Por Marco Gonzalez
O Mosteiro Ostrog em calcário da Montanha Ostroska Greda, produzida pelas orogenias Alpina e Varisca nos Alpes do Sul, em Montenegro (Foto: Dragan Jankovic Faza)
Nesta Parte V, são apresentados e discutidos alguns exemplos de mosteiros elevados na Europa, construídos nos domínios dos Alpes e da Cordilheira Costeira Catalã, e na África, no domínio do Planalto Etíope.
Mosteiros elevados no domínio dos Alpes
Alpes
Os Alpes são constituídos por:
- um Cinturão Colisional de Convergência Europeia, representado por espessa cunha colisional do Cretáceo e do Neógeno, com unidades continentais e oceânicas menores deslocadas radialmente em direção ao foredeep molássico e ao foreland europeu, e
- uma Faixa Antitética Pós-Colisional de Convergência Sul, consistindo em em cinturão menor, não metamórfico, livre de ofiolitos e mais jovem (do Neógeno), deslocado para o sul e desenvolvido no interior alpino associado à microplaca Adriática, longe da sutura oceânica.
Estruturas tectono-deposicionais dos Alpes e a localização dos mosteiros elevados selecionados neste domínio (Adaptado de: NASA / virtualexplorer / Sémhur / PM/P).
Cinturão Colisional de Convergência Europeia
Este cinturão é constituído por Sistemas Austroalpinos Oriental e Ocidental, Domínio Penínico com nappes ofiolíticos, Domínio Helvético-Dauphinois, Cinturão de Jura e Foredeep de Molassa.
Foredeep (ou antefossa): Profunda depressão alongada, bordejando um arco de ilha ou um cinturão orogênico. |
O Sistema Austroalpino Oriental consiste em uma espessa pilha de cobertura e nappes do embasamento localizados no topo do Cinturão de Convergência Europeia. Pode ser subdividido em dois ou três grupos principais de nappes muitas vezes com diferentes pressupostos e resultados. No topo desta pilha de nappes são encontrados os Alpes Calcários do Norte e alguns nappes do embasamento do Paleozoico.
O Sistema Austroalpino Ocidental é constituído por unidades continentais que se sobrepõem ou são intercaladas tectonicamente com nappes ofiolíticos. É estruturalmente complexo tendo sido metamorfizado e deformado de forma dúctil do Cretáceo Superior ao Oligoceno Inferior.
No Domínio Penínico são encontrados nappes continentais e ofiolíticos no arco alpino ocidental e nas janelas tectônicas Ossola-Tessin, Engadine, Tauern e Rechnitz, e também no Klippen pré-alpino.
O Domínio Helvético-Dauphinois apresenta maciços cristalinos proeminentes, coberturas sedimentares Pós-Varisca discordantes ou destacadas e pilha de nappes de cobertura amplamente destacados que derivaram da margem continental europeia.
O Cinturão de Jura é um cinturão arqueado com rochas sedimentares do Mesozoico originadas do embasamento do Foreland Europeu ao longo de horizontes evaporíticos do Triássico Médio-Superior. São rochas que foram severamente dobradas e falhadas durante a propagação externa do final do Mioceno e do início do Plioceno da orogenia Neo-Alpina.
O Foredeep de Molassa consiste em uma cunha sedimentar espessada para o sul, parcialmente enterrada sob a pilha frontal de nappes alpina. Desenvolveu-se desde o Oligoceno até o Mioceno Superior, quando partes do embasamento e das unidades de cobertura foram destacadas da placa litosférica inferior e progressivamente acrescidas à frente da cunha colisional Austroalpina-Penínica.
Faixa Antitética Pós-Colisional de Convergência Sul
Esta faixa é constituída por Alpes do Sul, Alpes Dinário e Cinturão Apenino.
Antitético: diz-se do que apresenta contraste ou oposição. Por exemplo, falhas antitéticas são falhas secundárias que têm sentido de deslocamento oposto ao de uma falha ou zona de deformação principal, enquanto falhas sintéticas têm o mesmo sentido da estrutura principal. No caso dos alpes, a característica antitética se deve à sua assimetria litosférica, ocorrendo o contraste da "convergência europeia" do "Cinturão Colisional" com "convergência sul" da "Faixa Antitética". |
Os Alpes do Sul constituem exemplo típico de margem continental passiva deformada bem exposta em cordilheiras, incluindo a famosa cadeia montanhosa das Dolomitas, e contendo fósseis de plantas e peixes do Eoceno em Bolca, icno-sítio de dinossauros no Lavini di Marco e fósseis do Paleozoico. Até o Oligoceno, este domínio do Adriático era o mais interior dos Alpes, sendo suavemente deformado, retrabalhado apenas em sua borda oriental pelo cinturão Dinário do Paleógeno de convergência sudoeste. Sua frente foi enterrada principalmente sob os depósitos aluviais da planície do Pó e selada por depósitos do Plioceno Superior ou do Quaternário. Ao norte, os Alpes do Sul são delimitados pelo sistema de falhas Peri-Adriáticas.
