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14 de março de 2023

Contribuições da geologia aos mosteiros elevados - Parte IV

 Por Marco Gonzalez

Visão litorânea da Província Metamórfica Servo-Macedônica na Península Calcídica, na Grécia, banhada pelo Mar Egeu. É possível observar o Mosteiro de Dionísio, que não é elevado (topograficamente), mas mesmo assim teve importante contribuição da geologia para seu isolamento (Foto: Gabriel)

Nesta Parte IV, são apresentados e discutidos alguns exemplos de mosteiros elevados na Grécia, construídos nos domínios do Cinturão Orogênico Helenides e da Bacia Meso-Helênica.

Mosteiros elevados no domínio do Cinturão Orogênico Helenides

Cinturão Orgênico Helenides

O cinturão orogênico Helenides é um ramo de um cinturão orogênico mais amplo, o Alpino, na Eurásia. O Helenides resultou da colisão continental das placas Europeia e Apuliana num complexo regime deformacional com diversas fases envolvendo o Oceano Tétis, do Mesozoico, localizado entre os continentes europeu e apuliano. Tradicionalmente, é subdividido em Helenides Externo e Interno compondo zonas tectono-estratigráficas distintas.

O Helenides Externo é constituído principalmente por rochas sedimentares do Mesozoico e do Cenozoico, cujos sedimentos foram depositados em águas tanto profundas quanto rasas. Houve processos contínuos de sedimentação finalizados por deposição de flysch do Paleoceno ao Mioceno. Forma um complexo cinturão de dobras e protuberâncias do Paleógeno ao Neógeno, sem metamorfismo relevante.

O Helenides Interno é composto por rochas do Paleozoico e por embasamentos mais antigos cobertos por rochas sedimentares de plataforma carbonática do Triássico-Jurássico, bem como por séries sedimentares de plataforma externa e borda de plataforma. Nestas plataformas, o domínio ofiolítico do Neo-Tétis foi inicialmente desviado durante o Jurássico Superior. O Helenides Interno tem uma história tectônica e de metamorfismo de diversas fases ocorrida durante a Orogenia Alpina, do Jurássico ao Terciário.

Zonas do Cinturão Orogênico Helenides localização dos mosteiros elevados selecionados neste domínio (Adaptado de: NASA / Adamantios Kilias).

Zonas do Helenides Externo:
  • Zona Paxon. Caracteriza-se por rochas carbonáticas neríticas contínuas desde o Triássico Superior até o Oligoceno-Mioceno. Estratos finos de rochas sedimentares siliciosas e folhelhos são localmente intercalados com a sucessão carbonática do Jurássico. Evaporitos constituem a sequência litoestratigráfica mais antiga desta zona.
  • Zona Jônica. É constituída por uma sequencia sedimentar contínua desde o Triássico até o Oligoceno-Mioceno. Até o Pliensbachiano (subdivisão do Jurássico Inferior), a sedimentação era caracterizada por depósitos calcários neríticos, finalizados com característica série de calcários brancos Pantokratora do Jurássico Inferior. Desde então, até o Eoceno, as condições sedimentares mudaram para pelágicas. Ocorreram deposições de radiolaritos e calcários pelágicos e, finalmente, de flysch no Oligoceno-Mioceno. Os evaporitos, como na zona de Paxon, também constituem a sequência lito-estratigráfica mais antiga desta zona.
  • Zona de Gavrovo. Uma plataforma de sedimentação nerítica contínua do Triássico ao Eoceno é finalizada pela deposição de flysch do Eoceno Superior ao Oligoceno. Suas porções ocidentais não apresentam metamorfismo, mas mais a leste, aflorando no Helenides Interno como janelas tectônicas, ocorrem evidências de metamorfismo de baixo a alto grau do Terciário.
  • Zona de Pindos (ou Nappe Tectônico de Pindos). Inicia com rochas sedimentares clásticas neríticas do Triássico Inferior-Médio com intercalações de estratos vulcanclásticos. Rochas sedimentares de profundidade (siliciosas e outros depósitos pelágicos), do Triássico ao Eoceno, são sobrepostas por flysch do Paleoceno-Eoceno. Pode representar uma bacia oceânica aberta progressivamente devido ao rifteamento continental do Permo-Triássico de Pangeia ou uma bacia profunda formada em crosta continental afinada. Ela foi empurrada contra a Zona de Gavrovo para oeste durante o Eoceno-Oligoceno
Nerítica: zona submarina situada entre o nível de altitude zero e a atitude de 200 m negativos, aproximadamente correspondendo à Plataforma Continental. Nesta zona, observa-se a existência de sedimentos clásticos, muito mais grosseiros que nas outras zonas submarinas.
Pelágico: depósito (ou ambiente) com acumulações de partículas finas em mar aberto e profundo, distante de áreas continentais.
Nappe: massa rochosa tabular alóctone, normalmente de grande extensão, apresentando estruturas dobradas recumbentes e falhas horizontalizadas com grandes rejeitos sobre o muro mais jovem, decorrentes de sentido dirigido geralmente para a área estável junto ao orógeno.

