil anos, ocorreram atividades de pós-escudo alcalino. Há 20 mil anos, Mauna Kea sofreu os efeitos da última era glacial global e o que restou deste evento ainda pode ser visto em seu cume. As erupções foram se tornando menos frequentes e foram ocorrendo alterações na química da lava à medida que ele foi se afastando da fonte de geração de magma, o hotspot havaiano. Finalmente, por volta de 4 mil e 5 mil anos, ocorreram suas erupções mais jovens e, desde então, ele é considerado um vulcão-escudo adormecido.

Hotspot: região relativamente restrita, duradoura e excepcionalmente quente, localizada abaixo de placa tectônica, que fornece alta energia térmica (pluma do manto) para sustentar um vulcanismo. A medida que a placa se move, a fonte estacionária de calor vai produzindo um rastro de inúmeras erupções em superfície, interrompendo as atividades de um vulcão e iniciando outro mais adiante.
Pluma do manto (pluma térmica): espécie "chama" constituída por rocha quente derretida que sobe desde o limite núcleo-manto.

Mauna Kea tem composição principalmente de basalto toleítico, sendo coberto por lavas alcalinas havaíticas a benmoreíticas.

Basalto toleítico: basalto de enorme distribuição terrestre derivado de magma supersaturado em sílica e constituído essencialmente de plagioclásio cálcico e de piroxênio subcálcico (augita e pigeonita).
Havaito: rocha basáltica no qual o feldspato normativo e modal é a andesina e onde a razão sódio:potássio é maior que 2:1. Pode ser carente de quartzo e conter olivina.
Andesina: silicato sódico-cálcico do grupo dos plagioclásios.
Benmoreito: rocha basáltica alcalina com anortoclásio, plagioclásio sódico, ferroaugita e olivina rica em ferro.

Referências:

Mauna Kea (acesso em 2023): web.archive.org

Vulcões havaianos (acesso em 2023): www.usgs.gov

História Eruptiva do Vulcão Mauna Kea (acesso em 2023): www.soest.hawaii.edu

Geologia do Mauna Kea (acesso em 2023): www.usgs.gov

Mauna Kea x Everest (acesso em 2023): oceanservice.noaa.gov

Proeminencia (acesso em 2023): www.peaklist.org

Maior altitude

Monte Everest

Altura e proeminência: 3.658 m
Altitude do topo: 8.849 m
Altitude da base: 5.182 m
Localização: na Cordilheira do Himalaia, entre o Nepal e o Tibete (China).

Localização do Monte Everest e da Cordilheira do Himalaia (Adaptado de: NASA).

O Monte Everest é a elevação da Terra com maior altitude em seu topo, embora sua altura seja relativamente bem pequena.

Foi escalado pela primeira vez em 1953. Este feito foi realizado pelo explorador neozelandês Edmund Percival Hillary (1919-2008) e pelo seu guia, o alpinista tibetano Tenzing Norgay (1914-1986). Em 1956, pesquisadores britânicos registraram que o Everest era o pico com maior altitude da Terra.

O nome tibetano do Everest é Chomolungma ("Deusa Mãe do Mundo") e no Nepal ele é chamado de Sagarmatha ("Testa no Céu"). No século XIX, recebeu o nome com que é mais conhecido em homenagem ao ex-Agrimensor Geral da Índia, o geógrafo, engenheiro cartógrafo e topógrafo galês George Everest (1790-1866).

Geologia do Monte Everest

A cordilheira do Himalaia, onde o Everest se destaca em altitude, eleva a topografia de cinco países (Índia, Nepal, Paquistão, Butão e China), alimenta três grandes rios (Indo, Ganges e Tsampo-Bramhaputra) e possui mais de uma centena de montanhas que ultrapassam a altitude de 7.100 metros.

Juntamente com o Himalaia, o Everest começou a se formar há mais de 65 milhões de anos quando as placas tectônicas Indiana e Eurasiana colidiram, provocando movimentações com dobras e falhas de cavalgamento. Este movimento ainda continua com a placa Indiana sendo empurrada ~0,5 m/ano sob a placa Eurasiana que teima em não se mover. Esta teimosia faz com que o Himalaia e o Platô Tibetano continuem a se elevar entre 5 a 10 mm/ano. Estima-se que a Índia continuará se movendo para o norte por quase 1.600 km nos próximos 10 milhões de anos.

