27 de fevereiro de 2023

Contribuições da geologia aos mosteiros elevados - Parte II

  Por Marco Gonzalez

Monte Heng (produto da Orogenia Lüliang no Paleo-Proterozoico), com o Mosteiro Xuan Kong, no desfiladeiro de Jinxia, na China (Foto: Zhangzhugang)

Nesta Parte II, são apresentados e discutidos alguns exemplos de mosteiros elevados asiáticos construídos nos domínios das orogenias Lüliang, Pan-Africana e do Himalaia.

Mosteiro elevado no domínio da Orogenia Lüliang

Orogenia Lüliang

Por volta de 1,8 bilhões de anos, a Orogenia Lüliang causou a colisão (continente-continente) dos blocos Ocidental e Oriental do Craton Norte da China, a porção chinesa do Craton Sino-Coreano. Foi produzido o Orógeno Trans-Norte, formando-se o cinturão Hengshan-Wutai-Fuping intensamente deformado e metamorfizado através de subducção continental e espessamento crustal, com deposição de material detrítico em bacias sino-orogênicas. 

Craton: Porção da litosfera continental estável, com tectonismo praticamente ausente por mais de 200 milhões de anos, caracterizada por grande espessura e em grande parte composta por rochas granitoides.
Cinturão: sendo um "cinturão orogênico", é uma zona linear ou arqueada, em escala regional, que sofreu tectônica compressiva, mas pode ser também, por exemplo, um cinturão vulcânicoum cinturão metamórfico (ou especificamente um greenstone belt), um cinturão magmático ou um cinturão magmático e metamórfico.

O principal metamorfismo regional no cinturão Hengshan-Wutai-Fuping ocorreu em ~1,85 bilhão de anos e sua estabilização aconteceu após a intrusão de um enxame de diques máficos entre 1,78 bilhão e 1,75 bilhão de anos.

Craton Norte da China e  localização do mosteiro elevado selecionado neste domínio (Adaptado de: NASA / Celiayangyy)

Referências:

O cinturão Hengshan–Wutai–Fuping (acesso em 2023): researchgate.net1

O Orógeno Trans-Norte da China (acesso em 2023): hal-insu.archives-ouvertes.fr

Mosteiro Xuan Kong (Mosteiro Suspenso)

Construção: no século VI.
Religiões: Budismo, Taoismo e Confucionismo.
Local: na face rochosa do Monte Heng, no desfiladeiro de Jinxia, nas proximidades do Vale Jinlong, na província de Shanxi, na China.
Altitude: 1.320 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 75 m acima da base do desfiladeiro de Jinxia, causado por processos orogênicos e erosivos.
Litologia: gnaisse do Paleo-Proterozoico (entre 1,82 bilhões e 1,88 bilhões de anos).

Mosteiro Xuan Kong Si, na China (Foto: Charlie Fong).

O Mosteiro Xuan Kong foi construído na escarpa do Monte Heng (ou Hengshan), uma das cinco "Montanhas Sagradas" chinesas, que fazem parte do Craton do Norte da China. Esta montanha se encontra no Cinturão Hengshan–Wutai–Fuping, que envolve magmatismo e metamorfismo.

Na porção nordeste deste cinturão está situado o Complexo Hengshan, com metamorfismo de fácies de ambibolito a granulito. Uma de suas unidades é identificada como Gnaisse Hengshan, constituída por ortognaisses com camadas fortemente deformadas de composição diorítica-tonalítica-trondhjemítica-granodiorítica-granítica pertencentes a um conjunto calcalino de alta alumina de ambiente de arco magmático. É esta rocha que agora suspende o Mosteiro Xuan Kong.

Este mosteiro, também conhecido como Xuankong Si ou 悬空寺 ("templo suspenso no ar") é constituído de um aglomerado de pagodes com paredes vermelhas e azulejos cinzas. Desde o século VI, ele está fixado através de vigas de madeiras encaixadas em buracos esculpidos na escarpa do Monte Heng. Os construtores buscavam isolamento e proteção contra alagamentos, neve e sol constante e garantir o silêncio desejado.

