Datam do século XIX as primeiras ocorrências de cobre encontradas no Brasil:
- Mina de Pedra Verde, no Ceará, em 1833;
- Minas do Camaquã, no Rio Grande do Sul, em 1865; e
- Mina da Caraíba, na Bahia, em 1874.
As Minas do Camaquã estão localizadas no 3° distrito de Caçapava do Sul, a 70 km da sede do município. A jazida fica a 300 km do porto de Rio Grande, por onde o concentrado de cobre produzido era enviado para a metalurgia da Caraíba Metais, em Camaçari, na Bahia. As Minas do Camaquã foram exploradas também com algumas interrupções por 126 anos, de 1870 a 1996.
Vista da Vila São Luiz, nas Minas do Camaquã, em 1977. Em primeiro plano, mais à esquerda e abaixo, é possível ver o silo e o viaduto utilizado para transporte do minério por vagonetas, construídos pelos belgas por volta do ano 1900 (fonte: Gonzalez)
A terceira mina, constituída pelo depósito de cobre da Mineração Caraíba, está localizada no Distrito de Pilar, município de Jaguarari, no norte da Bahia, no Vale do Curaçá. Este depósito é explorado desde 1974.
As descobertas das ocorrências de cobre
1833
O engenheiro de minas e barão alemão Wilhelm Eschwege publicou, na Alemanha, o primeiro relato sobre o cobre no filito Pedra Verde, do Ceará, no livro "Pluto Brasiliensis".| Neste mesmo ano, o escocês Charles Lyell finalizava a publicação de "Principles of Geology". |
| A partir de 1850, a química orgânica viabilizava o surgimento da indústria dos explosivos e, em 1853, era inventada na Alemanha uma perfuratriz semelhante às de ar comprimido modernas. |
1857
Vinte e dois anos após a publicação de Eschwege, foi registrada a primeira menção oficial no Brasil sobre Pedra Verde em um litígio relacionado à posse de terras no Ceará.| Em meados do século XIX, o processo de flotação despertava interesse na mineração. |
| Até o final do século XIX, as rochas brasileiras eram "perfuradas" com ponteiras e marretadas e desmontadas com pólvora caseira. |
1865
No Brasil, o Sr. João Dias dos Santos Rosa havia encontrado rochas esverdeadas em suas terras no município de Caçapava do Sul, RS. Ele mostrou uma delas a D. Pedro II, durante a estada do Imperador brasileiro naquele município, e este escreveu uma carta a engenheiros ingleses, que mineravam em Lavras do Sul, para analisarem o material. A pedra foi enviada à Inglaterra e, cerca de seis meses depois, veio a confirmação de que se tratava de cobre.| Em 1867, o engenheiro sueco Alfred Nobel inventava a dinamite e, em 1877, o Canadá instalava redes telefônicas em minas subterrâneas. |
1870
A carta de D. Pedro II acabou tendo consequências. De 1870 a 1887, engenheiros ingleses da empresa "The Rio Grande Gold Mining Limited" iniciaram a minerar nas Minas do Camaquã com a abertura de uma galeria conhecida como “galeria dos ingleses”.
1874
Neste meio tempo, em 1874, foi descoberto o depósito mineral da Mina Caraíba no Vale do Curaçá, no atual município de Jaguarari, na Bahia.Os franceses, os alemães e os belgas
| Em 1877, os irmãos Bessel, alemães, patenteavam um processo de flotação semelhante ao atual. |
| Em 1879, uma planta experimental para refinar cobre por eletrólise era operada na Pensilvânia, EUA. |
1880
Por volta de 1880, mineradores franceses iniciaram a exploração do minério de cobre oxidado em Pedra Verde. Ele era transportado por animais até o porto de Camocim, no Ceará, onde embarcava com destino à França.
Resquícios da entrada da Mina de Pedra Verde na base da Sera de Ibiapaba (cortesia de José Henrique Matos)
| Em 1883, o refino eletrolítico do cobre era demonstrado experimentalmente por Maximilian de Beauharnais, 3º duque de Leuchtenberg. |
| Até 1888, na época do Império, praticamente não havia estrutura industrial no Brasil. No final deste período, a iniciativa privada era responsável pela mineração. Ingleses, belgas e franceses vinham ao Brasil para retomar minas que necessitavam de novas tecnologias. |
1888
De 1888 a 1899, empresários alemães extraíram manualmente minério das Minas do Camaquã com 15 a 20% de cobre. O metal, transportado em carros de boi por 90 quilômetros até uma estação de trens, seguia então para o porto de Rio Grande para tomar o destino da Inglaterra. Estes trabalhos foram interrompidos devido ao alto custo do transporte e à queda do preço do cobre.