Zonas do Helenides Interno:
  • Zona Pelagoniana (ou Nappe Pelagoniano). É constituída de cima para baixo por (i) sequência de plataformas carbonáticas do Triássico-Jurássico, (ii) série vulcano-sedimentar do Permo-Triássico caracterizada por magmatismo bimodal e (iii) embasamento cristalino do Paleozoico ou Pré-Alpino mais antigo composto por gnaisses, anfibolitos e xistos, intrudido por granitoides carboníferos calco-alcalinos (~300 milhões de anos) e triássicos do tipo A (~240 milhões de anos). Ofiolitos do Neo-Tétis desviados, imbricados com ofiolitos-melanges do Jurássico Médio, ocorrem em muitos locais na cobertura carbonática Pelagoniana do Triássico-Jurássico ou, secundariamente, diretamente no embasamento Pré-Alpino.
  • Zona Axios (ou Zona Axios/Vardar). Também estruturalmente complexa, é constituída por unidades de origem continental e oceânica. Ofiolitos de baixo grau a não metamorfizados e misturas ofiolíticas do Jurássico Médio estão intensamente imbricados com rochas do embasamento continental do Paleozoico e séries sedimentares do Mesozóico, bem como granitoides cálcio-alcalinos do tipo arco do Jurássico Superior.
  • Maciço das Cíclades. É composto por um sistema complexo e heterogêneo de pilhas de nappes, incluindo partes das zonas das Helenides Interna e Externa. Sua tectono-estratigrafia inclui (i) embasamento Varisco ou mais antigo de xistos e gnaisses e granitoides carboníferos (~300 milhões de anos), além de abundantes granitos e migmatitos do Oligoceno-Mioceno, (ii) cobertura sedimentar Alpina pós-Varisca, contendo mármores, metapelitos e intercalações vulcânicas do Triássico Inferior, que formam a continuação metamórfica da sequência da plataforma carbonática Gavrovo da margem passiva da Apúlia. O embasamento e a cobertura sedimentar mostram evidência de metamorfismo de alta pressão do Paleoceno-Eoceno.
  • Província Metamórfica Servo-Macedônico/Rhodope. É constituída por complexa pilha de nappes alpinos de várias unidades metamórficas ou terrenos de origem continental e oceânica. Nesta província, o Rhodopes constitui o núcleo, do tipo arco, do cinturão orogênico Helenides. Os vários nappes desta região foram progressivamente colocados uns sobre os outros por intensa tectônica compressiva e de cavalgamento do Jurássico ao Terciário, entre a placa da Apúlia, a oeste, e a placa Europeia, a leste. O empilhamento de nappes ocorreu durante períodos alternados de colisão de segmentos da crosta continental e subducção da litosfera oceânica. Posteriormente, ocorreram eventos de tectônica extensional associada a falhas de desprendimento normal e tectônica dúctil a frágil do Paleoceno ao Mioceno Inferior. Estes eventos levaram progressivamente ao colapso orogênico e à exumação de níveis crustais profundos.
Cíclades: arquipélago de ilhas gregas no Mar Egeu. Seu nome deriva da palavra grega "cyclos" ("círculo"), pois estas ilhas formam um círculo aproximado ao redor da Ilha de Delos.

Referências:

Helenides (acesso em 2023): www.researchgate.net1

Geologia da Grécia (acesso em 2023): www.scirp.org

Mosteiro Kipina

Construção: no ano de 1212.
Religião: Cristianismo Católico.
Local: encravado na entrada de caverna na face da Montanha Tzoumerka, em Épiro, acima do desfiladeiro do Rio Kalarrytikos, no noroeste da Grécia.
Altitude: 800 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 40 m acima da região menos íngreme próxima, devido à tectônica da Zona de Pindos e à erosão.
Litologia: calcário provavelmente do Cretáceo Superior (~66 milhões a ~100 milhões de anos).

O Mosteiro Kipina (Foto: Ziegler175).

Assentado na Montanha Tzoumerka (Athamania ou Athamanion), o Moteiro Kipina foi construído com materiais retirados da própria montanha, em Épiro. É uma região com relevo acentuado, com elevações e vales profundos, e abundância de águas superficiais. Predomina a Zona de Pindos, que deu origem à cordilheira de mesmo nome. É a maior cordilheira da Grécia, com grande alternância de rochas carbonáticas, siliciosas e clásticas. Tzoumerka é sua quarta mais elevada montanha, alcançando altitude de 2.393 m.

O Mosteiro Kipina foi construído pelo arcebispo Grigorios em uma caverna acima do desfiladeiro do rio Kalarrytikos. Uma ponte pendente lhe dá acesso. Possui um templo, várias celas e interior decorado com murais que datam do século XVIII. Atrás do templo há uma caverna esculpida por rio subterrâneo que se aprofunda na rocha por mais de 200 m.

A história deste mosteiro começou quando alguns dos monges de mosteiro próximo discordaram daquele local e decidiram procurar outro melhor. Encontraram a caverna na Montanha Tzoumerka e, para ter acesso a ela, construíram uma ponte improvisada com varas compridas. Justamente, a dificuldade de acesso foi decisiva para a escolha do local para o novo mosteiro. Durante a ocupação turca, muitos habitantes das aldeias vizinhas perseguidos conseguiram encontrar abrigo neste mosteiro.

