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18 de julho de 2024

A geologia das praias coloridas do Oceano Pacífico - Parte II - Sudeste da Ásia

Por Marco Gonzalez

Representação de cada uma das três cores (branco, preto e rosa) encontradas nas areias das praias selecionadas nas margens do Oceano Pacífico, no sudeste da Ásia
(Adaptação das imagens utilizadas neste texto).

São descritas as principais causas geológicas das cores das areias de algumas praias coloridas banhadas pelo Oceano Pacífico no sudeste da Ásia.

Sudeste da Ásia

O sudeste da Ásia, devido à sua vizinhança com a Índia e com a China, foi cenário de uma série de roteiros comerciais históricos e de um conjunto de rotas de navegação traçadas em estreitos entre penínsulas e arquipélagos. Como esta atividades exige bons conhecimentos de fisiografia, no século XIX houve empreendimentos individuais em busca de informações vitais neste sentido. Na segunda metade do século XIX, instituições nacionais se estabeleceram implantando serviços geológicos e meteorológicos para obter uma cobertura extensiva da região, objetivo que foi alcançado em meados do século XX. 

O Oceano Pacífico, no sudeste da Ásia, inclui os seguintes corpos d'agua principais: Mar de Arafura, Mar de Bali, Mar de Banda, Mar de Celebes, Mar das Flores, Estreito de Macáçar, Mar das Molucas, Baía Cendrawasih, Golfo da Tailândia, Golfo de Tonkin, Mar de Java, Mar da China Meridional, Estreito de Taiwan, Golfo Lagonoy, Mar de Samar, Mar de Sulu e Estreito de Cebu.

Localização dos principais corpos d'água do sudeste da Ásia (Adaptado de Solar System Scope).

História Geológica

O sudeste da Ásia é uma região cercada por um sistema de arcos vulcânicos ativos. Deste contexto, resultam encostas vulcânicas íngremes, colinas e montanhas graníticas, além de vales com rochas sedimentares. Esta região, localizada ao sul da Placa Eurasiana, foi afetada pela evolução do Oceano Tétis. A interação de processos de subducção e colisão entre diversas placas se reflete em tectonismo e magmatismo intensos com padrão tectônico complexo.

Relevo do Oceano Pacífico, placas tectônicas, fossas, arcos e dorsal do sudeste da Ásia (Adaptado de NOAA / USGS / Alataristarion / Eric Gaba)

A colisão das margens norte das placas da Índia e Australiana com a Placa Eurasiana, no Cretáceo Superior, produziu diversas cordilheiras. As duas primeiras continuaram em subducção sob as placas de Burma e de Sunda (subdivisões da Placa Eurasiana) na Fossa de Sunda. No lado leste, na Fossa das Filipinas, a Placa das Filipinas, subduzida sob Placa Eurasiana (e de Sunda), formou o cinturão de arco das ilhas das Filipinas.

O cenário tectônico em grande escala, no início do Cenozoico, era consideravelmente diferente no oeste e no leste. A oeste, a Placa da Índia movia-se rapidamente para norte sem ainda ter colidido com a Ásia, o que aconteceria no Eoceno. No lado leste, o envolvimento da Placa Australiana estava restrito mais ao sul, com menor movimentação.

Durante o Cenozoico foi formado o Arco de Sunda na margem sul da Placa de Sunda, provavelmente com subducção em andamento na Fossa de Sunda no Eoceno. No Neógeno, no nordeste da Indonésia, formaram-se os arcos Halmahera e Sangihe, que ainda estão ativos. Também foi iniciado o sistema de dupla subducção da Placa do Mar das Molucas. 

No início do Mioceno houve colisão entre as placas de Sunda e Australiana em Celebes ("Sulawesi" em malaio e indonésio). Fragmentos continentais foram agregados ou reorganizados no leste da Indonésia e a aproximação de arcos do Pacífico, em direção à Indonésia Oriental, propiciou mais tarde o surgimento de mais ilhas nesta região.

No Plioceno foi iniciada a construção do complexo central de acréscimo da Placa do Mar das Molucas. Também o arco vulcânico de Banda colidiu com a margem australiana em Timor e grandes ilhas deste arco foram elevadas rapidamente acima do nível do mar nos últimos 3 milhões de anos. Desenvolveram-se novos limites de placas nesta região, a partir do Plioceno, associados à inversão de polaridade de subducção. Ocorreram durante o Pleistoceno repetidas e consideráveis ​​transgressões e regressões do mar com a formação de múltiplas ilhas.

