Desde meados do século XV, Portugal reinava no comércio mundial do açúcar. Em 1560, passou a fomentar a produção em sua colônia d'além-mar, com isenções de impostos e privilégios de nobreza aos senhores de engenho. Dessa forma, o açúcar constituiu uma base econômica para a implantação definitiva do europeu em solo brasileiro. Entretanto, o açúcar atraiu também a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais que acabou invadindo e ocupando uma rica porção territorial do Brasil colonial, as capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba, Sergipe e Rio Grande do Norte. Os holandeses produziram açúcar nessa região de 1630 a 1650, quando foram expulsos.
Óleo sobre madeira "Paisagem com plantação: o engenho", de 1660, de Frans Post (Fonte: Carla Oliveira).
Com o declínio da economia açucareira, os pequenos agricultores de cana do nordeste viram escassear os caminhos para subir a níveis socioeconômicos mais elevados. Assim, a Coroa portuguesa perdeu o apoio desse segmento potencialmente poderoso da população que ficou atraído pelas notícias de recentes descobertas de campos de ouro mais ao sul no país.
A corrida do ouro
Com os objetivos principais de aprisionar índios, recuperar escravos foragidos e buscar pedras e metais preciosos, os bandeirantes paulistas, nos séculos XVII e XVIII, expandiram territorialmente o centro-sul do Brasil. Eles ultrapassaram o Tratado de Tordesilhas e, em meados do século XVII, encontraram várias minas de ouro em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Por décadas, pequenos depósitos de ouro aluvial foram explorados sem alarde para não despertar a ganância das autoridades portuguesas. Os depósitos foram descobertos provavelmente entre 1693 e 1695 na região que constituía o que hoje é Minas Gerais, entre a Serra da Mantiqueira e as cabeceiras do rio São Francisco. Mas a tranquilidade não duraria para sempre.
Espalharam-se notícias relatando ricos depósitos, com rios, riachos e ribeirinhos brilhando em ouro. Logo, acampamentos se transformaram em cidades e nasceram Ouro Preto, Mariana e Sabará. Os paulistas, de início, viram surgir concorrentes do nordeste, mas as notícias chegaram também a Portugal e, de 1708 a 1710, o Vale do São Francisco se transformou em uma região sem lei poluída pela escória do mundo português. Os paulistas, oriundos dos bandeirantes, considerando-se proprietários das minas, entraram em conflito com os estrangeiros, chamados emboabas. O conflito deu motivo para a Coroa portuguesa implantar o controle real e a Guerra dos Emboabas foi encerrada em 1710.
Como consequência, muitos mineradores paulistas se transferiram para Goiás e Mato Grosso onde novos depósitos de ouro foram descobertos. Também nessa época muitos escravos africanos fugiram formando esconderijos chamados quilombos, sempre perseguidos por "capitães do mato".
A extração do ouro
Quadro "Lavage du Mineral d'Or", de 1820/5, de Rugendas, representando mineração de ouro próximo ao Morro de Itacolomi (Fonte: Centro de Doc. D. João VI).
O pico da mineração no Brasil colonial aconteceu entre os anos 1750 e 1770, com extração de ouro e diamante em Minas Gerais e também em Goiás e Mato Grosso.
A extração do ouro se dava por lavra ou faiscação. A lavra era realizada por empresas com ferramentas e equipamentos especializados em grandes jazidas, com mão-de-obra escrava. A faiscação era caracterizada pelo garimpo do homem livre e de poucos recursos, principalmente em regiões ribeirinhas franqueadas a todos.
A extração do ouro se dava por lavra ou faiscação. A lavra era realizada por empresas com ferramentas e equipamentos especializados em grandes jazidas, com mão-de-obra escrava. A faiscação era caracterizada pelo garimpo do homem livre e de poucos recursos, principalmente em regiões ribeirinhas franqueadas a todos.
O ouro podia ser encontrado em aluviões ou nas encostas de montanhas entre cascalho e terra ou ainda no subsolo.