Referências:

Geologia da Grécia (acesso em 2023): www.scirp.org

Montanha Tzoumerka e Mosteiro Kipina (acesso em 2023): www.summitpost.org

Mosteiro Kipina (acesso em 2023): www.atlasobscura.com

Mosteiro de Kipina (acesso em 2023): gemsofgreece.tumblr.com

Mosteiro Panagia Elona

Construção: provavelmente no início do século XIV.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Oriental.
Local: ressalto de penhasco junto à caverna do Monte Parnon, em Kynouria, no Vale de Daphnonas (ou Dafnon), por onde corre o Rio Rema Agiorgitiko, na Grécia.
Altitude: 580 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~280 m acima do Rio Rema Agiorgitiko, devido à tectônica da Zona de Pindos e à erosão.
Litologia: calcário do Cretáceo Superior (~66 milhões a ~100 milhões de anos).

O Mosteiro Panagia Elona (Foto: Xristos Xeil).

Este mosteiro está localizado no Monte Parnon, no Peloponeso, onde o processo geodinâmico na Zona de Pindos resultou em uma pilha de unidades tectônicas de plataformas carbonáticas e basais. No Monte Parnon, esta pilha é composta de baixo para cima por:
  • Unidade Plattenkalk, com filitos do Permiano ao Triássico e metaconglomerados com seixos quartzíticos, seguidos por mármores dolomíticos, quartzitos porosos e mármores, todos do Triássico Superior ao Eoceno Superior e finalmente um metaflysch calcário do Oligoceno Inferior;
  • Unidade Phyllites-Quartzitos, com micaxistos, quartzitos, metaconglomerados, mármores e metavulcanitos;
  • Unidade Kosmas-Gythio, com dolomitos, quartzitos porosos e mármores;
  • Unidade Tripolitza, uma plataforma carbonática do Triássico Superior ao Eoceno Superior; sobrejacente a uma sequência vulcano-sedimentar de baixo grau do Permiano Superior ao Triássico Superior;
  • Unidade Pindos, uma sequência pelágica, composta por radiolaritos, pelitos e arenitos do Cenomaniano, seguida por calcários do Cretáceo Superior e uma sequência flysch do Paleoceno; e
  • Unidades Internas, com sequência siliclástica do Paleoceno com olistólitos do Permiano Superior ao Cretáceo Superior.
O Mosteiro Panagia Elona está associado a uma lenda local que conta que pastores viram uma luz em um ponto inacessível da encosta do Monte Parnon e descobriram que vinha de uma lamparina que iluminava a imagem de "Panagia Vrefokratosa" ("Virgem Maria segurando uma criança"). Então, decidiram construir um mosteiro ali. O nome do Mosteiros Panagia Elona está também relacionado aos habitantes da aldeia de Elos, na Lacônia, que ali se refugiaram. Documentos datados de 1730 atestam a existência do mosteiro nos séculos XV e XVI.

Seus prédios foram construídos em vários níveis e estão ligados por escadas e corredores. Uma pequena basílica foi construída em 1812. O complexo é alimentado com água proveniente da rocha e recolhida em cisternas. Em 1833, um decreto sobre dissolução de mosteiros fez com que os monges fossem expulsos. Em 1972, Panagia Elona foi reorganizado e funciona até hoje como um mosteiro para freiras.

Referências:

Monte Parnon (acesso em 2023): www.researchgate.net
 
Mosteiro Panagia Elona (acesso em 2023): www.greecehighdefinition.com

Mosteiro Panagia Elona (acesso em 2023): www.peloponnesetour.com

Mosteiro Panagia Elona (acesso em 2023): www.allovergreece.com

Mosteiro Hozoviotissa

Construção: no ano de 1017.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Grego
Local: na face de falésia próxima ao litoral da Ilha de Amorgos, no centro do mar Egeu, na Grécia.
Altitude: 320 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~80 m acima da região menos íngreme próxima, devido à tectônica do Maciço das Cíclades e à erosão.
Litologia: mármore e flysch, ambos provavelmente do Cretáceo Inferior (100 milhões a 145 milhões de anos).

O Mosteiro Hozoviotissa (Foto: Apenauta)

O Mosteiro Hozoviotissa fica na Ilha de Amorgos, que faz parte das Cíclades. As rochas desta ilha são subdivididas nas seguintes unidades tectono-estratigráficas: 
  • metabasito, com anfibólio azul, granada e clinopiroxênio;
  • carfolita micaxistos, quartzitos e metaconglomerados;
  • sequência de mármores do Triássico ao Eoceno, incluindo, de baixo para cima, mármores maciços, meta-dolomitos, mármores pelágicos bem estratificados com abundantes substituições de meta-chert e mármores maciços espessos com algumas pequenas lentes de meta-bauxitas do Cretáceo; e
  • unidade Flysch, do Cretáceo Inferior, constituída por folhelhos, xistos, grauvaques, conglomerados e grandes olistólitos marmoreados.
Na região do mosteiro, predominam mármores com algumas exposições de flysch dobradas. Na escadaria de entrada, é possível observar numerosos padrões de dobras no mármore que apresenta estratificação sub-horizontal. Na falésia, à esquerda de quem chega ao mosteiro, há uma falha normal de mergulho acentuado que separa a unidade de flysch da sequência de mármores. Provavelmente, toda a falha ou alguma reativação dela está associada ao terremoto de 7,4 graus que aconteceu na ilha em 1956. A totalidade da geomorfologia da costa sudeste da ilha, onde se encontra o mosteiro, parece estar controlada pelo mesmo terremoto.