Ilhas, mares e praias

As porções erodidas das montanhas do cinturão Alpino-Himalaia desceram para o sul do Planalto Tibetano até a Península da Indochina e terminam em um arquipélago de crosta continental com ilhas vulcânicas separadas por pequenas bacias oceânicas. No sudoeste da Ásia há ∼2.800 ilhas espalhadas nas proximidades da Linha do Equador cobrindo uma área com mais de 5.000 km de leste a oeste e mais de 3.000 km de norte a sul.

Localização das principais ilhas do sudeste da Ásia e de alguns locais citados neste texto (Adaptado de Solar System Scope).

O Sudeste da Ásia é um mosaico de acréscimos de fragmentos continentais, montes submarinos, terrenos exóticos e arcos insulares intraoceânicos. Tudo isto se juntou ao continente asiático e, atualmente, a região está delineada por zonas de sutura e remanescentes das antigas bacias oceânicas Tétis e Protopacífico. 

Cada oceano da Terra é diferente em temperatura e salinidade em razão da sua configuração e da sua segmentação em mares. Por exemplo, o Pacífico é mais frio enquanto o Atlântico é mais quente e mais salgado. O sudeste da Ásia se diferencia por possuir uma geografia única com seus mares e arranjos de arquipélagos restringindo as condições gerais das águas da região em passagens estreitas e mares de tamanhos e profundidades variados. É neste cenário que as águas tropicais do Oceano Pacífico serpenteiam em direção ao Oceano Índico através do que é conhecido como Fluxo Indonésio, afetando as características de fenômenos climáticos como o El Niño e a monção asiática. O grande artífice deste cenário é a geologia.

Neste cenário são encontradas diversas praias coloridas, como as que estão localizadas na próxima figura e descritas, a seguir, agrupadas pela cor da areia.

Localização de 12 praias coloridas selecionadas no sudeste da Ásia (Adaptado de: Solar System Scope).

Referências:

Oceano Pacífico (acesso em 2024): https://www.cia.gov/

Geologia do sudeste da Ásia (acesso em 2024): https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net

Geologia do sudeste da Ásia (acesso em 2024): https://www.sciencedirect.com

Geologia do sudeste da Ásia (acesso em 2024): https://www.ingentaconnect.com

Geologia do sudeste da Ásia (acesso em 2024): https://se.copernicus.org 

Mares do sudeste da Ásia (acesso em 2024): https://ocp.ldeo.columbia.edu  

Praias de areia branca

Praia de Hatenohama

Localização: no Arquipélago de Ryukyu, no município de Kumejima da província de Okinawa, no Japão, banhada pelas águas do Mar da China Oriental.

Praia de Hatenohama (CréditoSnap55).

Vista aérea do alinhamento (N70ºE) das ilhotas em cuja porção central está localizada a Praia de Hatenohama (CréditoMinistério de Terras, Infraestruturas, Transportes e Turismo do Japão).

O Arquipélago Ryukyu é uma das manifestações da subducção da margem noroeste da Placa das Filipinas sob a Placa Eurasiana. Neste arquipélago, ilhas de recife do Holoceno são formadas inteiramente por bioclastos (que dão a cor branca à areia) em resposta a alterações do nível do mar. A diversidade em tamanho, constituição e dinâmica destas ilhas se deve a fatores ambientais, como ondas, correntes, ciclones, distribuição de organismos construtores de recifes e vegetação terrestre. Neste ambiente, processos de erosão, deposição e cimentação de sedimentos podem ocorrer simultaneamente.

Ilha de recife: ilha formada em zona supratidal, resultante da concentração de material derivado de recife.
Supratidal: zona que está acima do nível da maré alta e é inundada apenas em grandes cheias ou durante tempestades.
Recife: acúmulo de sedimentos ou rochas sedimentares, mais comumente produzido por organismos que secretam conchas, como os corais.

No arquipélago de Ryukyu, a Praia de Hatenohama está situada na porção central do alinhamento das ilhotas de areia Menuhama, Hatenohama e Nakanuhama, com pouco mais de 5 km de comprimento e largura máxima de 250 m de areia branca. A forma e a posição destas ilhotas mudam frequentemente. Em dois anos, houve expansão para o norte após tufões e, após, migração gradual para o sul, enquanto a parte norte era corroída pelas monções de inverno.

Ilhota de areia ("Sand Cays"): tipo de ilha de recife cuja areia de coral é depositada em condições não tempestuosas.

Referências:

Ilhas de recife (acesso em 2024): www.airies.or.jp

Arquipélago de Ryukyu (acesso em 2024): earthquake.usgs.gov

Hatenohama (acesso em 2024): confit.atlas.jp

Hatenohama (acesso em 2024): www.gltjp.com

Praia de Dongsha

Localização: na Ilha Dongsha, no Atol de mesmo nome, em Taiwan, banhada pelas águas do norte do Mar da China Meridional.