Os Alpes Dinários (ou Alpes Dináricos) têm seu nome originado da Montanha Dinara. Constituem-se de diversas cadeias montanhosas desde as bordas do sul da porção oriental dos Alpes, estendendo-se pelo lado oeste da Península Balcânica, até encontrar as porções mais ocidentais das antigas Montanhas Rhodopes e alcançar a Cordilheira Pindus. Desenvolvidos durante o Terciário, estas montanhas formam uma unidade tectônica unida com os Alpes Calcários mais ao sul (Alpes Julianos na Eslovênia e Itália) e os sistemas montanhosos Šara-Pindus (na Albânia, Macedônia, Kosovo e Grécia).
O Cinturão Apenino é afetado pelo deslocamento para o norte da microplaca Adriática devido à convergência entre as placas da África e da Eurásia. Este deslocamento, no lado oeste da Adriática, provoca soerguimento do setor externo dos Apeninos e a separação entre este setor e o setor interno (Apeninos Tirrenos). Tal separação foi acomodada com uma série de depressões ao longo da parte axial do cinturão. Também ocorre um significativo encurtamento dos Apeninos desde o Pleistoceno Médio, juntamente com um forte soerguimento de todo ele.
Estruturas deposicionais
O Foreland Europeu foi afetado durante os estágios orogênicos tardios, com a indentação para oeste-noroeste da microplaca Adriática, o que causou também o dobramento das montanhas arqueadas do Cinturão de Jura. O Foreland Europeu mergulha uniformemente para o sul sob uma pilha plana de nappes alpinos e sobe em direção à sua posição mais interna.
Indentação tectônica: geralmente associada a processos orogenênicos onde sistemas de falhas paralelas e conjugadas transcorrentes interagem produzindo segmentações de blocos litosféricos. |
O Foreland Padane-Adriático evoluiu a partir do Neógeno, quando o cinturão de dobra e cavalgamento dos Alpes do Sul se desenvolveu e se propagou progressivamente, reativando falhas de rifting.
A Bacia Panoniana tem, na sua margem ocidental, o Sistema Austroalpino Oriental e os Alpes do Sul se ramificando, com o surgimento dos Alpes Dinários a sudeste e dos Cárpatos ocidentais a nordeste. O alargamento do domínio alpino no setor Panoniano resultou principalmente da formação desta bacia extensional no Neogeno. Ela se sobrepõe aos Alpes orientais circundantes, aos Cárpatos e aos Alpes Dinários. A complexidade da origem da Bacia Panoniana é sugerida pela configuração atual do complexo de bacias sobrepostas e pelas estruturas subjacentes de estilo e idades muito diferentes no sistema Bacia Panoniana-Alpes-Cárpatos-Alpes Dinários.
Referências:
Alpes Dinários (acesso em 2023): www.dinarskogorje.com
Apeninos (acesso em 2023): www.researchgate.net
Foreland Europeu (acesso em 2023): geomorphology.sese.asu.edu
Bacia Panoniana (acesso em 2023): www.researchgate.net
Mosteiro de Ostrog
Construção: no ano de 1665.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Sérvio.
Local: encravado na face de penhasco da Montanha Ostroska Greda, acima do Vale Zeta, em Montenegro, nas proximidades de Nikšić, nos Bálcãs.
Altitude: 830 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~50 m acima da região menos íngreme próxima, devido à tectônica das orogenias Alpina e Varisca e à erosão em cenário cárstico.
Litologia: Calcário provavelmente do Devoniano (359 milhões a 419 milhões de anos)
A parte superior (elevada) do Mosteiro de Ostrog (Foto: Alexey Komarov).
A parte superior deste mosteiro está localizada no calcário da Montanha Ostroska Greda, que faz parte da cordilheira de mesmo nome, com altitude máxima de 850 m. A região foi soerguida e rebaixada por numerosas fases das orogenias Alpina e Varisca nos Alpes do Sul. Em alguns locais, como a Montanha Ostroska Greda, calcários e dolomitos constituem os mais altos maciços montanhosos de Montenegro. Dois terços do território deste país é constituído por calcários e dolomitos dos Alpes Dinários, tendo o clima favorecido o desenvolvimento de carstificação. O Vale Zeta está situado na chamada Zona Alto-Karst, com características proeminentes de erosão fluvial, glacial, lacustre e marinha.