O Mosteiro Hozoviotissa foi construído por ordem do imperador bizâncio Alexius Comnenus I (1081-1118) em 1017 e foi reformado em 1088. Recebeu o nome da cidade de Hozova, de onde uma imagem da Graça de Panagia (Virgem Maria protetora da ilha) teria sido trazida por monges em um barco que veio da Palestina.

O mosteiro tem 40 m de altura, seu interior labiríntico, em 8 andares, contém uma capela, celas e várias salas auxiliares que atendem à funcionalidade da confraria monástica. Uma porta baixa de mármore leva a uma escada que dá acesso à capela e aos andares superiores. Além da própria arquitetura do mosteiro, lá estão alguns tesouros como a Panagia Portaitissa (Theotokio ou Mãe de Deus), obra da escola de Creta datada do século XV. 

Referências:

Geologia de Amorgos (acesso em 2023); www.researchgate.net

Monastério Hozoviotissa (acesso em 2023): www.greeka.com

Monastério Hozoviotissa (acesso em 2023): amorgos.gr

Monastério Hozoviotissa (acesso em 2023): greecetravelideas.com

Megisti Lavra

Construção: no século X.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Grego.
Local: em ressalto do Monte Athos, na parte sudeste da Península Calcídica, no norte da Grécia.
Altitude: 150 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~120 m acima da região menos íngreme próxima, devido à tectônica da Província Metamórfica Servo-Macedônico/Rhodope e à erosão.
Litologia: calcário e mármore presumivelmente do Triássico (200 milhões a 250 milhões de anos).

Megisti Lavra em cartão postal aproximadamente do ano de 1910 (Foto: Stephanos Stournaras).

Megisti Lavra está localizado no extremo sudeste da Península Calcídica (Halkidiki, Chalkidiki ou Khalkidhiki), a cerca de cem metros do mar, em ressalto do Monte Athos, na Província Servo-Macedônica. Na Península Calcídica são encontrados biotita gnaisses e migmatitos de granulação fina formando uma estrutura de domo. Na região do Monte Athos ocorrem calcário, mármore e rochas metamórficas de baixo grau que fazem parte da Unidade Chortatiati. O próprio Monte Athos é constituído por calcário e mármore presumivelmente do Triássico

No início do século X, mais de cinquenta anos antes da fundação do mosteiro de Megisti Lavra, os monges conseguiam, apesar de dispersos pela península, montar uma eficiente administração comunitária, sendo reconhecidos pelo Império Bizantino.

Nos anos imediatamente posteriores a 950, o monge Athanasius, considerado fundador do Monasticismo Athonita, chegou à região de Monte Athos e começou a construir o núcleo de um mosteiro que foi concluído em 963. Seria o primeiro núcleo do mosteiro que viria a ser conhecido como Megisti Lavra (que significa "Grande Laura"), o mais importante e famoso de Monte Athos.

Laura: agrupamento de pessoas submetidas a práticas de reclusão em busca de aperfeiçoamento espiritual, mas em um modo de vida relativamente livre.

A partir de 964, o imperador bizantino Nicéforo II Foca (~912-969) dotou o mosteiro de vários privilégios, como anuidades, doações de terras e um conjunto considerável de relíquias para aumentar seu prestígio. O poder daquela Laura cresceu tanto que em poucos anos um monasticismo cenobítico (comunitário) primordial foi transformado em uma estrutura habitada por mais de oitenta monges.

Megisti Lavra assumiu a forma de uma pequena vila medieval. Está rodeada por 15 torres e, no seu interior, há 37 capelas. Abriga, entre outras funcionalidades, uma biblioteca que contém 2.046 manuscritos, 165 códices e 30.000 livros impressos.

Códice: coleção ou compilação de manuscritos ou documentos históricos

Referências:

Geologia da Península Calcídica (acesso em 2023): www.researchgate.net
 
Mosteiros do Monte Athos (acesso em 2023): drive.google.com

Megisti Lavra (acesso em 2023): www.macedonian-heritage.gr

Mosteiros elevados no domínio da Bacia Meso-Helênica.

Bacia Meso-Helênica

Esta bacia é a mais jovem e maior das três fossas de sedimentos molássicos da Grécia. Foi desenvolvida no início do Mioceno (~23 milhões de anos atrás), contendo principalmente conglomerados e arenitos. Está associada ao cinturão orogênico Helenides, entre a Zona de Pindos e a Zona Pelagoniana.

O início da deposição dos sedimentos nesta bacia correspondeu a uma grande mudança no regime deposicional, passando de margas para conglomerados. Houve entrada de grande volume de clastos oriundos da Zona Pelagoniana, localizada a leste, em uma bacia alongada com ~300 km de comprimento e ~30 km de largura. Depositaram-se sedimentos molássicos que deram origem as rochas que constituem as geoformas da região de Meteora.