Pagode: prédio usado pelos povos de determinadas religiões orientais para o culto de seus deuses.

Os pagodes deste mosteiro contam com mais de quarenta salões, salas e pavilhões subdivididos em três grupos. Respectivamente, da esquerda de quem olha para à direita, há o prédio Sanguan, destinado à oferendas de sacrifícios ao Taoísmo, o prédio Sansheng, que consagra estátuas de Buda sentado, e o prédio Sanjiao, que guarda estátuas de Confúcio, Laozi e Sakyamuni, fundadores respectivamente do Confucionismo, do Taoísmo e do Budismo. 

Conta uma lenda local que a construção de Xuan Kong Si começou com um único monge, chamado Liao Ran, no final da Dinastia Wei do Norte, por volta do século VI. Com o passar do tempo, ele foi recebendo ajuda de construtores taoístas. O objetivo foi construir um santuário onde os praticantes pudessem meditar em silêncio longe de todos. Ninguém imaginava, na época, que Xuan Kong Si se transformaria em uma atração turística muito frequentada. Ele foi amplamente reconstruído e mantido na dinastia Ming (1368-1644) e na dinastia Qing (1644-1911).

Referências:

O cinturão Hengshan–Wutai–Fuping (acesso em 2023): www.researchgate.net

O Templo Suspenso e a Montanha Hengshan (acesso em 2023): web.archive.org1

O Templo Suspenso de Shanxi (acesso em 2023): www.imqs.ie

Xuan Kong Si, Província de Shanxi, China (acesso em 2023): web.archive.org2

Mosteiro elevado no domínio da Orogenia Pan-Africana

Orogenia Pan-Africana

Entre 870 milhões e 550 milhões de anos atrás, envolvendo cratons antigos, vários cinturões orogênicos móveis se formaram em evento interpretado como tectono-termal. Este evento, na verdade, constitui a parte final de um ciclo orogênico e recebeu o nome de Orogenia Pan-Africana e, associado ao Gondwana, recebeu nomes mais regionais, como Brasiliano (na América do Sul), Adelaideano (na Austrália) e Beardmore (na Antártica).

Atualmente, a Orogenia Pan-Africana é usada para identificar atividades tectônica, magmática e metamórfica do Neoproterozoico ao Paleozoico Inferior. Deve ser considerada como um ciclo orogênico prolongado que abriu e fechou grandes domínios oceânicos e produziu porções acrecionárias e colisões de blocos crustais flutuantes.

Evento tectono-termal: aquele que envolve tectonismo, magmatismo e metamorfismo.
Acreção
processo de aglomeração ou aglutinação horizontal de massas continentais menores a um continente, geralmente em suas bordas ou margens ativas, devido à deriva de placas tectônicas, aumentando a área e/ou volume da crosta continental que sofreu a acreção.

A região do Sri Lanka ocupa posição geológica única em relação ao Gondwana, tendo experimentado seu principal desenvolvimento estrutural e metamórfico durante a Orogenia Pan-Africana. Uma série de processos orogênicos no Gondwana Oriental envolveu fragmentos continentais, incluindo o Sri Lanka com suas quatro províncias tectônicas do Proterozoico: o Complexo Wanni, o Complexo Kadugannawa, o Complexo Vijayan e o Complexo Highland. Este último é caracterizado por idades de formação de crosta de 2-3 bilhões de anos e metamorfismo de fácies granulita de 550-610 milhões de anos. 

Geologia do Sri Lanka e localização do mosteiro elevado selecionado neste domínio (Adaptado de: NASA / P.L.Dharmapriya).

Referência:

A Orogenia Pan-Africana (acesso em 2023): researchgate.net1

Eventos termais do Sri Lanka relacionados ao Gondwana (acesso em 2023): www.researchgate.net2

Sri Lanka e Orogenia Pan-Africana (acesso em 2023): www.researchgate.net3

Mosteiro de Sigiriya

Construção: no século III.
Religião: provavelmente Budismo.
Local: no topo de plug vulcânico no distrito de Matale, no Sri Lanka.
Altitude: 260 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 180 m acima da região circundante, causado por erosão diferencial.
Litologia: gnaisse do Neoproterozoico (entre 550 milhões e 610 milhões de anos), cujo protólito foi um granito do Paleo-Proterozoico (~2 bilhões de anos).

