6 de março de 2023

Contribuições da geologia aos mosteiros elevados - Parte III

Por Marco Gonzalez

A montanha Oros Mela, com rochas vulcânicas do Cretáceo Superior ao Paleoceno, no Pontides Oriental na Turquia, e o Mosteiro de Sumela (Foto: Bjørn Christian Tørrissen)

Nesta Parte III, são apresentados e discutidos alguns exemplos de mosteiros elevados no Oriente Médio e na região entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, construídos nos domínios do Cáucaso-Pontides e da Transformante do Mar Morto.

Mosteiros elevados no domínio Cáucaso-Pontides

Cáucaso

O Cáucaso está posicionado entre a placa da Eurásia e o conjunto formado pelas placas Africana e Árabe. Elas ainda estão em convergência em ampla zona de colisão continental.

Cáucaso Maior, Cáucaso Menor e Pontides Oriental localização dos mosteiros elevados selecionados neste domínio (Adaptado de: NASA / Volkan Dede et al).

A região do Cáucaso foi deslocada para margem sul da Eurásia, quando, juntamente com outros fragmentos, esta região foi separada do Gondwana Ocidental durante o Paleozoico Inferior. Tudo aconteceu por causa de um rifting sobre zona de subducção. No Mesozoico, eventos das orogenias Varisca e Alpina, nas proximidades, fizeram com que o Oceano Novo-Tétis assumisse o lugar que era do Paleo-Tétis. Somente no Neógeno teve início a formação da porção montanhosa do Cáucaso, como decorrência da colisão das placas Africana e Árabe com a placa da Eurásia. Do final do Mioceno até o final do Pleistoceno, na parte central desta região, erupções vulcânicas em condições subaéreas ocorreram simultaneamente com a formação de uma zona de molassa.

Cáucaso Maior

O Cáucaso Maior é a expressão mais setentrional do orógeno do Cáucaso e está ligado à margem sul do continente eurasiano. Estende-se por mais de 1.200 km entre os mares Negro e Cáspio, alcançando largura máxima de 170 km. Nele, distinguem-se duas porções principais:
  • embasamento cristalino Pré-Alpino, constituído por rochas do Pré-Cambriano ao Paleozoico, principalmente xistos, além de anfibolitos, gnaisses, migmatitos e granitoides, e 
  • cobertura vulcânica-sedimentar alpina do Fanerozoico.
Cáucaso Menor

O Cáucaso Menor, localizado em boa parte na Armênia e dentro da zona de colisão Arábia-Eurásia, abriga grande quantidade de vulcões formados desde 11 milhões de anos atrás. Destes, a maioria foi formada nos últimos milhões de anos. A densidade média de respiradouros vulcânicos no Cáucaso Menor é de ~0,016 por km². Muitos desses vulcões são monogenéticos e são encontrados em planaltos vulcânicos ou nos flancos de grandes vulcões poligenéticos.

Vulcão monogenético: construído por somente uma erupção ou uma fase eruptiva que envolve apenas um tipo de magma.
Vulcão poligenético
construído por vários episódios eruptivos, separados por relativamente longos períodos de inatividade, e muitas vezes envolvendo diferentes tipos de magma.

Pontides

Considerados como uma extensão para oeste do Cáucaso Menor, o Pontides constitui um cinturão orogênico de orientação leste-oeste, como uma entidade tectônica onde podem ser distinguidos três setores:
  • Pontides Ocidental, consistindo no Maciço de Istranca, na Zona Istambul-Zonguldak, na Zona Armutlu-Almacik e no continente Sakarya,
  • Pontides Central, que representa um nó tectônico onde Pontides Ocidental e Pontides Oriental foram tectonicamente justapostos, e 
  • Pontides Oriental, representado, de leste a oeste, por um cinturão magmático, um preenchimento de bacia de ante-arco, um cinturão de maciço metamórfico, uma zona de sutura ofiolítica e um preenchimento de bacia remanescente.
Ante-arco (forearc, em inglês): zona ou faixa entre o arco magmático e a zona de subducção.