As geoformas de Meteora

Estas rochas são constituídas principalmente por conglomerados e arenitos, cuja sucessão estratigráfica na região de Meteora inclui os chamados:
  • Conglomerados Superiores de Meteora, pertencentes à Formação Tsotyli, e
  • Conglomerados Inferiores de Meteora, que correspondem à Formação Pentalofos.
Geologia simplificada da região de Meteora localização dos mosteiros elevados selecionados neste domínio (Adaptado de: Zacharenia-Kypritidou / Bgabel).

A Formação Tsoltyli, do Aquitaniano Superior ao Tortoniano (~21 milhões a ~7 milhões de anos), aumenta de espessura em direção nordeste atingindo ~1.000 m máximos. É composta por conglomerados localmente estratificados, com 10-15º NE de mergulho na região. São provavelmente originados em ambiente fluvial de alta energia e possuem clastos de gnaisses do Paleozoico, mármores do Triássico e uma pequena quantidade de seixos ofiolíticos, todos derivados do embasamento Pelagoniano. Ocorrem arenitos comumente conectados em formas de canais dentro das unidades conglomeráticas maciças. A Formação Tsokltyli repousa sobre superfície erosiva no topo da Formação Pentalofos

A Formação Pentalofos, do Aquitaniano (~23 milhões a ~21 milhões de anos), possui 4.000 m de espessura máxima e os sedimentos formadores de suas rochas tem origem em ambiente deltaico do tipo Gilbert, basicamente construídos em unidades de cunha. São característicos de depósitos de alta descarga em frente de delta. Apresentam mergulhos de 10-10º WSW na região e são conglomerados com seixos bem arredondados, predominantemente matriciais, além de arenitos de granulação grossa. Os clastos são predominantemente gnaisses e mármores do Triássico que apontam para fonte situada a NE da região de Meteora, no domínio Pelagoniano. A Formação Pentalofos repousa com contato erosivo localmente acentuado e canalizado acima de depósitos marinhos predominantemente arenosos-siltosos da Formação Eptachori, do Oligoceno.

Gilbert: tipo de delta no qual a densidade do meio transportador é similar a do receptor. Também é chamado delta homopicnal.

As geoformas de Meteora, onde se assentam os principais mosteiros da região, são constituídas principalmente por rochas da Formação Pentalophos, estando a Formação Tsotyli representada em algumas dezenas de metros de espessura no topo de algumas delas. A exceção é o Mosteiro Ypapanti que está em área com predomínio da Formação Tsotyli. As geoformas de Meteora foram moldadas devido a diversos fatores que incluem eventos tectônicos, erosão fluvial e, em menor extensão, erosão eólica. De acordo com evidências sedimentológicas e estruturais, a atividade tectônica, associada a processos de subducção, teve impacto significativo na formação e distribuição dos conglomerados da região de Meteora.

O Complexo de Mosteiros Meteora

Meteora é um complexo de quatro quilômetros quadrados contendo mosteiros e geoformas que se destacam topograficamente sobre a planície da Tessália. É o segundo maior complexo monástico bizantino da Grécia, após o Monte Athos.

Possivelmente, Meteora começou a receber eremitas no século XI ou XII. Inicialmente, eles encontraram abrigo nas muitas cavernas das geoformas da região. No século XIV, em 1356, o monge Athanasius, o Meteorita, mudou-se com com alguns seguidores devotos vindos do Monte Athos para a Tessália. Vieram em busca de um grupo de ascetas que haviam desenvolvido um eficiente eremitismo na região. Encontraram eremitas com habilidades de escalada livre que lhes permitiam viver nas cavernas e fissuras bem acima do solo e Athanasius viu ali uma oportunidade de criar um mosteiro elevado. Com o conhecimento de escalada dos eremitas, Athanasius e seus seguidores começaram a construir seu próprio refúgio entre 1356 a 1372. O local escolhido foi o topo da maior rocha de Meteora, a Platys Lithos ("Pedra Grande") e Athanasius deu o nome de Meteoron ao seu mosteiro em alusão à palavra grega "meteoros".

Meteoros: em grego significa "o que está no ar, o que está por cima de nós".

A rocha Platys Lithos, com o Mosteiro Meteoron, no topo. À frente e abaixo aparece o Mosteiro Rousanou (Recorte da foto de: Dan Lundberg).

Ao todo, foram construídos 22 mosteiros na região de Meteora. Cordas, roldanas e cestos eram usados para erguer monges e suprimentos para o topo das geoformas. A dificuldade da escalada era providencial para impedir o acesso a qualquer um, principalmente aqueles que representassem alguma ameaça. O método funcionou e os monges ortodoxos, por séculos, sobreviveram a guerras e invasores. Atualmente, peregrinos e turistas são recebidos com providenciais escadas que contornam as grandes geoformas.

Esta região foi incluída na lista do Patrimônio Mundial Cultural e Natural da UNESCO em 1988, com proposta, avaliação e seleção baseadas principalmente em critérios culturais da UNESCO e em critério relacionado ao ambiente natural. Meteora também foi proposta como monumento do patrimônio geológico devido à sua geomorfologia especial. Está incluída na rede europeia de áreas protegidas, a NATURA 2000, com objetivo de conservação dos habitats naturais, além da fauna e da flora selvagens. 