A parte superior do Mosteiro de Ostrog foi construída no interior de duas cavernas e, devido a este local ser pouco acessível, sua construção é conhecida como "Milagre de Sv. Vasilije" ("Milagre de São Basílio") porque ninguém entende como foi possível construí-lo naquela localização.
No chamado Ostrog Superior (Gornji manastir ou Caverna Superior), há uma igreja que abriga relíquias de São Basílio de Ostrog, que foi padroeiro e curador do mosteiro na segunda metade do século XVII. No topo do mosteiro há outra capela em forma de caverna com afrescos desbotados datados de 1667. O mosteiro foi destruído por um incêndio por volta de 1920, mas foi totalmente restaurado.
Referências:
Mosteiro Sacra di San Michele
Construção: entre os anos 983 e 987.
Religião: Cristianismo Católico Apostólico Beneditino e, desde 1827, Rosminianismo.
Local: no topo do Monte Pirchiriano, na entrada do Vale de Susa, entre os Alpes Cócios e a planíce de Turim, na Itália.
Altitude: 962 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~420 m em relação à planície de Turim, devido à tectônica dos Alpes Cócios e à erosão.
Litologia: calcoxistos do Cretáceo (66 milhões a 145 milhões de anos) e prasinito do Mesozoico (66 milhões a 251 milhões de anos).
Na região do Vale Susa, o Monte Pirchiriano, onde este mosteiro está localizado, é um esporão rochoso elevado pela orogenia Alpina e moldado por glaciações. Faz parte dos Alpes Cócios (ou Cottian), no sudoeste do Domínio Penínico, e sendo resistente ao intemperismo, Pirchiriano se revelou excelente ponto de ancoragem para a fundação de Sacra de San Michele.
Pertencente à porção média-elevada do Domínio Penínico, a região do Vale Susa possui ocorrências de serpentinitos e peridotitos, que representam o produto metamórfico de partes originais do manto superior, incluindo ofiolitos, que derivam da transformação da crosta oceânica, calcoxistos, que são depósitos originais de fossa oceânica, e gnaisses e micaxistos, que representam as litologias típicas da crosta continental.
A elevação da cadeia alpina trouxe o metamorfismo em calcoxistos e prasinitos para formar o Monte Pirchiriano e muitos outros picos ao seu redor. Os calcoxistos, cinza-avermelhados, formados no fundo do oceano pré-alpino, contém blocos com micas alternados com camadas calcárias. Sob os calcoxistos, os prasinitos, verdes, provenientes de lavas basálticas da cordilheira oceânica, possuem pontos milimétricos de albita branca imersa em uma matriz cristalina de clorita, anfibólio e epidoto.
Os prédios do mosteiro, construídos com pedras esculpidas por pedreiros na Idade Média, revelam algumas particularidades geológicas. É possível reconhecer a estratigrafia do que foi outrora o Oceano Piemonte-Ligúria, agora posicionada de forma invertida. Na base, estão presentes os calcoxistos. No topo, sendo facilmente trabalhados em esculturas, os parsinitos foram usados para construir, por exemplo, a torre da abadia.
A geologia está presente também no caminho que se percorre para se chegar ao mosteiro. Passa-se por locais com indícios de erosão glacial. Além disto, não muito longe do mosteiro, encontra-se, é claro, a pedreira original das pedras verdes, os prasinitos. O cenário de Sacra di San Michele inspirou o escritor italiano Umberto Eco a escrever "O nome da Rosa". Neste mosteiro, é possível encontrar:
- a estátua de São Miguel, com 5,2 m de altura,
- a "Escadaria dos Mortos", esculpida na rocha, onde eram guardados (até 1930) alguns esqueletos de monges que morreram em invasões do mosteiro,
- uma biblioteca de 1836, com mais de 10.000 volumes, e
- a torre da abadia, com cerca de 20 m de altura.
Referências:
Mosteiro Madonna Della Corona
Construção: no ano de 1530.
Religião: Cristianismo Apostólico Romano.
Local: encravado na face de penhasco do Monte Baldo, na Itália
Altitude: 610 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 300 m acima da região menos íngreme próxima, devido à tectônica dos Alpes Venezianos e à erosão causada pela água e pelo gelo.