O Monte Everest, visto de Tingri, uma aldeia no Platô Tibetano (Foto: Joe Hastings).

Com a colisão indiana-eurasiana, o material mais leve, incluindo calcários e arenitos, foi empurrado para cima. Este soerguimento explica a ocorrência de fósseis de criaturas marinhas e conchas em elevadas altitudes, embora eles tenham sido depositados há 400 milhões de anos no fundo de mares tropicais rasos. No pico do Everest ocorre calcário marinho que já esteve submerso no Mar de Tétis. 

As rochas do Everest são subdivididas nas seguintes formações:
  • Formação Rongbuk, contendo rochas do embasamento;
  • Formação North Col, da altitude de 6.900 metros para cima, com uma seção inferior com xistos, arenito e lamito, uma seção intermediária com mármore, xisto e filito e uma seção superior com mármore, filito (com muscovita e biotita) e semi-xisto (rocha sedimentar ligeiramente metaforfizada); e
  • Formação Qomolangma, acima de 8.500 metros, com calcário, dolomita e siltito.
Essas formações são separadas por falhas de baixo ângulo, com tensionamento de umas sobre as outras em um padrão de ziguezague.

Referências:

Monte Everest (acesso em 2023): education.nationalgeographic.org

Monte Everest (acesso em 2023): www.guinnessworldrecords.com

Geologia do Monte Everest (acesso em 2023): www.tripsavvy.com
 
Maior profundidade

Depressão Challenger Deep

Profundidade: 10.994 ± 40 m
Localização: na Fossa das Marianas, 322 km a sudoeste do território americano de Guam, no oceano Pacífico.

Localização da Challenger Deep e da Fossa das Marianas (Adaptado de: Wallace).

A Fossa das Marianas tem 2.550 km de comprimento, 69 km de largura média e profundidades nos pontos mais extremos que alcançam entre 3 mil e 5 mil km, sem incluir a depressão Challenger Depp. Estima-se que a pressão nestas profundezas é tão grande que o cálcio não pode existir exceto em solução, podendo fazer com que os ossos de vertebrados literalmente se dissolvessem. No entanto, é possível que existam diversas novas espécies aguardando para serem descobertas com informações sobre como sobrevivem nestas condições extremas. Os microorganismos destas profundidades podem lançar luz sobre o surgimento da vida na Terra.

Em 1875, a tripulação do navio britânico HMS Challenger, ao realizar pesquisa oceanográfica pelo mundo, detectou pela primeira vez na Fossa das Marianas o ponto mais profundo da Terra. Em 1951, outro navio britânico também chamado HMS Challenger pesquisou o local e a depressão Challenger Deep acabou ganhando seu nome.

Até hoje, apenas quatro pessoas conseguiram descer ao fundo (ou próximo) da Challenger Deep. Em 1960, o oceanógrafo e engenheiro suíço Jacques Piccard (1922-2008) e o oceanógrafo e tenente da marinha norte-americana Don Walsh (nascido em 1931) ficaram somente 20 minutos nas profundezas. Tiveram que subir pois uma janela do batiscafo Trieste, utilizado por eles, rachou pela pressão local. Em 2012, o diretor de cinema canadense James Cameron (nascido em 1954) desceu com o submarino Deepsea Challenger por cerca de duas horas e meia das seis planejadas. Falhas mecânicas fizeram com que ele retornasse à superfície mais cedo. Em 2019, o ex-militar e investidor norte-americano Victor Vescovo (nascido em 1966) bateu o recorde de profundidade ao descer com o submarino Limiting Factor na Challenger Deep chegando a 10.928 m .

Geologia da Challenger Deep

A Fossa das Marianas marca a fronteira onde, há mais de 50 milhões de anos, ocorre a subducção da placa do Pacífico sob a placa das Filipinas. Esta colisão acontece porque estas duas placas se movem para oeste, mas a do Pacífico tem maior velocidade. É uma fronteira que abriga terremotos, vulcões, fontes hidrotermais, infiltrações frias, vulcões de lama e, destacando-se pela profundidade a depressão Challenger Deep. Por todas estas razões, a Fossa das Marianas foi designada Monumento Nacional Marinho pelos EUA.