Mosteiro de Sigiriya (Foto: Amila Tennakoon)

O Mosteiro de Sigiriya está localizado na região do Complexo Highland. Para a concretização do cenário geológico atual, contribuíram os seguintes eventos:
  • no Paleo-Proterozoico, vulcanismo intenso que produziu um pipe no local onde se encontra Sigiriya;
  • também no Paleo-Proterozoico, magmatismo que preencheu com lava granítica aquele pipe (com posterior solidificação do granito);
  • no Neoproterozoico, metamorfismo, datado entre 550 milhões e 610 milhões de anos, que transformou aquele granito em gnaisse; e
  • na sequência, erosão diferencial que moldou a paisagem atual.
Pipe (chaminé) / plug (tampão) / neck (pescoço): pipe (duto cilindriforme verticalizado por onde fluiu o magma vindo da câmara em um aparelho vulcânico), plug e neck são usados comumente para fazer referência ao corpo de rocha que solidificou naquele duto.

A formação rochosa onde está assentado o mosteiro, um inselberg com 180 m de altura, tem o nome de Sigiriya Rock e o apelido de "Pedra do Leão", uma referência ao que parecem ser patas esculpidas na sua base. A litologia de Sigiriya Rock é constituída (de baixo para cima) por granada-hornblenda-biotita gnaisse, biotita-hornblenda gnaisse migmatítico e, na parte superior, gnaisse granítico a oeste e mármore impuro a leste. Estas rochas foram usadas para vários propósitos no local, como guaritas, salões, degraus e pilares.

Sigiriya Rock é uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo e Patrimônio Mundial da Unesco. Ela suporta uma fortaleza datada do século V, do tempo do Rei Kashyapa I (473-495). Do século III (mesmo antes da construção da fortaleza) ao século XIV, o local foi usado como mosteiro, exceto na segunda metade do século V, quando o rei decidiu construir ali sua residência real. A construção no topo da rocha inclui cisternas e jardins elaborados, cavernas com afrescos e uma escada em espiral para chegar lá.

Referências:

Eventos termais do Sri Lanka relacionados ao Gondwana (acesso em 2023): www.researchgate.net1

Sri Lanka e Orogenia Pan-Africana (acesso em 2023): www.researchgate.net2

Sigiriya Rock (acesso em 2023): earthobservatory.nasa.gov

Sigiriya Rock: uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo (acesso em 2023): www.themorning.lk