Referências:

Helenides (acesso em 2023): www.researchgate.net1

Bacia Meso-Helênica (acesso em 2023): www.researchgate.net2

Geoformas de Meteora (acesso em 2023): www.mdpi.com

Conglomerados de Meteora (acesso em 20223): www.researchgate.net3

Conglomerados de Meteora (acesso em 2023): www.researchgate.net4 

Mosteiros em Meteora (acesso em 2023): www.greeknewsagenda.gr

Mosteiros de Meteora (acesso em 2023): edition.cnn.com

Mosteiro Ypapanti

Construção: no ano de 1367.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Oriental.
Local: encravado na face de geoforma da região de Meteora.
Altitude: 480 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 70 m acima da região horizontalizada próxima, devido à tectônica do Helenides e às erosões fluvial e eólica.
Litologia: conglomerados e arenitos do Mioceno (~21 milhões a ~7 milhões de anos).

O Mosteiro Ypapanti (Foto: Falk2).

Localizado na parte norte da região de Meteora, o Mosteiro Ypapanti (ou Mosteiro da Ascensão de Cristo) constitui uma exceção em relação aos demais mosteiros desta região em dois aspectos:
  • foi construído em uma caverna na face do penhasco de uma geoforma e não em seu topo e
  • os conglomerados e arenitos onde foi construído pertencem apenas à Formação Tsoltyli.
Na época da construção destes mosteiros, no século XIV, para muitos cristãos o fim do Império Bizantino parecia inevitável e o monasticismo parecia consistir a última esperança de manter viva sua fé. Os últimos imperadores cristãos no Oriente lutavam para conter o avanço dos turcos otomanos. Neste contexto, no ano de 1367, dois monges chamados Nilos e Cipriano fundaram Ypapanti. Em 1809, o rebelde e herói local Papathymios Vlahavas foi preso neste mosteiro pelo exército turco de Ali Pasha. 

Ypapanti passou muito tempo abandonado até que, em 1930, foi reconstruída uma escada esculpida na rocha para facilitar o acesso. Em 1948, a erosão fez desabar parte da rocha e o mosteiro voltou a ser inacessível. Atualmente, ele está totalmente restaurado e reformado, inclusive com a escada esculpida na rocha.

Referências:

Mosteiro Ypapanti (acesso em 2023): visitmeteora.travel

Mosteiro Ypapanti (acesso em 2023): www.allovergreece.com

Mosteiro Meteoron

Construção: pouco antes de meados do século XIV.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Oriental.
Local: no topo de geoforma da região de Meteora, na rocha chamada Platys Lithos.
Altitude: 613 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 213 m acima da região horizontalizada próxima, devido à tectônica do Helenides e à erosão fluvial e eólica.
Litologia: conglomerados e arenitos do Mioceno (~23 milhões a ~7 milhões de anos).

O Mosteiro Meteoron (Foto: Bernard Gagnon).

O Mosteiro Meteoron (ou Mosteiro da Transfiguração) é o mais antigo, maior e mais formal de todos os mosteiros da região de Meteora, além de estar  assentado na mais alta geoforma. Foi fundado por Athanasius, o Meteorito, e posteriormente foi ampliado por Ioannis (ou Jovan) Uroš Nemanjić (1350-1422), nomeado para substituir o fundador. Ioannis era filho do sérvio Simeon Uroš Nemanjic (~1326-1370), rei da Tessália e do Épiro. Ioannis sucedeu o pai por volta de 1370, mas acabou preferindo trocar o hábito real pelo de monge e assumiu o nome de Ioasaph (ou Josafá). Ele construiu mais celas e um hospital e fez reformas nos prédios. O mosteiro prosperou em meados do século XVI quando recebeu doações imperiais e reais.

Na entrada deste mosteiro, encontra-se uma ermida construída em uma fenda da rocha. Ali morou Athanasius antes da construção do Meteoron. No interior do mosteiro, há capelas, cozinhas, um asilo, refeitórios e outros prédios. Nos principais aposentos são encontrados afrescos da escola macedônica. Na base da geoforma, há pequena construção com telhado de madeira que continua abrigando o guincho que era utilizado para elevar mantimentos. Logo acima deste local ainda há vestígios de alguns degraus de antiga escada esculpida na rocha.

Referências:

Meteoron (acesso em 2023): www.infotouristmeteora.gr

Meteoron (acesso em 2023): meteora.com

Meteora (acesso em 2023): greekreporter.com

Meteora (acesso em 2023) el.tripnholidays.com

Mosteiro Varlaan

Construção: no século XVI.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Oriental.
Local: no topo de geoforma da região de Meteora.
Altitude: 595 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~100 m acima da região mais horizontalizada próxima, devido à tectônica do Helenides e à erosão fluvial e eólica.
Litologia: conglomerados e arenitos do Mioceno (~23 milhões a ~7 milhões de anos).

O Mosteiro Varlaan (Foto: Bernard Gagnon).