Este cinturão orogênico representa segmentos do sistema Tethyside que carregam registros de eventos orogênicos Cimeride e Alpino. Partes do Oceano Paleo-Tétis, localizado ao norte do continente Cimério, formam o embasamento do Pontides. Após o desenvolvimento e o fechamento do Neo-Tétis, que ocorreu em subducção sob o Pontides, um novo arco de margem continental ativa foi criado. Então, o fechamento do Neo-Tétis resultou na colisão entre o Pontides e a plataforma Taurus-Anatólia, com efeitos que continuaram até meados do Eoceno. O atual Pontides começou a se elevar como um bloco horst durante o final do Mioceno.

Tethyside: complexo superorogênico, que flanqueou o continente eurasiano ao sul, sendo composto pelos sistemas orogênicos Cimeride e Alpino, como produtos de Paleo e Neo-Tétis, respectivamente.

Referências:

Cáucaso (acesso em 2023): www.researchgate.net1

Cáucaso Maior (acesso em 2023): www.researchgate.net2

Cáucaso Menor (acesso em 2023): www.researchgate.net3

Pontides (acesso em 2023): www.researchgate.net4

Mosteiro de Sumela

Construção: no século IV.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Grego.
Local: na face de penhasco da montanha Oros Mela, na província de Trabzon, nas proximidades do Mar Negro, no nordeste da Turquia.
Altitude: 1.200 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 300 m, em relação à região menos íngreme próxima, devido à tectônica do Pontides Oriental e à erosão hídrica (especificamente com congelamento/descongelamento).
Litologia: Dacito, traquibasalto, andesito e ignimbrito do Cretáceo Superior ao Paleoceno (90 milhões a 56 milhões de anos).

Mosteiro de Sumela (Foto: Bjørn Christian Tørrissen).

A montanha Oros Mela (Karadağ ou "Montanha Negra") faz parte das Montanhas Zigana, com rochas vulcânicas e plutônicas do Pontides Oriental. A face da Oros Mela, onde o Mosteiro de Sumela está localizado, apresenta inclinação de 90º ou mais e é constituída por dacito, traquibasalto, andesito e ignimbrito pertencentes à Formação Çatak do Cretáceo Superior ao Paleoceno. São rochas maciças que, no entanto, apresentam alguma alteração em determinados locais devido à infiltração de água, com rachaduras por congelamento e degelo. Há locais acima do mosteiro com aparência fraturada.

O Mosteiro de Sumela foi fundado no século IV por dois padres chamados Barnabé e Sofrânio durante o reinado do imperador bizantino Teodósio I (375–395). No século VI, foi reparado pelo general Flávio Belisário (505-565) a pedido do imperador bisantino Justiniano (483-565). Muitas partes do mosteiro foram reformadas no século XVIII, quando algumas de suas paredes foram decoradas com afrescos. No século XIX, o mosteiro ganhou sua forma final com a acréscimo de grandes prédios. Foi completamente abandonado depois de 1923 devido à troca forçada da população e realocação entre gregos e turcos sob o Tratado de Lausanne.

Tratado de Lausanne: válido por 100 anos, foi assinado na Suíça em 1923 por Grã-Bretanha, França, Grécia, Itália, Japão, Romênia, Iugoslávia e o então Império Otomano. Principais decisões: reconheceu a nova República da Turquia; delineou as fronteiras de Grécia, Bulgária e Turquia; concedeu todas as reivindicações turcas sobre as ilhas do Dodecaneso, Chipre, Egito, Sudão, Iraque e Síria; o povo armênio foi dividido entre a União Soviética e a Turquia; a Turquia teve que renunciar à sua soberania sobre Chipre, Líbia, Egito e cidades do Levante localizadas na Síria, como, Adana e Gaziantep; e os estreitos turcos entre o Mar Egeu e o Mar Negro foram declarados abertos a todos os navios com passagem irrestrita de civis.