1899
As Minas do Camaquã foram vendidas à Companhia Belga (“Societé Anonime des Mines de Cuivre de Camaquan”) que investiu em infraestrutura, instalando uma usina de beneficiamento e construindo uma barragem para fornecimento de energia.Estudos geológicos do depósito de Pedra Verde
| A partir da década de 1890, na Inglaterra, a iluminação das minas passava a usar gás de acetileno. |
| No Brasil, de 1889 a 1929, na primeira República, o crescimento econômico e as importações exigiam esforço do governo em busca de minérios. |
1900
No início do século XX, diversos geólogos visitaram a ocorrência de Pedra Verde na Serra da Ibiapaba, no Ceará.
Breve retomada nas Minas do Camaquã
1901
A lavra das Minas do Camaquã foi retomada pela Companhia Belga, sendo aberta a chamada "galeria belga" no lado oposto à antiga "galeria dos ingleses". Houve desenvolvimento subterrâneo expressivo para época, com extração de minério com até 30% de cobre. Foram exportadas 90 a 100 toneladas mensais para a Inglaterra em sacos de lona.
1909
A Companhia Belga encerrou as atividades nas Minas do Camaquã devido à queda do preço do cobre, à descoberta de minas no Congo-Belga e ao alto custo dos transportes.
Parte do museu das Minas do Camaquã, em 1978. Esta máquina à vapor com rolo compactador, fabricada por Aveling & Porter, foi negociada como parte da multa contratual aplicada aos belgas pela rescisão do contrato em 1909. A bomba de gasolina Dresser Wayne de 1928, em primeiro plano, também foi usada na mina (fonte: Gonzalez)
Diminuindo a dependência da importação de cobre
| No Brasil, de 1930 a 1945, na Segunda República, a industrialização tinha algum crescimento, sendo criadas empresas e instituições estatais. A indústria mineral crescia com a responsabilidade de fornecer insumos básicos. |
| De 1928 a 1936, o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil realizava prospecção metalífera no RS, com continuidade, de 1937 a 1940, pelo Serviço de Fomento da Produção Mineral. |
| Na década de 1930, lâmpadas com bateria desciam às minas subterrâneas, e várias melhorias aconteciam em intensidade de luz, duração da bateria e peso. |
1942
Para diminuir a dependência do cobre importado, foi fundada a Companhia Brasileira de Cobre (CBC), nas Minas do Camaquã, sendo principais acionistas o governo do Rio Grande do Sul e a Laminação Nacional de Metais, pertencente ao Grupo Pignatari.| A 2ª Guerra Mundial havia aumentado a demanda por metais e no Brasil era provocada uma corrida ao minério de cobre. |
1944
O DNPM identificou o potencial produtivo da Mina Caraíba e, nas Minas do Camaquã, foi instalado um concentrador de minério com capacidade para 120 toneladas/dia.Pesquisa em Pedra Verde e nas Minas do Camaquã
| De 1946 a 1964, na Terceira República, era adotada uma política liberal no Brasil, seguida de curto período nacionalista com a criação da Petrobras. Aconteciam grandes obras e endividamento externo. A obsoleta indústria mineral, de porte médio, atendia o mercado interno. |
1948
Foi descoberto um novo filão nas Minas do Camaquã e foram distinguidos dois setores denominados Mina Uruguai e Mina São Luiz.
1949
Em 1949 e 1950, em novos estudos, a mineralização do filito Pedra Verde passou a ser considerada jazida.
Filito Pedra Verde com foliação milonítica e coloração cinza escuro (cortesia de José Henrique Matos)
1950
Na década de 1950, a Revere Copper & Brass (através da Indústria Sul-Americana de Metais SA) abriu mais alguns metros de galeria subterrânea em Pedra Verde e executou furos de sondagens.
A organização da mineração brasileira e o controle estatal
1954
As atividades de lavra e beneficiamento das Minas do Camaquã, iniciadas em 1944, ganharam certa regularidade.
1956
A capacidade de beneficiamento das Minas do Camaquã passou a 800 toneladas/dia de minério.