Praia de Dongsha, com fileiras de algas marinhas deixadas pelo mar (Crédito: Pork86).

Atol Dongsha, com a Ilha Dongsha (à noroeste), visto do espaço (Crédito: ISS/NASA).

O Mar da China Meridional desenvolveu-se na margem continental da proto-região do Sul da China. Nesta área, desde o final do Cretáceo ocorreu intenso rifteamento e desde o final do Oligoceno até meados do Mioceno houve expansão do fundo do mar. No Cenozoico, como resultado da tectônica extensiva, foram formadas algumas bacias de rifte, como a Bacia Dongsha. Em geral, essas bacias receberam sedimentos do Cenozoicos espessos (até 10 km) depositados em embasamentos de rochas graníticas do Mesozoico e rochas metamórficas do Paleozoico.

A Bacia Dongsha, que circunda a Ilha de mesmo nome (também conhecida como Tungsha ou Pratas), é caracterizada por sedimentos de granulometria fina do Cenozoico que recobrem estratos do Mesozoico. Junto a corais, ocorrem abundantes nódulos e placas carbonáticas autigênicas e brechas com bioclastos. Também coexistem fluxos maciços de lama e quartzo, feldspato e turmalina provavelmente trazidos por vulcanismo de lama.

Vulcão de lama: abertura na superfície por onde são expelidos lama e gás ou vapor, geralmente relacionada a depósitos pressurizados em profundidade onde o gás (ou o vapor) se mistura com sedimentos de grãos finos.

Na Bacia Dongsha, há numerosos vulcões de lama submarinos de vários tamanhos, normalmente com 50 a 200 m de altura e 0,5 a 5 km de largura. Eles ocupam uma grande província na encosta sudoeste da Ilha Dongsha, em águas profundas, abrangendo uma área de 1.000 km² ou mais. Gás metano escapa através destes vulcões, vindos principalmente dos estratos do Mesozoico.

Dongsha, portanto, é o nome da bacia, do atol, da ilha e do arquipélago composto por três atóis, Vereker do Sul, Vereker do Norte e Dongsha. Os dois primeiros ficam completamente submersos na maré alta, ao contrário do terceiro onde está situada a Ilha Dongsha (conforme imagem acima). O arquipélago é um ponto de estrangulamento marítimo no Estreito de Taiwan, tendo sido ocupado pela primeira vez pelos chineses na Dinastia Ming. 

A Ilha Dongsha, juntamente com o atol, pertence ao Parque Nacional do Atol Dongsha. A ilha tem a forma de uma ferradura e se estende por 0,9 km de leste a oeste e 2,7 km de norte a sul. Sua praia tem areia rica em coral (de onde vem sua cor branca) e uma vegetação costeira tropical.

Referências:

Geologia das Ilhas Dongsha (acesso em 2024): https://pdf.sciencedirectassets.com

Ilha Dongsha (acesso em 2024): https://web.archive.org

Ilha Dongsha (acesso em 2024): https://www.researchgate.net

Ilha Dongsha (acesso em 2024): https://irp.fas.org 

Praia da Baía Sanya

Localização: no município de Sanya, na costa sul da Ilha Hainan, na China, banhada pelas águas do Mar da China Meridional.

Praia da Baía Sanya (CréditoHuangdan2060).

Antigamente a Ilha Hainan era conhecida pelo nome de Yazhou (que significa "o fim do mundo") por estar posicionada no extremo sul do território chinês. Resistiu a transformações culturais, invasões mongóis e colonização japonesa, além de transgressões e regressões marinhas, tornando-se próspero destino turístico com atrações como a areia branca de suas praias.

Historicamente, há mais de três milênios, Hainan era habitada pelo povo Li, um grupo étnico chinês. Com a Rota da Seda marítima, iniciada no século II aC, foram criadas conexões vitais para a China, o sudeste da Ásia, a Índia e o Oriente Médio. Este contexto fez Hainan prosperar no século XV e sua cidade principal, Sanya, despontou como centro comercial proeminente. Esta região é frequentemente apelidada de "Havaí da China" por causa do seu clima, da sua vegetação e de suas praias. 

Geologicamente, a Ilha Hainan faz parte da extensão sudoeste do bloco Cathaysia da China com estratigrafia dominada por sucessões do Paleozoico que afloram como unidades dispersas. É coberta principalmente por rochas intrusivas e extrusivas do Permiano ao Cretáceo. Por estar situada na intersecção das placas Eurasiana, da Índia, Australiana e do Pacífico, Hainan foi submetida a um desenvolvimento tectônico complexo acompanhado por múltiplas deformações, incluindo magmatismo e metamorfismo, que levaram inclusive à formação de muitos depósitos metalíferos. 