O complexo do Mosteiro consiste em uma Igreja, capelas, cozinhas, quartos de estudantes, uma casa de hóspedes e uma biblioteca, todos parcialmente esculpidos na rocha, além de um aqueduto que coleta água de nascente da montanha.

Referências:

Geologia e Mosteiro de Sumela (acesso em 2023): hwww.researchgate.net1

Geologia e Mosteiro de Sumela (acesso em 2023): www.researchgate.net2

Mosteiro de Sumela (acesso em 2023): avrasya.edu.tr

Mosteiro Katskhi

Construção: no século IV.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Georgiano.
Local: no topo de pilar calcário, na região central de Imereti, na Geórgia.
Altitude: 600 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 40 m acima da região menos íngreme próxima, devido a erosão diferencial marinha de plataforma cárstica.
Litologia: Calcário do Cretáceo Superior (66-100 milhões de anos).

Mosteiro Katskhi (Foto: Johannesjom).

O Pilar Katskhi, onde o mosteiro de mesmo nome está assentado, é um pilar calcário de 40 m de altura, cujo nome, no idioma svan, significa "pico". Ele resulta da denudação do planalto cárstico Zemo Imereti. 

Este planalto constitui uma ligação entre o Cáucaso Maior e o Cáucaso Menor. Distingue-se geomorfologicamente como a parte mais elevada da depressão inter-montanha do Trans-Cáucaso, representando os remanescentes de peneplano do final do Mesozoico. O limite cárstico do planalto Zemo Imereti coincide com o contato dos calcários do Cretáceo Superior com rochas mais antigas que incluem uma suíte porfirítica do Bajociano (Jurássico Médio), ao norte e leste, e granitoides do Paleozoico Médio, ao sul e oeste.

Provavelmente, o Pilar Katskhi tenha sido inicialmente usado por cultos pagãos com ritos de fertilidade. Com a chegada do Cristianismo na Geórgia, no século IV, o mosteiro foi construído adotando o Cristianismo Ortodoxo Georgiano e o eremitismo. Estas práticas foram interrompidas quando o Império Otomano invadiu a Geórgia no século XV e, somente em 1990, os monges retomaram suas orações no topo do pilar.

Referências:

Pilar Katskhi (acesso em 2023): www.researchgate.net

Mosteiro Katskhi (acesso em 2023): eurasianet.org

Mosteiro Katskhi (acesso em 2023): www.bbc.com

Mosteiro Katskhi (acesso em 2023): www.atlasobscura.com

Mosteiro Vardzia

Construção: na segunda metade do século XII.
Religião: Cristianismo Ortodoxo Georgiano.
Local: nas encostas da Montanha Erusheti, na margem esquerda do rio Kura, no sul da Geórgia.
Altitude: 1.340 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~60 m acima da região menos íngreme próxima, devido à tectônica e ao vulcanismo do Cáucaso e à erosão.
Litologia: Tufo andesítico-dacítico do Mioceno Superior (~8,1 milhões de anos).

Mosteiro Vardzia (Foto: Lidia Ilona).

O mosteiro Vardzia está situado em província vulcânica do Cenozoico Superior, fazendo parte do bloco Erusheti da subzona Javakheti da zona Adjara-Trialeti do Cáucaso. Nesta região, há uma sequência de rochas que resulta de vários eventos vulcanoclásticos e piroclásticos, caracterizados por diferentes dinâmicas explosivas e composições químicas de lava. Este eventos produziram as rochas da Formação ou Suíte Goderzi do Mioceno Superior. Esta formação é constituída por estratos andesíticos-dacíticos, que se alternam com sedimentos lacustres. No século XII, o Mosteiro Vardzia foi encravado em rochas vulcanogênicas do chamado Horizonte Vardzia constituído por tufo andesítico-dacítico de grão fino levemente sinterizado.