1957
De 1957 a 1974, o Grupo Pignatari assumiu o controle acionário da CBC, nas Minas do Camaquã, lavrando as minas subterrâneas semi-mecanizadas São Luiz e Uruguai e produzindo concentrado de cobre.
1958
De 1958 a 1968, em contrato de assistência técnica, a Mitsubishi Metal Mining Co dirigiu mineração, beneficiamento e pesquisa nas Minas do Camaquã.| Em 1964, com o regime militar, surgiam no Brasil empreendimentos multinacionais. Havia crescimento econômico com participação de capital estrangeiro. O setor mineral se voltava à demanda externa, principalmente com a Companhia Vale do Rio Doce. A mineração brasileira, a partir de 1968, registrava taxas de crescimento anuais de mais de 10%. |
1969
As Minas do Camaquã passaram a ser dirigidas pela equipe técnica da CBC, com orientação técnica da Geotemi. Também foram iniciados estudos de viabilidade da Mina Caraíba e foi estabelecida uma planta de metalurgia em Dias D'Ávila, na Bahia, para produção de cobre eletrolítico.
1971
Foi inaugurado o poço de acesso da mina São Luiz, com 210 metros de profundidade, e a capacidade de beneficiamento alcançou 1.500 toneladas/dia de minério. Em Pedra Verde, de 1971 a 1979, a Promisa deu prosseguimento às pesquisas, mas o financiamento solicitado ao BNDES não foi aprovado.
Estrutura do poço do elevador e entrada da Mina São Luiz, nas Minas do Camaquã. É possível ver o maquinário utilizado antigamente na mina, nos trilhos que levam à "galeria dos belgas", cuja entrada aparece parcialmente no limite da foto, à esquerda (cortesia do blog diegoelaisaporaidemoto)
1974
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passou a ter o controle do empreendimento da Mina Caraíba e, neste ano, a então Caraíba Metais SA iniciou a exploração comercial desta mina, tornando-se a única produtora de cobre eletrolítico do Brasil. Nas Minas do Camaquã, a Fibase (BNDES) assumiu o controle acionário da CBC e foram realizadas pesquisas com montagem de novo plano de lavra com a colaboração da Rio Doce Geologia e Mineração (Docegeo – subsidiária da Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale) e da Companhia Rio-Grandense de Mineração (CRM).
Pesquisa nas Minas do Camaquã e lavra a céu aberto na Mineração Caraíba
1975
A mineração das Minas do Camaquã foi suspensa devido à condição deficitária da lavra e à desativação da metalurgia da Caraíba Metais, a única que utilizava o concentrado de cobre produzido no RS. Então, de 1975 a 1977, foi executada intensa pesquisa geológica, visando novo plano de lavra, que incluia mapeamento, sondagens de superfície e de subsolo e levantamento geofísico sob a orientação da Docegeo.
1979
Na Mina Caraíba, a lavra a céu aberto teve início. Também foi iniciado o Projeto Expansão Camaquã com pesquisa de detalhamento para a lavra subterrânea na Mina São Luiz e a céu aberto na Mina Uruguai. Este projeto teve a orientação da Milder Kaiser Engenharia SA, da Paulo Abib Engenharia SA e do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CEPED), com acompanhamento técnico da CBC.
Novas retomadas nas Minas do Camaquã e em Pedra Verde
1981
Nas Minas do Camaquã, foi construída a barragem de rejeitos atual e retomada a mineração agora nas lavras subterrâneas (Minas São Luiz e Uruguai) e céu aberto (Mina Uruguai). A produção prevista era de 12 mil toneladas/ano de cobre contido no concentrado. Passou a ser utilizado o método sublevel stoping na lavra subterrânea, com painéis de 60 metros de altura. A nova unidade de concentração passou a tratar 5.500 toneladas/dia de minério.
| Em 1981, era descoberto o jazimento da Mina Escondida após programa de exploração sistemático no norte do Chile, realizado pela Getty Minerals e pela Utah International Inc. |
1983
A Guanordeste Comércio e Mineração Ltda se instalou na região de Pedra Verde para implantar uma unidade para a produção de cimento de cobre com capacidade de 100 toneladas/dia.