Sigiriya: a oitava maravilha do mundo (acesso em 2023): sigiriyatourism.com

Mosteiros elevados no domínio da Orogenia do Himalaia

Himalaia

A Cordilheira do Himalaia, localizada na margem sul do planalto tibetano, forma um arco montanhoso (convexo para o sul) com cerca de 2.400 km de comprimento e 250 a 300 km de largura. O Himalaia pode ser subdividido em seis grandes zonas ou cinturões: 
  • Trans-Himalaia, ao norte dos rios Indo e Yarlung-Tsagpo, no Planalto Tibetano, com rochas graníticas de 110-40 milhões de anos.
  • Zona de Sutura Indus-Tsangpo, na fronteira entre as placas Indiana e Asiática, representa uma antiga zona de subducção, com deriva no Mesozoico e colisão no Eoceno, envolvendo rochas do Proterozoico ao Cretáceo. São encontradas rochas vulcânicas de fundo de oceano, rochas metamórficas de alta pressão relacionadas a subducção e rochas sedimentares do fundo do Oceano Tétis. 
  • Tétis-Himalaia (ou Himalaia Tibetano), principalmente no sul do Tibete, na margem norte da placa Indiana, possui rochas sedimentares do Cambriano ao Eoceno cujos sedimentos foram depositados em plataforma continental. Estas rochas estão expostas em locais como Caxemira, Zanskar, Chamba e Spiti.
  • Himalaia Maior (ou Superior), formado por rochas metamórficas do Proterozoico ao Cambriano, também na margem norte da placa Indiana, constitui a espinha dorsal das montanhas do Himalaia.
  • Himalaia Menor (ou Inferior), ao sul do Himalaia Maior, também na margem norte da placa Indiana, apresenta rochas sedimentares metamorfizadas e rochas vulcânicas e graníticas do Proterozoico ao Cambriano.
  • Sub-Himalaia (ou Cordilheira Siwalik) é constituída por uma sucessão de arenitos e argilitos cujos sedimentos foram depositados desde o Mioceno.
Pode-se dizer que a história de evolução destas zonas começou durante o Permiano (275-260 milhões de anos), quando alguns fragmentos do Gondwana se afastaram, abrindo o Oceano Neo-Tétis com grande erupção vulcânica. Novas fragmentações ocorreram, com a Índia se afastando da África no Jurássico Médio (~165 milhões de anos), a Índia se separando da Antártica Oriental no Cretáceo Inferior (~135 milhões de anos) e a divisão entre Índia e Madagascar no Cretáceo Superior (~85 milhões de anos).

Então, há 60 milhões de anos, uma colisão entre as placas tectônicas da Índia e da Eurásia desencadeou a Orogenia do Himalaia propriamente dita, dando início à formação de uma cordilheira cuja elevação média ultrapassa hoje 6.000 m de altitude. Dos 14 picos da Terra com altitude acima de 8.000 m, dez estão nesta cordilheira. É considerada uma orogenia continental que continua ativa e pode ser resumida em três estágios:
  • Estágio de colisão suave (60-40 milhões de anos). A crosta do Himalaia engrossou para ~40 km de espessura e ocorreu derretimento parcial em pequena escala. As rochas foram elevadas acima do nível do mar e o orógeno do Himalaia iniciou a ser formado. Houve transição sedimentar de calcário marinho para calcário clástico continental nas bacias de foreland do Eoceno.
  • Estágio de colisão forte (40-16 milhões de anos). A crosta do Himalaia gradualmente engrossou para 60-70 km de espessura, metamorfismo generalizado de alto grau e fusão parcial ocorreram na crosta profunda e houve elevação das altitudes máximas para mais de 5.000 m.
  • Estágio de colisão tardia (16 milhões de anos em diante). A placa indiana moveu-se para abaixo da sutura Pangong-Nujiang. Um equilíbrio dinâmico entre denudação e soerguimento foi finalmente alcançado e as montanhas atingiram suas altitudes máximas atuais de mais de 8.000 m.
Neste contexto, a cordilheira Indo-Birmanesa constitui um prisma de acréscimo, com tendência norte-sul, que se formou durante a subducção da placa Indiana sob a Asiática. Seu segmento norte está diretamente associado à Sintaxe Oriental do Himalaia. A região tem uma história complexa de esforços de cavalgamento com encurtamento da crosta no Cenozoico e movimento de oeste para leste através daquela sintaxe.

Representação esquemática das zonas do Himalaia e localização dos mosteiros elevados selecionados neste domínio  (Adaptado de: Wikipedia / Moumine)

O Himalaia deu início e fortaleceu a circulação das monções asiáticas através da elevação do Planalto do Himalaia-Tibet a tal ponto de alterar o clima, tornando úmida e fértil uma região que deveria ser árida e estéril.

Tétis: oceano tropical, formado pelo rifteamento do supercontinente Pangea, que separava durante o Mesozoico os supercontinentes Laurásia, ao norte, e Gondwana, ao sul. É também chamado de Neo-Tétis em contraposição ao Paleo-Tétis.
Paleo-Tétis: oceano que se abriu em resposta à separação do Bloco da Indochina do Gondwana, no Devoniano, ocupando grande área próxima ao equador até o Triássico.
Foreland (ou antepaís): área estável (cratônica), junto a um orógeno, em direção à qual são empurradas as rochas do cinturão dobrado.
Sintaxe: curva acentuada em um cinturão orogênico causada por movimentos tectônicos.
Monções asiáticas: fenômeno climático que gera tempestades sazonais com irrigação de plantações e florestas, mas também produz tufões e inundações prejudiciais. Ao longo de milhões de anos, é uma das principais causas de mudanças ambientais em uma região que inclui o subcontinente indiano e o sudeste da Ásia, além de China, Coréia e Japão.