Litologia: calcário e dolomito do Paleógeno (23 milhões a 66 milhões de anos)
O Monte Baldo ("Monte Bravo"), onde está localizado o Mosteiro Madonna Della Corona ("Senhora da Coroa"), constitui na verdade uma cordilheira com picos que se elevam até 2.218 m de altitude. Está localizado nas províncias italianas de Trentino e Verona, na porção ocidental dos Alpes Venezianos (Alpes do Sul na Itália) do Paleógeno. Aninha-se entre o Vale d'Adige, a leste, e o Lago Garda, a oeste.
Nesta região ocorrem dobras e sobreposições associadas a compressão Giudicarie (representada por importante falha dos Alpes Venezianos) do Mioceno Superior. O Monte Baldo é constituído por rochas sedimentares, ao contrário do que acontece com grande parte dos Alpes. Suas rochas, principalmente calcário e dolomito, ocorrem em zona cárstica, sendo afetadas pela erosão produzida pela água e pelo gelo.
Uma lenda local conta que alguns habitantes do Vale d'Adige avistaram uma luz no penhasco da Montanha Corona (ou Monte Baldo). Chegando até ela, encontraram uma estátua semelhante à Pietá de Michelangelo. Levaram a estátua para o vale e tiveram que repetir esta tarefa todos os dias porque, de algum modo, a estátua encontrava o caminho de volta ao penhasco. A solução foi construir naquele local elevado um mosteiro.
Documentos da Idade Média registram que alguns eremitas começaram a viver na região do mosteiro por volta do ano 1000, acessível apenas por um caminho estreito e perigoso. A escultura tipo Pietà, aquela da lenda, na verdade foi um ex-voto, oferecido em 1432, pelo nobre Ludovico di Castelbarco. O material da estátua é da região de Verona e a forma (como a Pietá) estava em voga na região dos Alpes naquele período. O mosteiro começou a ser construído em 1530 e foi ampliado ao longo do século XIX, sendo restaurado em 1970.
Ex-voto: imagem, quadro ou objeto, em madeira ou em cera, que se coloca em capela ou igreja, para comemorar um voto ou uma graça alcançada. |
Referências:
Mosteiros elevados no domínio da Cordilheira Costeira Catalã
Pirineus
A Cordilheira Costeira Catalã está intimamente ligada aos eventos da cadeia alpina dos Pirineus, principalmente através da Bacia do Ebro. Os Pirineus constituem um orógeno colisional que foi formado pela convergência entre as Placas Ibérica e Europeia do Cretáceo Superior (90 milhões de anos) ao início do Mioceno (20 milhões de anos). Este evento atingiu sua maior intensidade do Eoceno ao Oligoceno (50-20 milhões de anos).
Estruturas do sul dos Pirineus e da Cordilheira Costeira Catalã e a localização dos mosteiros elevados selecionados neste domínio (Adaptado de: NASA / H. Mansurbeg et al / Z. Erdős et al).
A região é dominada pela tectônica de inversão devido ao cavalgamento ocorrido ao longo de estruturas extensionais originalmente formadas do Triássico para o Cretáceo. Este evento está associado à rotação anti-horária da placa Ibérica em relação à da Europa, com consequente abertura do Golfo da Biscaia.
Tectônica de Inversão: ocorre quando falhas normais fornecem um plano de fraqueza subsequentemente reativado como uma falha reversa durante a contração. |
O orógeno assimétrico dos Pirineus pode ser subdividido na sua parte sul em:
- Zona Axial, compreendendo uma pilha convergente para o sul formada por camadas de cavalgamento crustais superiores; e
- Pirineus do Sul, representados por um cinturão de dobras e cavalgamento com rochas sedimentares do Mesozoico e do Cenozoico.
Bacia do Ebro
A Bacia do Ebro, ao sul dos Pirineus do Sul, foi preenchida por conglomerados continentais orogênicos tardios do Eoceno Superior ao Oligoceno. Esta bacia de foreland foi produzida pelo movimento da crosta ibérica contra a zona dos Pirineus do Sul, com cavalgamento para o sul no início do Eoceno. No Oligoceno Médio, formaram-se as serras externas na fronteira noroeste da Bacia de Ebro. No Oligoceno Superior, esta bacia era um local de subsidência de foreland pressionada pelas zonas externas dos Pirineus do Sul, ao norte, e pela faixa ibérica e pela Cordilheira Catalã, ao sul. Estas regiões elevadas forneciam água e sedimentos à Bacia de Ebro.