Encosta da subducção da placa do Pacífico na Challenger Deep a uma profundidade estimada de 10.800 m (Foto: Vlvescovodo interior do submarino Limiting Factor em 2019).

Ao longo da história da movimentação das placas tectônicas na região, à medida que a do Pacífico foi sendo subduzida, a Fossa das Marianas foi se aprofundando e se alargando. Este alargamento, porém, não aconteceu nas suas extremidades. Elas estão presas no planalto de Ogasawara, no norte, e na dorsal Caroline, no sul. Isto faz com que a fossa assuma a forma de uma meia-lua, côncava para o oeste.

A oeste da fossa, são encontradas as Ilhas Marianas, como Guam, Rota, Tinian e Saipan. São todas elevações formadas por recifes marinhos, sedimentos e antigos depósitos vulcânicos que surgiram à medida que o fundo do mar circundante se afastou ao longo de falhas.

Em profundidade, a placa do Pacífico, em subducção, libera fluídos devido ao aumento das temperaturas e das pressões. Estes fluídos sobem e reagem com o manto hidratando minerais como olivina e piroxênio e formando serpentina. Esta, juntamente com lama fluída, contribui para formar vulcões de lama, em profundidade, que chegam até 50 km de diâmetro e 2 km de altura. A subducção também gera magma que sobe e alimenta a cadeia de vulcões no arco vulcânico da região produzindo principalmente montes submarinos.

Serpentina: mineral silicato de magnésio originado frequentemente por alteração com hidratação de olivina em rochas ultramáficas. Ocorre em três formas diferentes: lizardita, antigorita e crisotila, todas com a mesma composição aproximada.
Arco vulcânico: cinturão geralmente curvo com vulcões, acima de uma zona de subducção, e as rochas vulcânicas e plutônicas formadas lá.

Referências:

Challenger Deep (acesso em 2023): www.nationalgeographicbrasil.com

Challenger Deep (acesso em 2023): geology.com

Challenger Deep (acesso em 2023): newatlas.com

Extremidades da Terra (acesso em 2023): blogs.loc.gov

Fossa das Marianas (acesso em 2023): oceanexplorer.noaa.gov

Fossa das Marianas (acesso em 2023): www.deepseachallenge.com

Maior distância ao centro da Terra

Vulcão Chimborazo

Altitude: 6.268 m.
Distância do topo ao centro da Terra: 6.384 km.
Localização: na Cordilheira Ocidental, na região central do Equador, 150 km ao sul de Quito e ~1,5º ao sul da linha do equador.

Localização do Vulcão Chimborazo e das cordilheiras Ocidental e Oriental no Equador (Adaptado de: Urutseg).

O centro da Terra fica pouco mais de 2 km mais distante do topo do Vulcão Chimborazo do que do topo do Monte Everest, apesar da maior altitude deste. Esta diferença se deve principalmente ao fato de que o Chimborazo está mais próximo da linha do equador do que o Everest. A distância do Everest até a linha do Equador é de 27,9879017º N. A maior proximidade do Chimborazo em relação à região do geoide com maior protuberância (devido ao maior raio equatorial) anula a diferença das altitudes dos dois, que daria vantagem ao Everest.

O topo do vulcão Chimborazo foi alcançado pela primeira vez em 1880 pelo ilustrador, alpinista e explorador britânico Edward Whymper (1840-1911) juntamente com os guias italianos Louis Carrel e Jean-Antoine Carrel (1829-1891). A rota utilizada por eles ficou conhecida como rota Whymper e o pico mais alto do Chimborazo foi batizado também com este nome. Whymper subiu novamente no topo do Chimobrazo no mesmo ano para comprovar aos críticos que duvidaram de sua primeira realização.

Uma lenda local conta que os vulcões (masculinos) Chimborazo e Carihuairazo amavam o vulcão (feminino) Tungurahua. Para resolver a questão, os vulcões (masculinos) passaram a brigar entre si atirando pedras um no outro e, ao final, Chimborazo saiu vitorioso. Esta história é coerente com a cronologia de eventos dos dois vulcões (masculinos), pois as lavas mais jovens do Chimborazo realmente cobriram as lavas mais antigas do Carihuairazo.