Referência:

Formação geológica do Himalaia (acesso em 2023): www.himalayanclub.org

Orogenia Colisional do Himalaia (acesso em 2023): www.researchgate.net

Zona de Sutura Indus-Tsangpo (acesso em 2023): geojournals.pgi.gov.pl

Cordilheira Indo-Birmanesa (acesso em 2023): agupubs.onlinelibrary.wiley.com

Cordilheira Indo-Birmanesa (acesso em 2023): repositorio.usp.br

Mosteiro Dhankar

Construção: no século XVI.
Religião: Budismo Tibetano.
Local: no topo de penhasco entre os esporões rochosos do alto Himalaia, no Vale Spiti, na vila de Dhankar do distrito de Himachal Pradesh, na Índia.
Altitude: 3.894 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 300 m acima da vila de Dhankar, causado pela Orogenia do Himalaia e por erosão fluvial e glacial.
Litologia: Dolomito do Grupo Lilang do Triássico (200-250 milhões de anos).

Mosteiro Dhankar (Foto: Mdipa)

O Mosteiro Dhankar foi construído em rochas do Grupo Lilang, que é representado por uma sequência carbonática de mais de 1.000 m de espessura com intercalações de calcário e xisto encimadas por calcário maciço. Este grupo engloba duas formações: a formação Nunuluka, composta por quartzitos, calcário e folhelhos, e a Formação Kioto, na parte superior, constituída por calcário e dolomito.

Estas rochas cobrem ampla área nas bacias de Lahaul-Spiti, Kinnaur e Zanskar e produzem uma topografia com altos cumes e vales que fazem parte do Himalaia no distrito de Himachal Pradesh. As principais feições hidrogeomorfológicas demarcadas são vales fluviais e glaciais, colinas estruturais e geleiras.

Dhankar é um mosteiro do século XVI, que também serviu como forte e prisão em alguns períodos. Dhankar Gomba, como é conhecido, tem cinco salões diferentes, sendo Kanjur, Lhakhang e Dukhang os principais. Guarda uma enorme imagem de prata em tamanho real de Vajradhara, o Buda primordial, mantida em um altar de vidro.

Referências:

Geologia do Vale Spiti (acesso em 2023): cgwb.gov.in

Dhankar Gompa, Vale Spiti (acesso em 2023): www.tourmyindia.com

Mosteiro Key

Construção: provavelmente no século XI.
Religião: Budismo Tibetano.
Local: em elevação na base de penhasco do Vale Spiti, no estado de Himachal Pradesh, no extremo norte da Índia.
Altitude: 4.166 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 120 m acima do Rio Spiti, causado pela Orogenia do Himalaia e por erosão fluvial e glacial.
Litologia: siltito argiloso cujos sedimentos foram depositados entre o Jurássico Médio (Callovian, ~165 milhões de anos) e o Cretáceo Inferior (~130 milhões de anos).

Mosteiro Key, com o Rio Spiti ao fundo (Foto: Pranav)

Na região do Mosteiro Key, nos vales de Lahaul e Spiti, ocorrem rochas da formação Folhelho Spiti, que é amplamente distribuída na margem norte passiva do craton indiano, depositada entre o Jurássico Médio (Callovian) e o Cretáceo Inferior. Durante o Jurássico, o craton indiano estava situado na margem sul do Oceano Neo-Tétis, com sua parte norte formando uma margem passiva. Os sedimentos marinhos depositados nesta margem foram preservados no Himalaya, sendo os estratos siliciclásticos dominados por siltito argiloso cinza-escuro a preto, com ocasionais intercalações de arenito.