Cordilheira Costeira Catalã
Fazendo parte da Cadeia Ibérica e formando uma barreira montanhosa que fecha a Bacia do Ebro, a Cordilheira Costeira Catalã é uma estrutura alpina intraplaca com deformação moderada, pouca xistosidade alpina e sem metamorfismo (exceto localizado). Seguindo direção nordeste-sudoeste, vai desde a Baía das Rosas, nos Pireneus, até o delta do Rio Ebro, onde encontra a Cadeia Ibérica. A formação da Cordilheira Costeira Catalã se deve à sobreposição de processos compressivos durante o Paleógeno e distensivos no Mioceno.
Com ~250 km de comprimento e ~40 km de largura, estende-se com dois alinhamentos montanhosos (separados por várias fossas tectônicas) paralelos à costa do Mar dos Baleares (pertencente ao Mediterrâneo). Um destes alinhamentos é a Cadeia Litoral, de baixa altitude, o outro é a Cadeia Pré-Litoral, mais elevada e mais próxima à Bacia do Ebro. Em sua metade sul, formados por conglomerados resistentes à erosão, ocorrem alguns maciços e, entre eles, encontram-se Montserrat e Montsant.
Referências:
Cordilheira Costeira Catalã (acesso em 2023): www.ign.es
Mosteiro Sant Miquel del Fai
Construção: no século XI.
Religião: Cristianismo Católico Apostólico Beneditino.
Local: em ressalto da escarpa do lado oeste dos Cingles de Bertí, na Área Natural de Sant Miquel del Fai, acima do vale do Tenes, no município de Sant Quirze Safaja, na Catalunha, Espanha.
Altitude: 450 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 300 m acima da região menos íngreme próxima, devido à tectônica da Cordilheira Costeira Catalã e a erosões principalmente fluvial e pluvial.
Litologia: arenitos com cimento calcário, microconglomerados e margas do Paleoceno e do Eoceno Inferior (34 milhões a 66 milhões de anos), além de travertinos do Quaternário (mais jovens que 2,6 milhões de anos).
O Mosteiro Sant Miquel del Fai e, à esquerda do prédio, uma piscina (originalmente natural) no caminho das águas do Rio Rossinyol (Foto: SBA73).
Os Cingles de Bertí ("Falésias de Bertí"), em cuja escarpa o Mosteiro Sant Miquel del Fai foi construído, fazem parte da Cordilheira Costeira Catalã. Marcam a fronteira entre a Cadeia Pré-Litoral e a Bacia do Ebro. São falésias constituídas por rochas sedimentares do Paleoceno e do Eoceno Inferior, com ocorrências de travertinos do Quaternário ainda em processo de formação.
Na parte superior destas falésias, são encontrados arenitos com cimento calcário com ou sem níveis de microconglomerados, além de arenitos bioclásticos com cimento calcário e margas. São rochas cinzentas detríticas e carbonáticas de origem marinha. A parte inferior é composta por conglomerados, arenitos e folhelhos, rochas vermelhas de origem continental. Conjuntos de diaclases verticais afetam todas estas rochas, produzindo importante controle estrutural do relevo e condicionando a circulação preferencial das águas superficiais e subterrâneas. Na região são encontradas feições associadas à tectônica de cavalgamento.
Nesta região, a água do Rio Tenes e, principalmente, de seu mais importante afluente, o Rio Rossinyol, com a ajuda da chuva e da neve derretida, esculpiram a rocha, construindo cavernas, pequenas piscinas naturais e cachoeiras. Nascendo no planalto de Moianès, estas águas, ao atingirem a região do mosteiro, formam várias quedas, num desnível total de ~300 metros. Seguem abrindo caminho entre as falésias do Vale do Fai em busca da planície de Vallesana.
A história do Mosteiro Sant Miquel del Fai inicia no ano de 997, quando os Condes de Barcelona concederam as terras da igreja de Sant Miquel e arredores ao fidalgo Gombau de Besora para que ele fundasse um mosteiro.
Referências:
Construção: no ano de 1025.
Religião: Cristianismo Católico Apostólico Beneditino.
Local: em ressalto de penhasco da Montanha de Montserrat, no município de El Bruc (em catalão) ou El Bruch (em castelhano), na Catalunha, Espanha.
Altitude: 720 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 300 m acima de região menos íngreme próxima, devido principalmente a erosões diferenciais eólica e pluvial.
Litologia: conglomerados, argilitos e arenitos do Eoceno (34 milhões a 56 milhões de anos).
O Mosteiro e a Montanha de Montserrat (Foto: Mikipons).