Nesta ilha, a Praia da Baía de Sanya é típica de ambiente oceânico tropical com recifes de coral incluídos desde 1990 na área de proteção Reservas Naturais Nacionais de Recifes de Coral. A baía tem forma de arco onde os recifes são sustentados por xisto e arenito quartzoso do Ordoviciano Inferior ao Siluriano Médio. A rocha aflorante dominante é o Granito Yanshaniano.

O leito rochoso da costa é coberto por camadas de clastos esqueléticos derivados dos recifes. Acima, desenvolve-se uma enorme estrutura de coral, geralmente com mais de 1 m de espessura. Este recife está situado em uma costa com alta energia de ondas e a maior parte dele se desenvolveu durante o nível elevado do mar no Holoceno. Este contexto justifica a cor branca da areia da praia.

Referências:

Geologia da Ilha Hainan (acesso em 2024): https://www.sciencedirect.com

Praia da Baía Sanya (acesso em 2024): https://www.researchgate.net

Praia da Baía Sanya (acesso em 2024): https://medium.com

Geologia da praia da Baía Sanya (acesso em 2024): https://www.researchgate.net 

Praia de Redang

Localização: no sudoeste da Ilha Redang, do arquipélago de mesmo nome, na Malásia, banhada pelas águas do Mar da China Meridional.

Praia de Redang (Crédito: Azreey).

O Arquipélago Redang é formado por nove ilhas: Pinang, Ling, Ekor Tebu, Kerengga Besar, Kerengga Kecil, Paku Besar, Paku Kecil, Lima e Redang. Dista 45 km da costa do estado de Terengganu da Malásia.

As rochas da Formação Pinang afloram neste arquipélago. Elas constituíam uma sequência intercalada de arenitos e xistos pretos que sofreu metamorfismo de contato pela intrusão granítica adjacente, sendo transformadas em metaconglomerados, ardósia e quartzito. Além destas, o calcário da Formação Pinang foi metamorfizado em hornfels de cálcio-silicato contendo diopsídio e axinita.

Hornfels (ou cornubianito): rocha de metamorfismo de contato com aspecto de chifre (horn), sem orientação preferencial, textura fina e de grãos concatenados, muitas vezes poiquiloblástica. Ocorre nos contatos metamorfizados por intrusões que ascenderam muito quentes.

A ilha Redang tem ∼7 km de comprimento e 6 km de largura. Seu pico mais alto, Bukit Besar, tem 359 m de altitude. Além das praias, o litoral é dominado por afloramentos rochosos, paredões íngremes e penhascos. Também são encontradas cavernas e grutas esculpidas pela erosão das ondas e, no mar, ocorrem recifes de coral.

Os recifes de coral com franjas que circundam as ilhas do Arquipélago Redang são classificados como os mais ricos e saudáveis do mundo. Contém mais de 50 gêneros de corais registrados e fornecem substrato para hospedeiros como algas, esponjas, vermes, moluscos e crustáceos. Todos estes organismos contribuem positivamente para o equilíbrio ecológico do recife e, além deles, alguns peixes contribuem também para a cor branca da Praia de Redang (ou Pulau Redang).

Na costa leste da Malásia são encontradas 27 espécies do peixe-pagaio (da família dos Escarídeos) que desempenham papel vital para o ecossistema local eliminando microrganismos prejudiciais para os recifes. Eles se alimentam de pólipos de corais e algas que crescem nos recifes. Os pólipos desenvolvem exoesqueleto duro constituído por carbonato de cálcio e, ao se alimentar, este peixes também cumprem a importante missão de excretar ∼450 kg de areia por ano. Assim, tornam-se fundamentais para produzir as areias brancas que cobrem a praias locais e, principalmente, a Praia de Redang.

Referências:

Recifes de corais da Ilha Redang (acesso em 2024): https://redangpelangi.com

Geologia da Ilha Redang (acesso em 2024): https://www.researchgate.net

Ilha Redang (acesso em 2024): https://www.redang.org

Peixe-papagaio (acesso em 2024): https://www.thestar.com.my 

Praia Batu Topeng

Localização: na costa oeste da Ilha Karimunjawa do arquipélago de mesmo nome, na Regência Jepara da província Java Central, na Indonésia, banhada pelas águas do Mar de Java.

Praia Batu Topeng (CréditoAzwari Nugraha).