Vardzia começou como uma fortaleza fronteiriça para servir de refúgio de longo prazo. Sua construção foi ordenada pelo Rei George III (?-1184) em um labirinto de cavernas que se aprofunda 50 m na rocha. De acordo com uma lenda local, a ainda criança e futura Rainha Tamara (1160-1213), filha de George III, andava pelas cavernas da região com um tio e se escondeu. O tio ficou assustado e chamou pela sobrinha. Ela respondeu: "Ak var, dzia" (que significa "estou aqui, tio"). O eco destas palavras nos meandros das cavernas chegou aos ouvidos do rei e ele achou que seria um bom nome para uma fortaleza naquelas montanhas.

O mosteiro-fortaleza de Varadzia inclui 120 celas monásticas, 420 salas para diversos fins, 25 adegas, além de depósitos, oficinas e 14 igrejas, podendo abrigar milhares de pessoas. Durante sua história, ele sofreu danos por causa de um terremoto em 1283 e foi atacado por persas no século XVI. A partir de 1938, Vardzia se transformou em museu religioso e hoje é uma atração turística.

Referências:

Geologia na região do Mosteiro Vardzia (acesso em 2023): www.researchgate.net

Geologia na região do Mosteiro Vardzia (acesso em 2023): science.org.ge

Mosteiro Vardzia (acesso em 2023): santosepulcro.co.il

Mosteiro de Tatev

Construção: no século IX.
Religião: Cristianismo Apostólico Armênio.
Local: na beira do desfiladeiro de Vorotan, nas proximidades da vila de Tatev da província de Syunik, no sudeste da Armênia.
Altitude: 1.450 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~320 m, em relação à região menos íngreme próxima, devido à tectônica e ao vulcanismo do Cáucaso e à erosão diferencial.
Litologia: rocha basáltica provavelmente do Plioceno Superior (entre 11,7 mil e 126 mil anos).

Mosteiro de Tatev (Foto: Diego Delso).

O Mosteiro de Tatev está situado em um grande planalto de rocha basáltica provavelmente do Plioceno Superior, na Província de Syunik. Esta província abriga pelo menos 160 centros vulcânicos compostos por cones e lavas de escória intermediária máfica, bem como cúpulas de riolito.

Para facilitar o acesso ao mosteiro, foi construído um teleférico, chamado "Asas de Tatev", inaugurado em 2010, que o liga até a vila de Halidzor. Ele entrou no Guinness World Records como o teleférico "de via dupla mais longo e sem paradas", com 5,7 km de extensão. O nome "tatev" em armênio significa "dar asas". Há uma lenda local que conta que um arquiteto pediu a Deus que lhe desse asas para poder ver o mosteiro do alto. Ele orou dizendo "Ognir, Surb, ta tev!" ("Espírito Santo, ajude-me a ter asas!") e foi atendido. Dizem que esta é a origem do nome do mosteiro.

Os prédios do Mosteiro de Tatev são protegidos em dois lados por ravinas escarpadas e nos outros dois por muralhas defensivas. Eles datam dos século IX e XIII e, mesmo com toda a proteção, sofreram diversos ataques e destruições por invasões estrangeiras e, inclusive, por um terremoto de 1931. Diversas restaurações foram providenciadas.

Nos séculos XIV e XV, abrigou a Universidade de Tatev, uma das mais importantes universidades medievais armênias e desempenhou papel relevante como centro de atividades econômicas, políticas, espirituais e culturais na região.

Referências:

Geologia do Cáucaso Menor (acesso em 2023): www.researchgate.net

Mosteiro de Tatev (acesso em 2023): www.thecaucasustours.com

Mosteiro de Tatev (acesso em 2023): sailingstonetravel.com

Mosteiro de Tatev (acesso em 2023): www.enterprise.am

Mosteiros elevados no domínio da Transformante do Mar Morto

Transformante do Mar Morto

O Sistema de Falhas Transformantes do Mar Morto ou simplesmente Transformante do Mar Morto, representa uma das regiões mais tectonicamente ativas do Oriente Médio. Este sistema, às vezes chamado de Rifte do Mar Morto ou Rifte do Levante, constitui uma série de segmentos de falhas que variam entre 25 e 55 km de comprimento. Estes segmentos são componentes extensionais no contexto da compressão do Rifte do Mar Morto.