O Mosteiro de Montserrat está assentado na montanha (ou maciço) de mesmo nome, que deriva de "Mons Serratus" ("Monte Serrátil", ou seja, em forma de serra). Este maciço faz parte da Cordilheira Costeira Catalã.
O conglomerados do Eoceno da Montanha de Montserrat tiveram seus sedimentos depositados em leque aluvial na bacia do Ebro, originados da erosão dos Pireneus do Sul. Nesta região foram depositados centenas de metros de materiais grosseiros. O conglomerado atual é constituído por seixos de diferentes tamanhos e litologias, unidos por interpenetração dos fragmentos e por cimento calcário. Estes sedimentos grosseiros gradacionam para sedimentos finos (argilitos, margas e camadas de arenito) em direção ao centro da bacia. Fósseis de várias espécies, como foraminíferos, moluscos e briozoários, podem ser vistos nestas rochas de origem marinha.
A atividade tectônica e as erosões diferenciais eólica e pluvial são responsáveis pela forma da Montanha de Montserrat. Resistiram as rochas duras (conglomerados), sendo erodidas as mais macias (argilitos e arenitos). As agulhas e canais que se formaram resultaram da ação detalhada da água que se infiltrou em rede de diaclases.
O Mosteiro de Montserrat foi fundado pelo Abade Oliba em um local da Montanha onde uma imagem da Virgem de Montserrat foi encontra em uma gruta. Há evidências que no ano de 888 já havia na região uma capela. No século XII, foi construída uma igreja românica. Em 1500, Montserrat teve a presença de Inácio de Loyola como peregrino.
Referências:
Mosteiros elevados no domínio do Planalto Etíope
Planalto Etíope
Considerado a "Muralha da África", o Planalto Etíope é uma das maiores regiões soerguidas da Terra. Foi formado durante tectônica extensional associada à pluma do manto Afar e à abertura do Sistema de Rifte da África Oriental. Estes eventos estão representados na Etiópia pela Depressão de Afar, nas proximidades do Mar Vermelho e do Golfo de Aden, e pelo Rifte Etíope Principal, que se estende mais para o interior da Etiópia.
Pluma do manto (ou pluma mantélica): diápiro térmico cilíndrico estreito de material de baixa densidade que se origina nas profundezas do manto, seja no limite manto-núcleo ou na descontinuidade de 670 km na base do manto superior. |
121212Geologia simplificada da Etiópia e localização dos mosteiros elevados selecionados neste domínio (Adaptado de: NASA / E. Ismail e M. Abdelsalam).
O Planalto Etíope é sustentado pelo embasamento do Pré-Cambriano e por rochas sedimentares do Mesozoico. Acima, uma cobertura de 1 a 3 km de espessura é constituída por rochas vulcânicas do Oligoceno ao Quaternário. Ao longo do tempo, a erosão fluvial agiu profundamente formando desfiladeiros que, em alguns locais, podem chegar a 1,5 km de profundidade. As maiores estruturas da região, no entanto, são a Depressão de Afar e o Rifte Etíope Principal, que dividem o Planalto Etíope em duas metades.
As Terras Altas da Etiópia, fazendo parte do Planalto Etíope, cobrem grande parte do norte e do oeste da Etiópia. Apresentam altitudes de 1.500 m a 4.900 m e escarpa que desce ~3.000 m em direção à Depressão de Afar, onde a altitude é de ~100 m. Este desnível acontece por causa de uma série de falhas e blocos de falhas norte-sul fortemente erodidos e inclinados em direção à depressão. Ao longo da parte inferior da escarpa há uma série de grabens longos e estreitos produzidos na zona de falha normal localizada na margem ocidental da Depressão de Afar.
Graben: estrutura de falhas gravitacionais com bloco central abatido. Quando de dimensões maiores, corresponde a um rifte. |
As mesas (chamadas "ambas" no idioma da Etiópia) são formas de relevo comuns nas Terras Altas da Etiópia. A maioria das rochas sedimentares do Paleozoico e do Mesozoico que compõe estas mesas são principalmente representadas pelos arenitos Enticho (Ordoviciano), Adigrat (Permiano ao Jurássico) e Amba Aradam (Cretáceo), com estratos sub-horizontalizados. Eles geralmente são capeados por fluxos basálticos do Terciário. Na região central das Terras Altas da Etiópia, estas rochas basálticas são representadas por dois grupos, o Grupo Ashangi, composto quase inteiramente por basaltos, e o Grupo Magdala, que também inclui alguns riolitos.