A sedimentação do Terciário no Mar de Java ocorreu em bacias limitadas principalmente por falhas com direção nordeste e muitas delas sendo meios grabens que se formaram na plataforma do Pré-Terciário. Neste cenário que resultou da interação entre a Placa Eurasiana com as placas da Índia e Australiana, o Arco Karimunjawa se destaca como uma cordilheira dominante na região e se estende à nordeste até costa sul de Bornéu. Este arco se manifesta através do Arquipélago Karimunjawa.

Localizado naquele arquipélago, o Parque Nacional Karimunjawa foi criado pelo governo indonésio em 1986. É reconhecido como uma das áreas de conservação marinha mais importantes daquele país. Em 2021 foi designado como Geoparque Global da UNESCO.

A área daquele parque foi inicialmente habitada pelos povos javanês e madurês. Sua localização estratégica no Mar de Java o transformou em centro essencial para o comércio no século XIV fornecendo recursos marinhos, como peixes, pérolas e pepinos do mar. No século XVII, no período colonial, a Companhia Holandesa das Índias Orientais estabeleceu um assentamento na Ilha Karimunjawa. No início do século XX, sob o domínio holandês, Karimunjawa foi transformada em colônia penal para prisioneiros políticos e outros condenados. Atualmente é uma região turística rica em herança cultural.

As maiores elevações na Ilha Karimunjawa, a principal do arquipélago, são o Monte Bendera (506 m) e o Monte Walang (114 m). Esta ilha é constituída por rochas da Formação Karimunjawa, do Pré-Terciário, com variações de arenito quartzoso, arenito micáceo, conglomerado quartzoso, siltito quartzoso e folhelho quartzoso. Nas ilhas ao redor desta, que também fazem parte do Arquipélago Karimunjawa, são encontradas rochas da Formação Parang, que consiste em brechas vulcânicas, tufo e lava basáltica (com olivina) e andesítica. A unidade aluvial, no arquipélago, é constituída por cascalho, areia, argila, lama, fragmentos de coral e pedra-pomes que se formam ainda atualmente a partir da erosão das rochas anteriores. Este contexto, com fragmentos de coral e material quartzoso, justifica a cor branca da Praia Batu Topeng.

Referências:

Geologia do Arquipélago Karimunjawa (acesso em 2024): https://figshare.com

Geologia do Arquipélago Karimunjawa (acesso em 2024): https://www.researchgate.net

Praia Batu Topeng (acesso em 2024): https://www.indonesia-tourism.com

Parque Nacional Karimunjawa (acesso em 2024): https://balistarisland.com

Praia Wari

Localização: na costa nordeste da Ilha Biak, na Baía de Cendrawasih, na Província de Papua (parte oeste de Nova Guiné) da Indonesia, banhada pelas águas do Oceano Pacífico.


Praia Wari (Crédito: Victor MRN).

Nova Guiné (a segunda maior ilha do mundo – a primeira é a Groenlândia) resultou da fronteira convergente entre a Placa da Austrália (e sua parte deformante, a Placa Cabeça de Pássaro) e a Placa Carolina. Neste evento, foram produzidas estruturas como a Falha de Ransiki, que alcança a Baía de Cendrawasih.

No final do Cretáceo foi formada uma crosta oceânica através de rifteamento, ao norte de Nova Guiné. Do Eoceno ao Oligoceno Superior, o arco insular das Filipinas foi formado a partir de atividade vulcânica em zona de subducção. No Mioceno Inferior, eventos de subducção, envolvendo as placas do Pacífico e da Carolina, interromperam a atividade vulcânica com colisões entre o arco insular formado e o continente e, destas colisões, surgiram principalmente rochas ultramáficas serpentinizadas. 

Do Mioceno Superior ao Pleistoceno Superior, a subsidência da Ilha Biak aconteceu lenta e continuamente. Após, ela passou a se elevar com concomitante formação de rochas carbonáticas, o que continua a acontecer. Além destas rochas, são encontradas na Ilha Biak uma gama diversificada de outras rochas, com filito, quartzito, silex, tufo, grauvaca, arenito, conglomerado, basalto e gabro. Entre as rochas mais jovens, o calcário predomina inclusive contendo foraminífera planctônicos, fragmentos de corais, algas e moluscos. Esta é a origem da cor branca da areia da Praia Wari na Ilha Biak.

A superfície, majoritariamente calcária da Ilha Biak, apresenta terreno montanhoso acidentado, com grandes grutas e cavernas. Estes locais foram ocupados pelas forças japonesas durante a Segunda Guerra Mundial onde ocorreram intensos combates.