1984
Em julho, a Guanordeste iniciou os trabalhos de lavra a céu aberto e de tratamento do carbonato de cobre.
| Na década de 1980, as reservas de Salobo, na Serra dos Carajás, no Pará, faziam com que a Mineração Caraíba deixasse de ser a maior jazida brasileira de cobre. |
| Em 1985, a maior mina de cobre do mundo, a Escondida chilena, com a mais alta tecnologia de mineração da época, estava preparada para a lavra, tendo sido adquirida pela BHP e pela Texaco que, posteriormente, retirou-se dando lugar à britânica RTZ, à japonesa JECO e a uma corporação do Banco Mundial. |
Chegam ao fim as atividades de mineração nas Minas do Camaquã e em Pedra Verde
| A partir de 1985, o Brasil se consolidava como um dos cinco maiores produtores e exportadores mundiais de minério. Grande parte da produção era exportada, gerando notáveis divisas, embora sem valor agregado substancial. |
1986
As Minas do Camaquã foram a principal fonte de cobre no Brasil, até 1986, quando iniciou a operação da lavra subterrânea da Mina Caraíba.| O consumo mundial de cobre crescia nas décadas de 1960 e 1970, produzindo uma tendência de elevação praticamente contínua nos preços deste metal nestes períodos. |
Evolução do preço do cobre (fonte: macrotrends).
As faixas verticais indicam períodos de recessão.
As faixas verticais indicam períodos de recessão.
| Posteriormente, os preços do cobre apresentavam tendência de queda em dois períodos por volta das década de 1980 e de 1990. Nesta época, novas tecnologias serviam para reduzir os custos de produção. Após 2000, o preço do cobre se quadruplicava refletindo o aumento da demanda da China. |
1987
O BNDES assumiu o endividamento bancário da CBC causado por características inerentes à extração do minério nas Minas do Camaquã e por oscilações internacionais do preço do cobre, com quedas no final dos anos 1970 e no início dos anos 1980. Para tornar o fluxo de caixa superavitário, o preço de venda do concentrado de cobre produzido no RS passou a ser fixado em níveis equivalentes aos do concentrado importado, acrescido dos custos de internação no país.
1988
Nas Minas do Camaquã, a CBC foi a leilão sem sucesso. Neste mesmo ano, a Caraíba Metais SA iniciou processo de privatização, passando a pertencer ao grupo de mesmo nome, com desmembramento das atividades de mina e metalurgia. Em 1988, a Mineração Caraíba contribuiu com 80% da produção nacional de cobre, a CBC, nas Minas do Camaquã, com 18% e a Guanordeste, em Pedra Verde, com apenas 630 toneladas, pois a produção de cimento de cobre, oriundo de lixiviação, foi paralisada. Este produto era vendido a indústrias de ligas de São Paulo. A tabela a seguir apresenta a capacidade da usina de concentração, neste ano, em cada mina.
Capacidade instalada
das usinas de concentração em 1988 |
|||
Mina
|
Cobre contido
(t/ano) |
||
Capacidade instalada das usinas de concentração em 1988 (fonte: DNPM)
| No final da década de 1980, era instalado o Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, a única planta metalúrgica do país para cobre eletrolítico. |
1989
Os empregados da CBC fundaram a Bom Jardim SA e adquiriram o controle acionário do empreendimento nas Minas do Camaquã.
1990
A partir deste ano, com a área sob concessão de lavra pertencente à Extrativa Fertilizantes SA, houve tentativas de retomada da mineração em Pedra Verde sem sucesso.
1994
A Caraíba Metais SA entrou no Programa de Privatização Nacional, recebendo o nome de Mineração Caraíba SA.
1996
Na Mina Caraíba, em outubro, foi iniciada a lavra subterrânea com método sublevel stopping. Também neste ano, nas Minas do Camaquã, houve o esgotamento das reservas economicamente viáveis conhecidas.
Chega ao fim o século XX
1998
Aconteceu a exaustão do projeto inicial da Mina Caraíba através da operação simultânea das lavras a céu aberto e subterrânea. As atividades continuaram com novo método de lavra, o VRM (Vertical Retreat Mining), com sistema de enchimento paste fill. Este novo método permitiu maior recuperação do minério, maior segurança e menor custo.
Cava da lavra à céu aberto da Mina Caraíba na década de 1990 (cortesia da Mineração Caraíba)
| Com a supremacia da Vale, a mineração de cobre brasileira passava a sofrer alterações no final do século XX, sendo introduzidas novas tecnologias no setor, especialmente na lavra e na concentração. A Mineração Caraíba passava a investir em modernização para aumentar a vida útil do empreendimento e viabilizar o tratamento de minérios antieconômicos ou não suscetíveis à concentração convencional, além de atenuar os impactos ambientais. |
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