O ouro em aluviões, presente nas margens de rios, córregos e riachos, era garimpado com bateias, sendo o trabalho pesado executado por escravos africanos. Para que desse lucro eram necessários muitos garimpeiros e muito tempo.
O ouro das encostas de montanhas era extraído através de uma técnica chamada grupiara. O material era levado até um local com água e bateado. Também podia ser utilizada a roda d'água para levar água até o local onde o ouro se encontrava para, em seguida, transportá-lo com o cascalho até a parte baixa onde era bateado.
Nas minas subterrâneas os custos e os riscos de desabamento eram elevados e a mão-de-obra e os equipamentos tinham que ser especializados.
Os diamantes
Durante o século XVII, ocorreram as primeiras descobertas de diamantes na região do Arraial do Tijuco, atual cidade de Diamantina, em Minas Gerais. Mas somente em 1729 chegaram à Coroa notícias oficiais de descobertas na região do Serro do Frio, também em Minas Gerais. Muitas pessoas de diversas regiões, inclusive de outras partes da América e de Portugal, deslocaram-se para o local.
Quadro "Les laveurs de diamants", do século XIX, de artista francês anônimo, representando escravos lavando diamentes em Minas Gerais (Fonte: Pinacoteca municipal de São Paulo).
O controle da Coroa portuguesa
O ciclo de mineração, no século XVIII, que coincidiu com o declínio do açúcar, propiciou novas fontes de riqueza para a economia da colônia, além de ter estimulado a indústria do gado. Entretanto, a mineração na época nunca substituiu totalmente a agricultura de exportação, tendo o café, posteriormente, tomado o seu lugar.
Exportações brasileiras de açúcar, minério e café de 1650 a 1830 (Fontes: Simonsen, CDPB e Abreu e Lago).
Em 1720, foram criadas as Casas de Fundição para impedir a circulação de ouro em pó na colônia e no mesmo ano aconteceu a Revolta de Vila Rica. Cerca de 2.000 revoltosos conquistam a cidade de Vila Rica comandados pelo português Filipe dos Santos. Os lideres foram presos e Filipe condenado à forca.
Quadro "Julgamento de Filipe dos Santos", de ~1923, de Antônio Parreiras (Fonte: Museu Antônio Parreiras).
A Inconfidência Mineira, em 1789, envolveu figuras com vários problemas comuns, mas o maior deles era a dificuldade financeira causada pelas políticas da Coroa portuguesa. E entre suas reivindicações estava incluída a eliminação das restrições à mineração.
Quadro "Jornada dos Mártires", de 1928, de Antônio Parreiras, representando inconfidentes presos (Fonte: Museu Mariano Procópio).
O ciclo da mineração no Brasil colonial foi responsável por profundas mudanças na época. A população cresceu de 300 mil para cerca de 3 milhões de pessoas. Vieram para o Brasil neste período 800 mil portugueses e foi intensificado o comércio interno de escravos. Os eixos social e econômico foram transferidos do litoral para o interior e houve a mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, mais próxima à região mineradora. Cresceram as oportunidades no mercado interno e a sociedade se tornou mais flexível, em contraste com a sociedade açucareira.
Em 1703, Portugal assinou o Tratado de Methuen com a Inglaterra para lhe dar preferência na compra da lã inglesa em troca de tarifa favorável aos vinhos portugueses. Esse tratado prejudicou o movimento de industrialização das colônias e fez chegar o ouro brasileiro diretamente à Inglaterra, principalmente porque o pico da mineração no Brasil colonial, entre os anos 1750 e 1770, coincidiu com o período da industrialização inglesa. Assim, a forte influência econômica da Inglaterra sobre Portugal fez com que grande parte das divisas portuguesas fossem pagas com ouro brasileiro, favorecendo o pioneirismo inglês na Revolução Industrial.
Mesmo com o envio da riqueza brasileira ao exterior, o que restou por aqui viabilizou a construção de obras públicas urbanas, como fontes, pontes, edifícios e igrejas, além de apoiar fundações de caridade, como hospitais. Nas últimas décadas do século XVIII, as cidades de Minas Gerais viram surgir igrejas barrocas e rococó, casas, lojas e grandes prédios públicos.
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