Biak, juntamente com a Ilha Numfoor (ou Noemfoor), está localizada no extremo nordeste da Baía Cendrawasih ("Aves do Paraíso" em indonésio). Nelas reside a eco-região das Florestas Tropicais Biak-Numfoor que abriga uma grande quantidade de aves e mamíferos endêmicos. Isto se deve ao fato de aquelas ilhas nunca terem se conectado ao continente. 

Referências:

Geologia de Nova Guiné (acesso em 2024): https://www.researchgate.net

Geologia de Papua (acesso em 2024): https://westpapuadiary.com 

Geologia de Papua (acesso em 2024): https://www.tandfonline.com  

Ilha Biak (acesso em 2024): https://www.oneearth.org

Praia Tingko

Localização: no município de Alcoy, na costa leste da Ilha de Cebu, nas Filipinas, banhada pelas águas do Estreito de Cebu.

Praia Tingko (Crédito: Jocana).

As Filipinas representam um arco insular interno a um complexo sistema de zonas de subducção e colisão no Pacífico Ocidental. Nesta região ativa, as placas das Filipinas, Eurasiana e Sunda são consumidas pelas zonas de subducção que, ao mesmo tempo, são delimitadas por aquelas placas.

Neste sistema, a Ilha de Cebu faz parte do Cinturão Móvel das Filipinas que compõe uma região de deformação complexa. Ali são encontrados blocos alóctones amalgamados constituídos por rochas vulcânicas e plutônicas e sedimentos derivados, bem como ofiolitos, complexos ofiolíticos e equivalentes metamorfizados.

A Ilha Cebu tem ∼196 km de comprimento e ∼32 km de largura. É sustentada por embasamento do Mesozoico constituído por rochas ultramáficas, metamórficas, plutônicas e vulcânicas sobrepostas por rochas sedimentares. O embasamento está exposto nas partes norte e central da ilha.

Pequenos blocos do Calcário Tuburano do Cretáceo inferior ocorrem isolados nas áreas altas da região central de Cebu. Esta rocha está incorporada à série vulcânica da ilha. Contém fósseis orbitolinídeos, um grupo de foraminífera bentônicos típicos de águas rasas e difundidos particularmente em plataformas carbonáticas. O Tuburano é remanescente de antiga cobertura carbonática de um guyot que se originou a partir de ilha vulcânica no Pacífico Centro-Ocidental e, mais tarde, foi incorporado a uma zona de cunha de acreção/mélange devido a processos de subducção e colisão.

Guyot: monte submarino imerso com topo aplainado que se eleva da planície abissal, muitas vezes com mais de 1.000 m de altura, que ocorre alinhado perpendicularmente a dorsais, isolados ou formando agrupamentos.
Mélange (tectônica): corpo rochoso constituído por fragmentos de rocha de vários tamanhos e tipos (ígneos, vulcânicos, sedimentares, metamórficos), caoticamente imersos em matriz fina sem estratificação sedimentar, originado em processo tectônico ao longo de zona de subducção.

O cenário da Praia Tingko, com um litoral arqueado com ∼1.600 m de extensão, é composto por coqueirais, areia branca e afloramentos do Calcário Tuburano que dá origem à cor branca da areia da praia. Um canal de 200 m de largura com águas cristalinas separa a praia de um recife de coral conhecido por diversos nomes: Mabaw, Mabad-on, Mambagi e Mambahi. Este coral desaparece na maré alta.

Referências:

Geologia das Filipinas e da Ilha Cebu (acesso em 2024): http://paleopolis.rediris.es

Ilha Cebu (acesso em 2024): https://medium.com

Praias de areia preta

Praia Saidum

Localização: na vila de Ban Klang, no distrito de Laem Ngop da província de Trat, na Tailândia, banhada pelas águas do Golfo da Tailândia.

Praia Saidum (CréditoWickanet).

Na província de Trat é encontrada a floresta de mangue preservada de Laem Makam onde há um spa de areia preta que tem a fama de fazer bem à saúde. Na região, também são encontradas algumas minas de rubis, como a Mina de Nong Bon que fica ao norte da Praia de Saidum. Nesta mineração, o aluvião contendo gemas ocorre próximo à superfície ou está enterrado sob uma sequência de depósitos de argila arenosa em profundidades máximas de 10 m. A fração pesada lavrada inclui diversos minerais contendo ferro e são utilizados métodos mecânicos com decapagem com escavadeiras e lavagem hidráulica da camada produtiva para recuperação dos rubis.

Devido ao intemperismo químico profundo e à subsequente erosão rápida que está normalmente associada a climas tropicais, os depósitos de corindo da região de Chanthaburi-Trat ocorrem exclusivamente em solo aluvial, eluvial ou residual laterítico derivado de fluxos de basalto (do Terciário ao Pleistoceno) subjacentes.