Spiti é considerada uma das áreas mais ricas em fósseis do mundo. Eles testemunham a colisão das placas tectônicas da Índia e da Eurásia que levaram à formação do Himalaia.

Os vales de Lahaul e Spiti são cortados pelos rios Chandra e Spiti e seus afluentes. A região é cercada por uma série de altas montanhas, com altitudes médias de 5.400 m, entre o Grande Himalaia (Himadri), ao norte, e o Médio Himalaia, ao sul. O nome Spiti em tibetano, adequadamente, significa "Terra do Meio".

O Mosteiro Key (Kye ou Kee) foi usado como centro de treinamento para Lamas (professores no Budismo). Contam que foi fundado por Dromtön, aluno do famoso professor Atisha, no século XI, mas não há confirmação. Suas paredes são decoradas com pinturas, murais e thangkas (bandeiras tibetanas pintadas ou bordadas). Possui manuscritos valiosos, imagens de estuque, instrumentos de sopro e uma coleção de armas que provavelmente serviram para sua defesa. O mosteiro consagra ídolos de Buda na posição Dhyana e está distribuído em três andares: subsolo (para armazenamento), térreo (salão de reuniões, chamado Du-Khang) e primeiro andar (salas para monges).

Foi frequentemente atacado pelos mongóis, no século XVII, durante o governo de Ngawang Lobsang Gyatso (1617-1682), o Quinto Dalai Lama. No século XIX foi atacado e saqueado por diversos exércitos que travavam combates na região. Um incêndio devastador aconteceu na década de 1840 e, em 1975, um violento terremoto lhe causou mais danos.

Referências:

Folhelho Spiti (acesso em 2023): www.sciencedirect.com

Vale Spiti, a Terra do Meio (acesso em 2023): www.tripoto.com

Key Gompa (acesso em 2023): www.amusingplanet.com

Monastério Key (acesso em 2023): www.india.com

Mosteiro Phugtal

Construção: no início do século XV.
Religião: Budismo Tibetano.
Local: encravado na face de penhasco do Vale de Lungnak, na região sudeste de Zanskar, no distrito de ladakh, no norte da Índia.
Altitude: 3.880 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 60 m acima do Rio Tsarap, causado pela Orogenia do Himalaia e por erosão glacial, pluvial e fluvial em rochas da plataforma de Zanskar oriundas da Zona de Sutura Indus-Tsangpo.
Litologia: dolomitos do Eoceno Inferior (~50 milhões de anos).

Mosteiro Phugtal (Foto: Hongci Yonghu)

O Mosteiro Phugtal foi assentado na face de um penhasco do Vale de Lungnak que faz parte da plataforma de Zanskar. Estas rochas são produto da colisão da placa Indiana com os blocos de acreção Karakoram-Lhasa que acarretou o fechamento de Oceano Neo-Tétis ao longo da Zona de Sutura Indus-Tsangpo.

Os sedimentos marinhos mais jovens da plataforma de Zanskar são do Eoceno Inferior, cuja deposição se deu após a da molassa continental. Nesta plataforma, encontra-se a Unidade Phugtal, da qual faz parte a Formação Karsha, com três membros:
  • Membro Mauling, com ~600-800 metros de espessura, composto predominantemente por siltitos intercalados por leitos dolomíticos decimétricos a plurimétricos, cujos sedimentos foram depositados em ambientes supratidal e subtidal;
  • Membro Thidsi, formado por dolomitos maciços, com até 200 m de espessura, tendo estromatólitos frequentes indicando ambiente subtidal com baixo influxo terrígeno; e
  • Membro Teta, com espessura que varia entre 70 e 160 m, composto pela alternância bem estratificada de calcários margosos cinzentos com xistos negros, registrando aumento na profundidade da água, do ambiente peritidal para a plataforma externa.
Molassa: sequência deposicional de bacia intramontanha ou marginal ao orógeno, tardi a pós-orogênica, caracterizada por sedimentação variável, em grande parte terrígena, grosseira, arcosiana, podendo contar com magmatismo e vulcanismo.
Supratidal: zona que está acima do nível da maré alta e é inundada apenas em grandes cheias ou durante tempestades.
Subtidal: zona que está abaixo do limite médio do nível da maré baixa e raramente (ou nunca) é exposta.
Peritidal
zona que se estende desde acima do nível da maré alta até abaixo do limite inferior exposto na maré baixa.