Geologia do Vulcão Chimborazo

Os vulcões associados à subducção da placa de Nazca sob a placa Sul-Americana, no Equador, estão distribuídos ao longo de dois alinhamentos vulcânicos dos Andes Equatorianos, as cordilheiras Ocidental e Oriental, separadas por uma depressão tectônica, o Vale Interandino. Na Cordilheira Ocidental, encontra-se o Vulcão Chimborazo, que é o pico de maior altitude dos Andes do norte. Ele e mais dois vulcões vizinhos (Carihuairazo e Igualata) se destacam em um relevo elevado entre as depressões vulcânicas Ambato e Riobamba.

O Vulcão Chimborazo, ao fundo, e a cidade de Riobanba, em primeiro plano (Foto: David Torres Costales).

O Vulcão Chimborazo registrou maior atividade explosiva entre 8 mil e 1 mil anos atrás e, apesar de apresentar morfologia jovem sugerindo algum risco vulcânico, não teve atividade eruptiva desde a primeira metade do século XVI. Sua evolução estrutural é complexa, revelando várias erupções sucessivas, com discordâncias angulares entre as sequências vulcânicas do seu cone. Ele é composto por três seções:
  • seção basal de composição riolítica e andesítica, com relíquias de antigos fluxos de lava com orientação radial, consistindo em duas sequências espessas de fluxos de lava, duas unidades de fluxo piroclástico e um depósito de avalanche de detritos;
  • seção intermediária de composição andesítica e dacítica, com flanco leste desenvolvido antes dos demais e remanescentes amplamente dissecados por erosão glacial; e
  • seção superior também de composição andesítica e dacídita, que forma seu pico mais elevado.
O Chimborazo produziu uma sequência de tefras no Planalto Ocidental do Equador desde o vale do Rio Colorado, no norte, até a Quebrada Chorrera e o Rio Chimborazo, no sul. Esta sequência cobriu uma área de 120 a 140 km², correspondendo a um volume de 1,8 a 2,1 km³ de material. Estas medidas, porém, são aproximadas devido ao retrabalhamento que ocorreu durante as glaciações do Pleistoceno.

Tefra: depósito piroclástico inconsolidado em geral, independentemente do tamanho dos fragmentos ejetados que podem variar de blocos angulares e bombas até lapili, pedaços de escória, pumice e cinzas.

Referências:

Ponto mais distante do centro da Terra (acesso em 2023): oceanservice.noaa.gov

Extremidades da Terra (acesso em 2023): blogs.loc.gov

Mais altas montanhas (acesso em 2023): geology.com

Cálculo da distância ao centro da Terra (acesso em 2023): www.summitpost.org

A lenda do Chimborazo (acesso em 2023): www.elheraldo.com.ec

História eruptiva do Vulcão Chimborazo (acesso em 2023): www.igepn.edu.ec

Menor distância ao centro da Terra

Depressões no oceano Ártico

Profundidade: 5.450 m (Litke Deep) ou 5.669 m (Molloy Hole).
Distância do fundo ao centro da Terra: 6.351,70 km (Litke Deep) ou 6.351,88 km (Molloy Hole).
Localização: no oceano Ártico.

Localização das depressões Litke Deep e Molloy Hole no oceano Ártico (Adaptado de: Uwe Dedering).

Há dois pontos no oceano Ártico candidatos a ser o mais próximo do centro da Terra. Um deles é a depressão Litke Deep, com 5.450 m de profundidade. Esta medida, no entanto, é contestada por alguns pesquisadores que afirmam que ela não deve ser muito diferente de 4.000 m. Neste caso, o vencedor seria o outro candidato, a depressão Molloy Hole, que é o ponto mais profundo do oceano Ártico.

A distância do centro da Terra até o fundo da depressão Challenger Deep, que é de 6.371 km, é maior que as mesmas distâncias atribuídas a Molloy Hole e Litke Deep, mesmo que esta última depressão tenha 4.000 m de profundidade. Neste caso, o fundo de Litke Deep distaria 6.353 km do centro do nosso planeta e, ainda assim, manteria Challenger Deep na terceira posição. Isto se deve principalmente ao fato de que as depressões no oceano Ártico estão mais próximas do Polo Norte e, portanto, em uma região mais achatada do geoide.