A Praia Saidum, cujo nome, em tailandês, significa "areia preta", também é conhecida como Black Sand Beach. A cor escura da areia de Saidum, que se estende por 1.500 m da costa, tem muitas razões de ser. É o resultado da mistura de limonita com restos orgânicos, tanto de vegetais quanto de animais, incluindo pássaros, caranguejos, macacos e mariscos.

Limonita: agregado mineral consistindo essencialmente de óxidos de ferro. Deriva principalmente do intemperismo de sulfeto de ferro, carbonato contendo ferro ou minerais de silicato. Em alguns locais a limonita preta contém ilvaita, considerada responsável pela sua formação e seu enriquecimento.
Ilvaíta: mineral de silicato de ferro e magnésio de cor escura, brilho lustroso e aparência vítrea. 

Referências:

Mineração (acesso em 2024): https://www.gemdat.org

Geologia de Trat (acesso em 2024): https://www.gia.edu 
 
Praia Saidum (acesso em 2024): https://www.trip.com

Limonita (acesso em 2024): https://www.researchgate.net

Praia Saidum (acesso em 2024): https://thesmartlocal.co.th 

Praia Batu Angus

Localização: na cidade de Kasawari, província de Aertembaga, no nordeste de Celebes do Norte, Indonésia, banhada pelas águas do Mar das Molucas.

Praia Batu Angus (Crédito: JLingkubi).

No região do Mar das Molucas, interagem as placas Eurasiana (Sunda), das Filipinas, Australiana, do Mar de Banda, Cabeça de Pássaro e a própria Placa do Mar das Molucas. Reflexos desta interação são os arcos vulcânicos Sangihe e Halmahera que estão em processo de colisão entre si no nordeste da Indonésia.

O Arco Vulcânico Sangihe está associado à mais antiga zona de subducção da região Filipinas-Indonésia, tendo rochas associadas com ∼25 milhões de anos. Ele é dividido em dois segmentos: 
  1. quatro ilhas vulcânicas ao norte da  província insular de Celebes e 
  2. oito vulcões no nordeste de Celebes do Norte.
Deste segundo segmento, faz parte um complexo vulcânico que inclui o Monte Tangkoko, o estratovulcão Duasudara e o recente domo de lava Batu Angus formado em 1801. As lavas deste complexo produzem andesito e secundariamente andesito basáltico, basalto, basalto picrítico e dacito.

A Praia Batu Angus está localizada a nordeste deste complexo vulcânico de Celebes do Norte e, assim, a cor escura de sua areia tem origem nas rochas vulcânicas por ele produzidas.

Referências:

Geologia do Mar das Molucas (acesso em 2024): https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com

Monte Tangkoko (acesso em 2024): https://volcano.si.edu

Praia Panarayon

Localização: no município de Bacacay da província de Albay, nas Filipinas, banhada pelas águas do Golfo Lagonoy.

Praia Panarayon (CréditoChris Montarde).

Vulcão Mayon e Praia Panarayon (CréditoNASA).

O vulcanismo das Filipinas está associado à subducção da Placa das Filipinas ao longo da Fossa das Filipinas. Paralelamente e próximas a esta fossa, são encontradas zonas estreitas e alongadas de vulcões, onde se insere a cadeia vulcânica do Arco Bicol. O Vulcão Mayon é um dos mais jovens deste arco vulcânico.

O Vulcão Mayon é o mais ativo das Filipinas, com registros de erupções desde o ano 1616. Suas erupções ocorrem predominantemente do conduto central e variam de estrombolianas a plinianas. Sua atividade começa com lavas basálticas seguidas por longos períodos de fluxos de lavas andesíticas. Correntes de densidade piroclástica e fluxos de lama comumente varreram muitas das ∼40 ravinas irradiadas do cume. Frequentemente suas erupções danificam áreas de planície povoadas. Esta é a origem da areia preta da Praia Panarayon.

Referências:

Vulcanismo das Filipinas (acesso em 2024): https://www.researchgate.net

Vulcão Mayon (acesso em 2024): https://volcano.si.edu

Praias de areia rosa

Praia Rosa da Ilha Sila

Localização: na costa leste da Ilha Sila, no município de San Vicente da província Samar do Norte, na região das Visayas Orientais das Filipinas, banhada pelas águas do Mar de Samar.

Praia Rosa da Ilha Sila (Crédito: Phil BeachHolidays).