O mosteiro de Phugtal, que parece um favo de mel à distância, foi construído com barro e madeira na entrada de uma caverna na face do penhasco. Foi fundado no início do século XV pelo monge Jangsem Sherap Zangpo (1395-1457), discípulo do monge, filósofo e iogue tântrico Tsongkhapa (1357-1419). Acredita-se que a caverna tenha sido usada por cerca de 2.500 anos por monges para meditação, muito antes da construção do mosteiro. Uma lenda conta que Zangpo fez com que uma fonte fluísse da caverna, uma árvore crescesse no seu topo e a própria caverna aumentasse de tamanho. Então, ele orientou a construção do mosteiro naquele local.

O nome Phuktal (ou Phukthar) é composto de "phuk" ("caverna") e "thal ("à vontade") ou "thar" ("liberação"). Em tradução livre, o nome do mosteiro teria o significado "caverna do lazer" ou "caverna da libertação".

Referências:

Tectônica de colisão do Himalaia em Ladakh-Zanskar (acesso em 2023): royalsocietypublishing.org

Evolução tectônica e metamórfica do Himalaia em Zanskar (acesso em 2023): zanskar.geosphere.ch

O Monastério Phugtal (acesso em 2023): monsterodyssey.com

Mosteiro Taktsang

Construção: no século VIII.
Religião: Budismo Tibetano.
Local: em ressalto de penhasco, acima do Vale do Paro, no Butão, na parte mais oriental da Cordilheira do Himalaia.
Altitude: 3.050 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de 914 m acima do Vale do Paro, causado por processos orogênicos e erosivos.
Litologia: gnaisse do Oligoceno (~28 milhões de anos) ao Mioceno (~12 milhões de anos), cujos protólitos seriam rochas sedimentares do Mesoproterozoico (~1,2 bilhão de anos) ao Paleozoico Inferior (<540  milhões de anos)

Mosteiro Taktsang (Foto: Douglas J. McLaughlin)

O Mosteiro Taksang está assentado em uma rocha chamada Gnaisse Taktsang pertencente a um núcleo de rochas metamórficas de alto grau identificado como Grande Sequência do Himalaia. A localidade tipo deste gnaisse de fácies silimanita-granulita fica justamente na região do mosteiro. Ali, ele é definido como um granada-silimanita-biotita gnaisse bandado com veios de quartzo branco e aplito, tendo pelo menos 700 m de espessura. Ocorre sobre rochas metassedimentares de baixo grau da Formação Paro, também pertencente à Grande Sequência do Himalaia.

O nome do Mosteiro Taktsang (Taktshang, Ta-tshang ou Taksing) significa "Ninho do Tigre" e é um dos locais de peregrinação mais venerados do Himalaia. Alcançar o Ninho do Tigre exige uma subida de duas a três horas desde o fundo do vale em uma trilha íngreme e em ziguezagues cada vez mais verticais. Corrimãos foram colocados apenas recentemente.

O mosteiro foi contruído no século VII aproveitando uma caverna já existente na rocha. Na década de 1960, ele foi renovado e acréscimos foram construídos nas décadas de 1860 e 1980. Em 1998, um incêndio o destruiu quase totalmente, principalmente devido à dificuldade de acesso para o combate às chamas. A estrutura atual foi reconstruída em 2005. 

O Mosteiro Taktsang tem arquitetura tradicional budista, com prédios com paredes caiadas de branco e telhados dourados. É constituído por quatro templos principais interligados por escadas com degraus esculpidos na rocha. Contam que, no século VIII, uma tigresa trouxe nas costas o fundador do budismo do Butão, conhecido como Padmasmabhava ou como Guru Rinpoche. Historicamente, este guru foi um brâmane da realeza que disseminou o budismo tântrico pelo Butão e pelo Tibete, onde Padmasmabhava é considerado tão sagrado quanto o próprio Buda.