Falha transcorrente: aquela que apresenta deslizamento horizontal paralelo à direção do plano de falha, que é vertical ou sub-vertical.
Falha transformante
falha transcorrente no limite de placas tectônicas.
Rifte: feição longa e estreita na crosta, de extensão regional, causada por extensão regional, falha transcorrente ou vulcanismo.
 
A Transformante do Mar Morto se estende desde o extremo norte do Rifte do Mar Vermelho (ao largo do sul da Península do Sinai), no sul, até as Montanhas Taurus, na junção tríplice de Maras (uma junção com a falha da Anatólia Oriental no sudeste da Turquia), no norte. Constitui movimentos sinistrais entre a placa Africana (representada pela sub-placa do Sinai), à oeste, e a placa Árabe, a leste.

Sinistral (movimento lateral esquerdo): diz-se, em relação a um observador olhando perpendicularmente para um plano de falha transcorrente, que o bloco mais distante teve movimento para a esquerda.
 
É uma importante zona de fratura e feição fisiográfica que atravessa uma área continental cujo embasamento foi moldado pela orogenia Pan-africana no Proterozóico Superior. Posteriormente, a região se tornou uma plataforma estável onde sedimentos planos de origem marinha continental e rasa foram depositados em vários períodos do Cambriano ao Cenozoico Inferior.

Sistema de Falhas Transformantes do Mar Morto e localização dos mosteiros elevados selecionados neste domínio (Foto: NASA / Mikenorton).

Na plataforma então estável desta região (Palestina, Israel, Jordânia, Líbano e Síria) ocorreram transgressões e regressões repetidas do Oceano Paleo-Tétis (aproximadamente na atual localização do Mar Mediterrâneo), no Paleozoico, até que as condições de deserto se estabeleceram. No Mesozoico, formaram-se as rochas sedimentares locais. Acredita-se que a maioria dos detritos resultantes da erosão dos sedimentos pré-cambrianos foram levados para o Paleo-Tétis.

Os principais eventos tectônicos neste período incluíram o rifting que moldou a margem continental mediterrânea no Mesozoico Inferior, uma fase vulcânica intraplaca do Cretáceo Inferior e dobramentos e falhas suaves expressando compressão do Cretáceo Superior ao início do Mioceno. Esta compressão provavelmente refletiu a convergência das placas ao longo do Cinturão Orogênico Alpino mais ao norte. No Pós-Mioceno começaram a ocorrer movimentos com pequenos componentes de extensão oblíqua, resultando na abertura de bacias. A região foi coberta por mares rasos até o final do Eoceno

Houve (tem havido) um ajuste continuo ao movimento das placas, pois as falhas transformantes tenderam a ser suavizadas à medida que a complexidade diminuiu com o aumento do deslocamento acumulativo. Isto se deve ao grande número de bacias e segmentos de falhas sobrepostas ao longo desta fronteira de placas.

Desde o início deste processo todo, 105 km de deslocamentos sinistrais ocorreram. Destes, uma movimentação de 30 km aconteceu nos últimos 5 milhões de anos, correspondendo a uma velocidade média relativa entre as placas de 6 mm/ano. Esta velocidade, que é menor que movimentação global entre as placas Africana e Árabe (10 a 15 mm/ano), pode estar relacionada à segmentação dos falhamentos. Várias estruturas tectônicas são representadas por estes segmentos, como, por exemplo, as encontradas no Golfo de Aqaba, no Wadi Araba, no Mar Morto, no Vale do Jordão (incluindo Jericó), no Mar da Galileia e nas bacias de Hulla.