A Praia Rosa da Ilha Sila possui areia fina contendo fragmentos de foraminífera que são trazidos para a costa durante a temporada de "habagat", as monções do sudoeste. Estes fragmentos vermelhos se encontram pulverizados e são misturados com grãos brancos de areia, resultando na cor rosada. É uma areia tão apreciada pelos turistas que foi preciso colocar um aviso que informa que é permitido coletar conchas, mas é proibido levar a areia rosa para casa. Sua cor vem dos foraminifera e eles vêm da Bacia Samar.

A Bacia Samar, uma depressão ampla e rasa, é limitada, a leste, pela Fossa das Filipinas e, a oeste, pela Falha das Filipinas, que a separa da Bacia Visayan. A proximidade destas duas bacias (Samar e Visayan) foi provavelmente causada por colisões e acréscimos relacionados a processos de subducção. Por outro lado, a proximidade da Fossa das Filipinas com a Bacia Samar faz com que os movimentos de soerguimento e subsidência da região se manifestem claramente na estratigrafia da Ilha Samar.

Nesta ilha, rochas do Bloco Samar são encontradas em Samar do Norte, algumas delas contendo assembleias de foraminífera do Cretáceo Superior bem preservadas. Um exemplo é o Calcário San José, um calcário depositado em águas profundas com consideráveis quantidades de foraminífera planctônicos. A energia do Mar de Samar e das monções se encarregaram de fazer chegar os sedimentos da Bacia Samar à areia da Praia Rosa da Ilha Sila.

Referências:

Praia Rosa da Ilha Sila (acesso em 2024): https://www.pressreader.com

Geologia da Bacia Samar (acesso em 2024): https://www.researchgate.net

Geologia da Bacia Samar (acesso em 2024): http://mmtk.ginras.ru

Praia Rosa da Ilha Grande Santa Cruz

Localização: na costa norte da Ilha Grande Santa Cruz, no município de Zamboanga, em Mindanao, nas Filipinas, banhada pelas águas do Mar de Sulu.

Exemplares de Tubipora musica e a areia da Praia Rosa da Ilha Grande Santa Cruz (CréditoWowzamboangacity).

Exemplares de Tubipora musica ou Organ pipe coral ("Coral de tubo de órgão") coletados na Ilha Grande Santa Cruz (CréditoWowzamboangacity).

Tubipora musica: antozoário da família dos Tubiporídeos que vive associado a recifes em profundidades de água rasa, entre 3 e 15 m, em ambiente tropical. É encontrado nos oceanos Índico e Pacífico ocidental. As colônias formam montes de até 50 cm de diâmetro que podem dominar grandes áreas de recife. São compostas por tubos finos (os "tubos de órgãos"), com 0,2 cm de diâmetro, cimentados por placas horizontais em intervalos de vários centímetros. Apresentam esqueleto em tons de vermelho.

A Península de Zamboanga compreende a massa de terra mais a oeste de Mindanao. Do prolongamento insular da porção sudeste desta península, fazem parte as ilhas Grande e Pequena Santa Cruz. Estas porções de terra constituem a manifestação acima do nível do mar da Dorsal Sulu, que separa as bacias dos mares de Sulu e de Celebes.

Esta região tem como embasamento rochas graníticas e metamórficas do Pré-Terciário. Acima, ocorrem espessas formações compostas por rochas clásticas e carbonáticas do Mioceno. Também são encontradas rochas calcárias do Eoceno e do Plioceno e rochas vulcânicas do Plioceno-Pleistoceno. 

Neste cenário geológico, a Praia Rosa tem a cor de sua areia devido a fragmentos triturados de foraminífera e, principalmente, de Tubipora musica, que são encontrados nos recifes de coral localizados a poucos metros da costa daquela ilha.

A Ilha Grande de Santa Cruz e a Ilha Pequena Santa Cruz constituem uma área conhecida como Paisagens Protegidas Terrestre e Marinha das Ilhas Grande e Pequena Santa Cruz. É uma área de 1.877 ha proclamada no ano 2000 com o objetivo de proteger habitats de vida selvagem, incluindo os recifes de coral.

Referências:

Península de Zamboanga (acesso em 2024): https://core.ac.uk

Península de Zamboanga (acesso em 2024): https://www.researchgate.net

Ilha Grande Santa Cruz (acesso em 2024): https://www.zamboanga.com

Ilha Grande Santa Cruz (acesso em 2024): https://titastravels.wordpress.com

Ilha Grande Santa Cruz (acesso em 2024): https://steemit.com 

Áreas de proteção da vida selvagem nas Filipinas (acesso em 2024): https://pdf.usaid.gov

Um comentário:

Anônimo disse...

Um texto muito interessante e informativo .

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