Alta importância espiritual também é atribuída às montanhas do Butão pelas comunidades históricas do país. Em respeito a elas, desde 1991, todos os picos acima de 6.000 m de altitude têm escalada proibida.

Referências:

Gnaisse na Grande Sequência do Himalaia (acesso em 2023): www.researchgate.net1

Magmatismo e metamorfismo no cinturão orogênico do Himalaia (acesso em 2023): www.frontiersin.org

Geologia do Butão (acesso em 2023): peakvisor.com

Gnaisse na geologia do Himalaia (acesso em 2023): www.tandfonline.com

Geologia e tectonismo no Butão central (acesso em 2023): www.researchgate.net2

Biodiversidade do Butão e o Gnaisse Taktsang (acesso em 2023): biodiversity.bt

O Mosteiro do Ninho do Tigre (acesso em 2023): www.atlasobscura.com

O Mosteiro Taktsang (acesso em 2023): www.drukasia.com

O Mosteiro Taktsang (acesso em 2023): www.parotaktsang.org/

Mosteiro Taung Kalat

Construção: na segunda metade do século XIX.
Religião: Budismo.
Local: topo de inselberg nas proximidades do Monte Popa, no município de Kyaukpadaung, na região de Mandalay, em Myanmar.
Altitude: ~700 m acima do nível do mar.
Elevação: desnível de mais de 100 m acima da região circundante, causado por erosão diferencial.
Litologia: andesito do Pleistoceno Médio (0,68 ± 0,04 milhões de anos).

Mosteiro Taung Kalat (Foto: Shaun Dunphy)

A formação rochosa, onde está assentado o Mosteiro Taung Kalat (ou Taunggalla), representa um evento vulcânico acessório ao vulcanismo principal do Monte Popa. Este inselberg dista cerca de 350 m da cratera central. O Monte Popa faz parte dos cinturões magmáticos que atravessam Myanmar incorporados à Cordilheira Indo-Birmanesa. A atividade vulcânica no Monte Popa ocorreu do Mioceno Superior ao Quaternário.

A feição geomorfológica onde está o Mosteiro Taung Kalat é composta por um hornblenda andesito pouco vesicular e ligeiramente oxidado com juntas formando blocos grosseiros. Este inselberg é comumente identificado como um plug vulcânico, no entanto não estão presentes características clássicas de condutos deste tipo. Não são encontrados, por exemplo, contatos brechados verticais nem sinais de alteração hidrotermal. Provavelmente ele representa um remanescente da erosão diferencial que afetou os fluxos de lava que preencheram uma paleo-depressão. Esta, por sua vez, resultou da erosão do Arenito Irrawaddy fracamente cimentado. Tais fluxos de lava devem ter sido originados, no Pleistoceno Médio, de uma das primeiras erupções do Monte Popa a partir da cratera principal ou de aberturas de flanco.

O Mosteiro Taung Kalat, estabelecido no século XIX, está associado, de acordo com a tradição budista, a Nats, que são espíritos de humanos que tiveram fins trágicos. Na base do inselbert estão colocadas estátuas de 37 Nats em um prédio ornamentado. Neste prédio tem início uma escada com 777 degraus que leva ao topo onde se encontra o mosteiro com um complexo de cinco pagodes dourados. Estima-se que 2.000 macacos Rhesus vivam no local e muitas pessoas ganham a vida limpando a sujeira destes macacos em troca de alguma doação. 

Referências:

Geomorfologia do Monte Popa (acesso em 2023): zenodo.org

Erupções do Monte Popa (acesso em 2023): repo.kscnet.ru

Geologia da Bacia Irrawaddy (acesso em 2023): eprints.bbk.ac.uk

Monte Popa (acesso em 2023): www.atlasobscura.com

O Mosteiro Taung Kalat (acesso em 2023): www.wondermondo.com

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