O Planalto da Somália é a continuação do Planalto Etíope no lado sul do Rifte Etíope Principal e se estende do oeste da Somália até o sudeste da Etiópia. A escarpa com o rifte é semelhante à sua contraparte ocidental com blocos de falha inclinados. No entanto, em vez de bacias marginais ao longo do fundo da escarpa, ocorrem centros vulcânicos isolados.
Depressão de Afar
A Depressão de Afar é uma área de planícies segmentada por blocos de falha e pontilhada por vulcões tipo escudo. Ao norte, o rifte do sul do Mar Vermelho e, a leste, o rifte do Golfo de Aden se estendem até a Depressão de Afar. A sudoeste, ela segue até o Rifte Etíope Principal.
Vulcão tipo escudo: vulcão caracterizado pela efusão de material magmático basáltico muito fluido que origina uma estrutura de derrames de lava a partir da cratera em cone amplo com baixos ângulos topográficos (2º a 8º). |
Com a diminuição da resistência da litosfera devido ao aumento das taxas de deformação e magnetismo, a tendência estrutural geral ao longo da Depressão Afar faz com que falhas fronteiriças maiores e mais antigas sejam abandonadas. Elas são substituídas por falhas ativas concentradas ao longo de zonas estreitas no centro do sistema de rifte.
Rifte Etíope Principal
Este rifte é uma continuação do Rifte da África Oriental que resultou do afastamento entre as placas da Núbia e da Somália há ~25 milhões de anos. O Rifte Etíope Principal é uma propagação deste evento para o nordeste através de estruturas mais antigas do Mar Vermelho e do Golfo de Aden, formando a chamada Junção Tripla de Afar. A porção sul do Rifte Etíope Principal teve início há ~18 milhões de anos e a porção norte, há ~11 milhões de anos.
O Rifte Etíope Principal é um vale central com ~84 km de largura que se desenvolve a uma taxa extensional de ~2,5 mm/ano. É delimitado por grandes e descontínuas falhas normais do Mioceno e no seu interior é encontrada uma série de bacias rifte do Quaternário escalonadas, tipicamente consistindo segmentos magmáticos falhados.
Bacia rifte: depressão crustal alongada delimitada em um ou ambos os lados por falhas normais. Sistemas de rifte constituem coleções de bacias rifte escalonadas. |
Referências:
Ambas da Etiópia (acesso em 2023): www.africamuseum.be
Geologia da região de Tigray (acesso em 2023): www.researchgate.net2
Arenitos da Etiópia (acesso em 2023): tuprints.ulb.tu-darmstadt.de
Mosteiro Dabba Selama
Construção: no século IV.
Religião: Cristianismo Ortodoxo etíope.
Local: no topo de mesa em Doug'a Tembien, na região de Tigray, no norte da Etiópia.
Altitude: 1.880 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 90 m acima da região menos íngreme próxima, devido à tectônica associada ao Rifte Etíope Princial e à erosão diferencial.
Litologia: arenito Adigrat do Triássico Superior (~200 milhões de anos) ao Jurássico Médio a Superior (~160 milhões de anos) capeado por rocha basáltica do Terciário (2,5 milhões a 66 milhões de anos).
Parte do Mosteiro Dabba Selama no canto superior esquerdo do topo da mesa e um cemitério na parte central também no topo (Foto: ).
Este mosteiro foi construído no topo de uma mesa constituída pelo Arenito Adigrat capeado por camada de rocha basáltica. O arenito apresenta uma ampla variedade de tons avermelhados e possui grãos grossos a finos, com lentes de conglomerados localizadas, além de siltitos e argilitos. O ambiente de deposição dos sedimentos formadores destas rochas é complexo, sendo interpretado como estuarino, lacustre-deltáico e continental. As estruturas sedimentares também sugerem depósitos de maré e de tempestades. São encontrados fósseis de bivalves, foraminíferos e repteis marinhos. O Arenito Adigrat ocorre nas Terras Altas da Etiópia, abrangendo a região de Tigray, a oeste do Rifte Etíope Principal e da Depressão de Afar.
Além do Mosteiro Dabba Selama, no topo da mesa também foi construída uma igreja na forma de uma pequena basílica com pilares arredondados. Acredita-se que este foi o primeiro mosteiro elevado construído na Etiópia. Teria sido estabelecido por São Frumentius, conhecido como "Selama, Kesaté Birhan" ("Pai da Paz, Revelador da Luz").
Referências:
Arenitos da Etiópia (acesso em 2023): tuprints.ulb.tu-darmstadt.de
Mosteiro Abuna Yemata
Construção: no século V.
Religião: Cristianismo Ortodoxo etíope.