Este mosteiro é o segundo maior da região de Meteora. Varlaan (que deu nome ao mosteiro) foi seu primeiro habitante no ano de 1350. Este contemporâneo de Athanasius, o Meteorito, construiu na face do penhasco, mas suas construções acabaram abandonadas por cerca de 200 anos até a chegada dos sacerdotes-monges Theophanis e Nectarios. Considerados fundadores do Mosteiro Varlaan, estes dois irmãos vieram de Ioannina (capital das regiões de Ioannina e do Épiro, na Grécia). Eles eram descendentes da eminente família bizantina Apsaradon daquela cidade. Dizem que Theophanis e Nectarios levaram apenas vinte dias para construir o primeiro núcleo do Mosteiro de Varlaan, mas dizem também que o material usado nesta construção levou 22 anos para ser içado por eles para o topo da geoforma. Felizmente, bem mais tempo levou o mosteiro prosperando até sofrer um declínio no século XVII.

Atualmente, este mosteiro pode ser acessado por uma série de escadas construídas no lado norte da geoforma. Quem chega ao topo, após uma subida de 195 degraus, encontra uma grande variedade de relíquias e tesouros eclesiásticos. Também encontra uma igreja do século XVI com afrescos e um pequeno museu.

Referências:

Varlaan (acesso em 2023): www.infotouristmeteora.gr

Meteora (acesso em 2023): greekreporter.com

Meteora (acesso em 2023): el.tripnholidays.com

Mosteiro de São Nicolau

Construção: no ano de 1368.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Oriental.
Local: no topo de geoforma da região de Meteora.
Altitude: 470 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~80 m acima da região horizontalizada próxima, devido à tectônica do Helenides e à erosão fluvial e eólica.
Litologia: Conglomerados e arenitos do Mioceno (~23 milhões a ~7 milhões de anos).

O Mosteiro de São Nicolau (Foto: Bernard Gagnon).

O Mosteiro de São Nicolau Anapafsas tem duas possíveis origens para seu nome. Pode ser uma homenagem a um dos seus primeiros fundadores ou ter derivado do verbo grego "anapavomai", que significa "eu descanso". Ele está situado nas proximidades da vila de Kastraki e das ruínas dos mosteiros Prodromos, Aghia Moni e Pantokrator e do que restou da capela de Panagia Doupiani.

Sua geoforma é estreita no topo, o que determinou os limites do mosteiro e a forma da construção em diversos andares conectados por escada interna. Na parte inferior do mosteiro, há uma capela com vestígios de pinturas do século XIV e uma cripta com documentos e relíquias. No andar seguinte, fica a igreja principal e no último andar, o refeitório e um altar. Este mosteiro foi restaurado e ampliado em 1628 e novamente reformado na década de 1960.

Referências:

Mosteiro de São Nicolau (acesso em 2023): www.infotouristmeteora.gr

Meteora (acesso em 2023): greekreporter.com

Meteora (acesso em 2023): el.tripnholidays.com

Mosteiro Rousanou

Construção: no século XIV.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Oriental.
Local: no topo de geoforma da região de Meteora.
Altitude: 484 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~80 m acima da região horizontalizada próxima, devido à tectônica do Helenides e à erosão fluvial e eólica.
Litologia: conglomerados e arenitos do Mioceno (~23 milhões a ~7 milhões de anos).

O Mosteiro Rousanou com o Mosteiro de São Nicolau ao fundo (Foto: Ava babili).

Este mosteiro fica em uma geoforma cujo topo foi totalmente ocupado pelo complexo de prédios, parecendo ser uma continuação natural da rocha. A subida era feita por uma escada de corda, mas em 1868 uma ponte de madeira (mais segura) foi construída. Atualmente podem ser usadas uma escada com degraus de cimentos e duas pontes construídas em 1930. Desde a década de 1980, este mosteiro tem funcionado como convento.

Contam, sem confirmação, que o nome do mosteiro teria origem no primeiro grupo de monges que se estabeleceu ali, vindo da Rússia. Também sem confirmação, o mosteiro teria sido construído no ano de 1288, reformado em 1545 e sua igreja teria sido construída no século XVI e decorada em 1540. 

Referências:

Rousanou (acesso em 2023): www.infotouristmeteora.gr

Meteora (acesso em 2023): greekreporter.com

Meteora (acesso em 2023): el.tripnholidays.com

Mosteiro da Santíssima Trindade

Construção: entre os anos de1475 e 1476.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Oriental.
Local: no topo de geoforma da região de Meteora.
Altitude: 500 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~35 m acima da região horizontalizada próxima, devido à tectônica do Helenides e à erosão fluvial e eólica.
Litologia: conglomerados e arenitos do Mioceno (~23 milhões a ~7 milhões de anos).

O Mosteiro da Santíssima Trindade (Foto: Dido3).

O primeiro habitante da geoforma deste mosteiro, antes de sua construção, foi o monge Domécio que ali construiu um eremitério em 1438. No século XIV, o mosteiro recebeu doações de Ioannis (ou Jovan), já citado no caso do Mosteiro Meteoron. Ioannis construiu santuários e outras benfeitorias no Mosteiro da Santíssima Trindade. 