Referências:

Sísmica na Transformante do Mar Morto (acesso em 2023): www.researchgate.net1

Evolução da Transformante do Mar Morto (acesso em 2023): www.researchgate.net2

Geologia da Cisjordânia (acesso em 2023): d-nb.info

Mosteiro de São Eliseu (ou Mar Lishaa)

Construção: no século XIV (porém restos de objetos do século XI foram encontrados durante uma restauração).
Religião: Cristianismo Católico Oriental.
Local: na face de penhasco do Monte Líbano, no Vale Qadisha, junto a cavernas pré-existentes.
Altitude: 1.360 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~80 m em relação à região menos íngreme próxima, devido ao soerguimento das rochas e à erosão no Vale Qadisha.
Litologia: Calcário do Jurássico (145-200 milhões de anos).

Mosteiro de São Eliseu (Foto: Vyacheslav Argenberg).

O Mosteiro de São Eliseu foi construído no Vale Qadisha (Wadi Qadisha – "Vale Sagrado" em siríaco), na cordilheira do Monte Líbano. Este vale, onde corre o Rio Qadisha, está localizado no norte do Líbano, na parte norte daquela cordilheira. O chamado Monte Líbano é uma cadeia de montanhas ocidentais do Líbano, adjacente à costa do Mar Mediterrâneo, com altitude média de 1.400 m, atingindo picos de mais de 3.000 m.

O território libanês é composto, entre 70% e 75%, por rochas carbonáticas expostas, incluindo calcário, calcário dolomítico e dolomita. Mais de 85% destas rochas são carstificadas e a dissolução de carbonato é bem pronunciada produzindo uma topografia irregular e acidentada. As rochas no Líbano são afetadas pela Orogenia Alpina do Eoceno Superior e Oligoceno, apresentando complicados sistemas tectônicos com falhas e dobramentos.

As encostas mais baixas do Monte Líbano, nas proximidades do Vale Qadisha, são compostas por calcários do Cretáceo, enquanto as encostas médias, onde se situa o Mosteiro de São Eliseu, são formadas por calcários do Jurássico altamente cársticos. Acima destes, ocorrem basaltos e arenitos, que produzem as mais altas altitudes.

O Vale Qadisha, Patrimônio Mundial da Unesco, abrange cavernas e mosteiros associados às atividades da era cristã primitiva. É o local onde o eremitismo maronita se originou e um dos poucos lugares no mundo onde o eremitismo em larga escala persiste. Monges, eremitas e refugiados cultivam sua comida nos terraços artificiais deste vale e extraem água dos riachos que descem das montanhas, principalmente de nascentes ao longo das imponentes paredes de calcário.

O Mosteiro de São Eliseu possui quatro capelas fixadas na rocha. No século XVII, tornou-se refúgio para o eremetismo do nobre francês François de Chasteuil (?-1644) depois que este abandonou a nobreza. Em 1643, foi refúgio de eremitas maronitas e carmelitas. Em 1693, foi abandonado completamente. Em 1695, acolheu a fundação da primeira ordem religiosa libanesa. Na segunda metade do século XIX, voltou a ser ocupado por monges.

Referências:

Geologia do Líbano (acesso em 2023): www.pseau.org

Vale Qadisha (acesso em 2023): www.researchgate.net1

Vale Qadisha (acesso em 2023): www.researchgate.net2

Mosteiro de São Eliseu e o Vale Qadisha (acesso em 2023): libshop.fr

Mosteiro de São Jorge de Choziba

Construção: no século V.
Religião: Cristianismo Ortodoxo grego.
Local: na face de penhasco no vale fértil de Wadi Qelt, no deserto da Judéia, na Cisjordânia
Altitude: 115 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de ~80 m acima da região menos íngreme próxima, devido ao soerguimento das rochas e à erosão.
Litologia: Calcário e Greda do Eoceno (34-56 milhões de anos).

Mosteiro de São Jorge de Choziba (Foto: Dr. Avishai Teicher).

Wadi Qelt (Wadi Kelt ou Nahal Prat), onde o Mosteiro de São Jorge está localizado, é o wadi ("vale" ou "cânion") mais longo do deserto da Judéia. Estende-se desde Jerusalém, passando por Jericó, até o Rio Jordão. É cercado por penhascos de calcário e greda e, ao longo do caminho, abriga nascentes naturais. É protegido através da Reserva Natural de Ein Prat, que engloba uma nascente e quatro oásis.