Local: em pináculo das Montanhas Gheralota, na região de Tigray, na Etiópia.
Altitude: 2.120 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~200 m acima de região menos íngreme próxima, devido à tectônica associada ao Rifte Etíope Princial e à erosão diferencial.
Litologia: arenitos Enticho do Ordoviciano (444 milhões a 485 milhões de anos) e Adigrat do Permiano ao Jurássico (145 milhões a 249 milhões de anos).
A entrada (detalhe no canto superior direito da imagem) do Mosteiro Abune Yemanta e as rochas das Montanhas Gheralota (Foto: Evan Williams).
O pináculo de quase 1.000 m de altura onde este mosteiro foi construído, nas Montanhas Gheralota, é formado pelos arenitos Enticho e Adigrat. Estes arenitos são considerados os últimos remanescentes de um planalto erodido que outrora cobria o embasamento do Pré-Cambriano. O Mosteiro Abuna Yemata (ou Abune Yemanta) é acessível somente sendo escalado o pináculo até ser alcançada a caverna onde ele juntamente com uma igreja foram construídos e esculpidos. É considerado o mosteiro com acesso mais difícil e perigoso do mundo.
O teto da caverna é coberto por dois afrescos com padrões intrincados, imagens religiosas e os rostos de nove dos doze apóstolos de Cristo. A igreja guarda uma Bíblia ortodoxa com folhas coloridas feitas de pele de cabra. O local é considerado tão sagrado que alguns pais etíopes arriscam levar seus bebês até lá para batizá-los.
No ano 451, os cristãos que fugiram do Império Bizantino para escapar da acusação de anti-monofisismo se estabeleceram no Egito, na Arábia e, os mais famosos, na Etiópia. Para este país vieram os chamados "nove santos": Aregawi, Pantelewon, Gerima, Aftse, Guba, Alef, Yemata, Liqanos e Sehma. Eles construíram igrejas e mosteiros e traduziram a bíblia. O mosteiro Abuna Yemata foi construído por um deles e recebeu o nome de seu construtor para homenageá-lo.
Monofisismo: doutrina que admite uma só natureza em Jesus, refutando a coexistência das naturezas humana e divina. |
Referências:
Arenitos da Etiópia (acesso em 2023): tuprints.ulb.tu-darmstadt.de
Mosteiro Debre Damo
Construção: no século VI.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Tewahedo.
Local: no topo da mesa Debre Damo e em ressalto de seu penhasco, a oeste da cidade de Adigrat, na região de Tigray, no norte da Etiópia.
Altitude: 2.216 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 24 m acima da região menos íngreme próxima, devido à tectônica associada ao Rifte Etíope Princial e à erosão diferencial.
Litologia: arenito Adigrat do Permiano ao Jurássico (145 milhões a 249 milhões de anos) capeado por rocha basáltica do Terciário (2,5 milhões a 66 milhões de anos).
121212Parte do Mosteiro Debre Damo à esquerda e a escalada com cordas (Foto: Rod Waddington)
A mesa Debre Damo, onde este mosteiro está assentado, tem formato trapezoidal com ~1.000 m por ~400 m. A região faz parte do Planalto de Tigray que está associado ao vulcanismo do Rifte Etíope Principal. A mesa é constituída pelo arenito Adigrat, capeado por rocha basáltica.
Amostras coletadas em Debre Damo são descritas como arenitos cinza-avermelhados e branco, contendo níveis de argilito e caulinita em interstícios. Apresenta grãos finos, médios e grossos, arredondados, principalmente de quartzo. Este arenito é associado a ambiente glacial. As unidades do Paleozoico da região de Tigray compreendem sedimentos das duas principais glaciações do Gondwana, do Ordoviciano Superior e do Carbonífero-Permiano.
A história de Debre Damo, assim como a do Mosteiro de Abuna Yemata, está ligada à dos "nove santos". Foi estabelecido por um deles, São Aregawi. Uma lenda local conta que Deus, atendendo o desejo deste monge de alcançar aquele local elevado, ordenou que uma cobra que vivia no topo da mesa se estendesse e o levantasse para que ele pudesse construir o mosteiro,
A topografia local faz com que Debre Damo seja acessível somente através de corda grossa de couro trançado e, por segurança, os monges amarram uma segunda corda na cintura dos visitantes que querem subir. Atualmente, ali está guardada uma coleção de manuscritos e o prédio possui tetos e paredes com pinturas que retratam a fundação do mosteiro por Aregawi.
Referências:
Debre Damo (acesso em 2023): www.passionethiopiatours.com
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