O Mosteiro da Santíssima Trindade teve sua igreja principal fundada em 1798. Como a maioria dos demais mosteiros da região de Meteora, usava uma escada de corda e uma rede para o acesso ao topo da geoforma. Em 1925, foi construída uma escada esculpida na rocha com 140 degraus. Em 1982, o filme "For Your Eyes Only" ("007 - Somente para Seus Olhos", no Brasil) teve algumas cenas filmadas onde a geoforma deste mosteiro foi protagonista.

Referências:

Santíssima Trindade (acesso em 2023): www.infotouristmeteora.gr

Meteora (acesso em 2023): greekreporter.com 

Meteora (acesso em 2023): el.tripnholidays.com

Mosteiro de São Estêvão

Construção: no século XIV.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Oriental.
Local: no topo de geoforma da região de Meteora.
Altitude: 528 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~170 m acima da região horizontalizada próxima, devido à tectônica do Helenides e à erosão fluvial e eólica.
Litologia: conglomerados e arenitos do Mioceno (~23 milhões a ~7 milhões de anos).

O Mosteiro de São Estêvão (Foto: photosiotas).

O Mosteiro de São Estêvão (ou Agios Stefanos) foi habitado por monges no final do século XII, antes de sua construção. Foi fundado no século XIV, mas sua construção só foi concluída no século XVI. Há registros de que seus fundadores teriam sido os monges Antonios Cantacuzeno e São Filoteo. O viajante sueco Jonas Bjornstahl (1731-1779), que visitou São Estêvão em 1779, anotou o que provavelmente ouviu de monges e residentes da região: "No início, este mosteiro era para mulheres que amavam o Quietismo, mas depois foi abandonado até ser novamente habitado por monges”.

Quietismodoutrina e atitude espiritual que põe a perfeição na passividade ou quietude da alma, na supres­são do esforço humano.

Durante o período da ocupação turca na Grécia, a comunidade monástica, em solidariedade com os cidadãos locais, prestou-lhes assistência. O mosteiro de São Estêvão também ofereceu ajuda na Guerra Greco-Turca, em 1897, na Luta da Macedônia, de 1904-1908, e em todas as guerras nacionais. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi severamente danificado. Em 1961, transformou-se em convento e as freiras o restauraram. É o único mosteiro que pode ser visitado sem o uso de escadas pois o acesso é feito através uma pequena ponte que foi construída sobre uma fenda na rocha. Ele possui igreja (decorada com afrescos datados após 1545), refeitório (transformado em museu), cozinha e salas de propósitos diversos. Atualmente, há 154 manuscritos e 800 livros antigos na coleção do mosteiro.

Referências:

São Estêvão (acesso em 2023): www.infotouristmeteora.gr

Meteora (acesso em 2023): hookedontrips.com

Meteora (acesso em 2023): greekreporter.com

Meteora (acesso em 2023): el.tripnholidays.com

Comparação entre o monasticismo do Monte Athos e de Meteora

Entre os séculos V e XI, diversos centros com mosteiros elevados, inicialmente hospedando eremitas e depois comunidades monásticas organizadas, foram estabelecidos em todo o Império Bizantino. Uma extensa rede geográfica de mosteiros se desenvolveu desde os Bálcãs até a Ásia Menor e o Egito, em áreas geologicamente favoráveis. Dois centros balcânicos mais famosos desta rede foram o Monte Athos (a primeira e maior montanha adotada pelo cristianismo na Grécia) e a região de Meteora.

Há muitas semelhanças entre Athos e Meteora.
  • Dois monges de nome Athanasius são considerados fundadores destas duas regiões religiosas. O primeiro foi Athanasius de Trebizond, que veio da Ásia Menor para o Monte Athos no século X e acabou sendo conhecido como Athanasius, o Atonita, apelido derivado do nome do Monte Athos. O outro foi Athanasius Koinovitis, que veio do Monte Athos para a região de Meteora no século XIV. Acabou sendo conhecido como Athanasius, o Meteorita, apelido que tem origem no nome do Mosteiro Meteoron, que por sua vez é a origem do nome da região.
  • Ambos buscavam maior tranquilidade espiritual em lugar ermo que os isolasse do mundo ao redor. Athos e Meteora, graças à geologia com ilhas e elevações topográficas, podem ser considerados metaforicamente como "escadas espirituais" ou "paisagens ascéticas" no contexto da hierotopia.
  • Estes dois locais são caracterizados por isolamentos naturais em relação ao mundo ao redor, ao contrário da maioria dos mosteiros bizantinos, cercados por muralhas fortificadas. O Monte Athos consegue isolamento principalmente através do perímetro de sua costa, sendo protegido pelo mar, e Meteora tem o recurso da altura de suas geoformas.
  • Os dois locais compartilham o mesmo padrão de desenvolvimento: chegada de eremitas, formação de comunidades informais, fundação de mosteiros cenobíticos um após outro, organização administrativa do complexo de mosteiros e transformação da região em local de peregrinação religiosa.
  • Sob o domínio otomano, Athos e Meteora ganharam fama de principais destinos de peregrinação e ela tem perdurado assim até nossos dias.
Hierotopia: estudo da relação entre os objetos (e os locais) dentro das igrejas bizantinas. Vem do grego antigo através da junção das palavras "ierós" ("sagrado") e "topikós" ("local").

Referência:

Athos e Metora (acesso em 2023): hierotopy.ru/contents

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