A partir do século IV, monges começaram a viver nas muitas cavernas de Wadi Qelt e, no século V, um egípcio, chamado João de Tebas, com a ajuda de cinco eremitas sírios, fundou o Mosteiro de São Jorge. Eles se estabeleceram em torno da caverna onde acreditavam que o profeta Elias fora alimentado por corvos. 

O mosteiro tem três níveis principais: superior (com a igreja-caverna de Elias, onde um tunel estreito é uma rota de fuga para o topo da montanha), médio (Igreja Matriz) e inferior (armazéns). Foi destruído no ano de 614 pelos persas. Em 1179, os cruzados tentaram restaurá-lo, mas foram expulsos pelos muçulmanos. Finalmente, foi restaurado pelo monge grego Kalinikos entre 1878 e 1901.

Referências:

Geologia da Cisjordânia (acesso em 2023): d-nb.info

Mosteiro de São Jorge (acesso em 2023): www.holylandsite.com

Deserto da Judéia (acesso em 2023): qumran.com

Wadi Qelt (acesso em 2023): dailyscripture.servantsoftheword.org

Mosteiro da Tentação

Construção: no século IV (reconstruído no século XIX).
Religião: Cristianismo Ortodoxo grego.
Local: na face íngreme do Monte da Tentação, na margem direita do Rio Jordão que corre no vale de mesmo nome, no deserto da Judéia, na Cisjordânia.
Altitude: 110 m acima do nível do mar
Elevação: desnível de 350 m em relação à cidade da Jordânia (cuja altitude é de -240 m), devido ao soerguimento das rochas e à erosão.
Litologia: Calcário e dolomito do Mioceno.

Mosteiro da Tentação (Foto: Flashpacker Travelguide).

O Monte da Tentação, onde este mosteiro está construído, é também conhecido como Quarantania ou Jabal al-Qarantal. Segundo a Bíblia, foi neste local que Jesus, durante sua quarentena de jejum, foi tentado pelo diabo. O monte está localizado a ~5 km de Jericó, no Vale do Jordão.

O Vale do Jordão foi formado no Mioceno, quando a placa Árabe se moveu para o norte e depois para leste, afastando-se da placa Africana. Os deslocamentos das falhas da região permitiram o desenvolvimento de vales e lagos, do próprio Mar Morto e também do Vale do Jordão.

No Cenomaniano e no Turoniano (Cretáceo Superior – entre 100 milhões e 90 milhões de anos), formaram-se as colinas da Cisjordânia com estratos espessos de calcário e dolomito e intercalações de margas. Desta idade é a Formação Jerusalém, que é encontrada no Monte da Tentação, caracterizada por calcário e dolomita carsificados com marga e, secundariamente, argila. Devido a fraturas e juntas, esta formação constitui um bom aquífero.

A tectônica complexa da região permitiu que, hoje, do mosteiro se aviste o Vale do Jordão, o Mar Morto e as montanhas de Moabe e Gileade. Desde a década de 1990, os visitantes também podem subir o Monte da Tentação em um teleférico.

A história do mosteiro tem início no ano de 340, no local das ruínas de Hasmonean. Neste local, no Monte da Tentação, um monge chamado São Chariton escavou na rocha um mosteiro bizantino que recebeu o nome de Laura de Douka. Este mosteiro foi destruído no ano 614 durante uma invasão persa e, a partir de suas ruínas, o atual Mosteiro da Tentação foi reconstruído no século XIX pelo Patriarcado Ortodoxo Grego.

Referências:

Geologia da Cisjordânia (acesso em 2023): d-nb.info

Geologia do Vale do Jordão (acesso em 2023): repositorium.sdum.uminho.pt

Mosteiro da Tentação (acesso em 2023): aleteia.org

Mosteiro da Tentação (acesso em 2023): www.petitfute.co.uk

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