Em 1955, a tripulação do navio quebra-gelo Fedor Litke, durante uma expedição na região, encontrou a Depressão Litke Deep que, na época, pensava-se que fosse o ponto mais profundo do oceano Ártico. Tanto este navio quanto a depressão foram batizados em homenagem ao almirante, explorador do Ártico e conde russo Fyodor Petrovich Litke (1797-1882).

Em 1972, a tripulação do navio oceanográfico USNS Hayes encontrou uma depressão que foi batizada como Molloy Depp em homenagem ao cientista da Marinha dos EUA Arthur E. Molloy (1927-1972), que trabalhou no Atlântico Norte e no oceano Ártico desde a década de 1950. Esta depressão posteriormente recebeu o nome de Molly Hole.

Em 2019, o norte-americano Victor Vescovo (que no mesmo ano também desceu na Challenger Deep) submergiu com o submarino Limiting Factor no oceano Ártico até o fundo da depressão Molloy Deep. Não há notícia, porém, de que alguém tenha descido na depressão Litke Deep.

Geologia do oceano Ártico

Na topografia do fundo do Oceano Ártico, a dorsal Lomonosov determina a fronteira entre duas bacias oceânicas, a Asiática-Americana e a Eurasiana. Esta última, caracterizada por composição basáltica e peridotítica, é subdividida em duas depressões de águas profundas, as bacias Amundsen e Nansen, separadas pela dorsal de Gakkel. A maior parte do fundo destas bacias é composta por planícies abissais, constituídas por áreas planas com profundidades maiores que 3.000 m.

Bacias e dorsais do oceano Ártico (Adaptado de: Pacific Coastal and Marine Science Center / Mikenorton / noaa / Kai Berlar et al).

A depressão Litke Deep está localizada na bacia Nansen, que se estende desde a margem continental do Mar de Laptev, no nordeste, até o Estreito de Fram, no sudoeste. E é neste estreito, que conecta a bacia Eurasiana com o Atlântico Norte, que é encontrada a depressão Molloy Hole. 

Durante o Cretáceo, o supercontinente da Laurásia incluía a América do Norte, a Groenlândia e a Eurásia, além de Svalbard e da dorsal Lomonosov. A expansão do fundo do mar na Bacia Eurasiana resultou no deslocamento desta dorsal, na forma de uma microplaca continental estreita, desde a margem da Eurásia em direção a noroeste. Juntamente com a abertura do Atlântico Norte, os movimentos das placas no Paleoceno Superior movimentaram Svalbard, em relação ao nordeste da Groenlândia, através de uma falha transcorrente dextral, tanto acarretando deformação extensional quanto compressiva. Esta movimentação começou na passagem do Paleoceno para o Eoceno (24 milhões de anos atrás) e continua até hoje em ritmo lento.

Recentemente se descobriu que estas bacias do Ártico são ricas em vida microbiana e também abrigam diferentes espécies de vermes, crustáceos, moluscos, esponjas, estrelas do mar e outros seres que se alimentam do fundo oceânico. 

Referências:

Oceano Ártico (acesso em 2023): www.alaskawild.org

Descida (acesso em 2023): www.livescience.com

Oceano Ártico (acesso em 2023): dione.lib.unipi.gr

Bacia Eurasiana (acesso em 2023): www.frontiersin.org

Bacia Eurasiana (acesso em 2023): www.researchgate.net1

Litke Deep (acesso em 2023): www.ripublication.com

Molloy Hole (acesso em 2023): www.researchgate.net2

Profundidade (acesso em 2023): www.tradeaboat.com.au

Imprecisões (acesso em 2023): www.sciencedirect.com

Comparações extremas

A medida da profundidade da depressão Challenger Deep vence quase todas as outras apresentadas aqui. Ela é maior que:
  • a altura do Monte Denali,
  • a proeminência do Vulcão Mauna Kea,
  • cada uma das altitudes do Monte Everest e do Vulcão Chimborazo e
  • cada uma das profundidades das depressões Litke Deep e Molloy Hole.
A depressão Challenger Deep só não consegue competir na medida da distância ao centro da Terra, nem a mínima creditada a uma das depressões do oceano Ártico, nem a máxima do Vulcão Chimborazo.



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