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11 de julho de 2018

O Anel de Fogo do Pacífico, mais uma obra de arte da natureza

Por Marco Gonzalez


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Primeira versão de "O Grito" ("Skrik") de Edvard Munch, em óleo, têmpera e crayon sobre papelão, de 1893 (fonte)

Na forma de uma ferradura, o Anel do Fogo do Pacífico se estende por 40.000 km com zonas de falhas ativas e vulcões, cercando o Oceano Pacífico desde a América do Sul até a Nova Zelândia, passando pelo Alasca. 

Quais são as principais características desta zona de elevada instabilidade geológica e qual a relação da obra de Edvard Munch com este tema?

O Anel

O Anel de Fogo ("Ring of Fire") do Pacífico, também conhecido como Cinturão do Pacífico ("Circum-Pacific Belt") é o lar de aproximadamente 80% dos principais terremotos do mundo, que fazem a Terra tremer constantemente, além de abrigar cerca de 75% dos vulcões da Terra. Emédia, 50 a 60 desses 452 vulcões entram em erupção anualmente. 

Anel de Fogo do Pacífico, vulcões e fossas oceânicas (por Rémih - fonte - traduzido)

A localização, no Anel de Fogo do Pacífico, da maioria dos vulcões da Terra não é coincidência. Lá estão também a maioria das zonas de subducção do nosso planeta (onde uma placa da litosfera é empurrada sob outra) criando as instabilidades que são vistas e sentidas na região

Alguns dos piores desastres naturais aconteceram ali. Um deles foi o tsunami de 2004 que atingiu 14 países como resultado de um terremoto de magnitude 9,3. Outros dois ocorreram no Chile: um terremoto de magnitude 9,5 em 1960 (o pior da história) e outro em 2010 de magnitude 8,8. A cada cinco minutos, em média, os sismógrafos captam algum tipo de atividade sísmica no Anel de Fogo do Pacífico. 

As principais placas tectônicas

O Anel de Fogo é local de encontro de diversas placas tectônicas, incluindo a Euroasiática, a Norte-americana, a das Filipinas, a Australina, a de Cocos, a de Nazca e a da Antártida, todas envolvendo a grande placa do Pacífico.


Principais placas tectônicas da Terra (fonte)
Limites convergentes (), divergentes (←→) e transformantes ()

A placa do Pacífico, com 103.300.000 km², é a maior placa tectônica da Terra. É responsável por grande parte da atividade tectônica no Anel de Fogo. Sobre esta placa e as vizinhas, alguns fatos podem ser destacados:

  • A placa do Pacífico possui porções mais jovens (formadas há cerca de 2 milhões de anos), localizadas ao norte e ao oeste, e porções mais antigas (formadas há cerca de 100 milhões de anos). As porções mais jovens são as mais ativas e estão se esfriando e se contraindo mais rapidamente que as mais antigas.
  • No limite transformante entre as placas do Pacífico e Norte-americana, encontra-se a falha de San Andreas, que se estende ao longo da costa oeste central da América do Norte. Enquanto a placa Norte-americana se move para o sul, a do Pacífico segue em sentido contrário. Aquela falha, com 1.287 km de comprimento e 16 km de profundidade, causou o grande sismo de magnitude 7,8 de São Francisco, em 1906, no estado americano da Califórnia.
  • A placa das Filipinas, compreendendo litosfera oceânica, têm praticamente todos os seus limites convergentes. O mapa acima não simboliza essas convergências por envolverem placas menores não representadas, como a placa das Marianas e as placas Yangtze e Okinawa. Com a primeira, a placa do Pacífico entra em subducção e o mesmo ocorre com a placa das Filipinas em relação às duas últimas. 
  • placa de Cocos é responsável por importantes terremotos no México, como os dois de magnitudes 8,1 e 7,1 ocorridos em 2017.
  • Junto à costa do Equador, recentemente foi descoberta uma nova placa tectônica, a Malpelo. Ali eram conhecidas 56 placas, incluindo a de Nazca, agora são 57. Estes números dão uma ideia da complexidade tectônica daquela região.
  • Alguns geólogos dão o nome de "Antarctandes" à área que liga a parte sul-americana do Anel de Fogo à Antártida em razão da associação geológica consistente entre os vulcões antárticos com aqueles da América do Sul.

As fossas oceânicas

geologia do Anel de Fogo não inclui apenas vulcões e terremotos. Paralelamente aos arcos vulcânicos, que criam tanto ilhas quanto cordilheiras continentais, é encontrada uma série de fossas oceânicas profundas. A placa das Filipinas, por exemplo, é circundada, à leste, pelas fossas das Marianas, de Yap e de Los Palos e, à oeste, pelas fossas de Ryukyu e das Filipinas.


Esquema com fossas oceânicas e arcos vulcânicos em zona de subdução de placas tectônicas (por Tasa Graphic e pmlbird - traduzido)

As ilhas Aleutas e a cordilheira dos Andes são dois casos típicos da associação entre fossas oceânicas e arcos vulcânicos.

  • No Alasca, as ilhas aleutianas (com 27 vulcões ativos) correm paralelamente à fossa das Aleutas, com profundidades que atingem até 7.679 metros. Ambas foram formadas pela placa do Pacífico que mergulha sob a placa Norte-americana
  • Na América do Sul, a cordilheira dos Andes acompanha a fossa Peru-Chile. Tanto a cordilheira quanto a fossa são resultados da placa de Nazca em subducção sob a placa Sul-americana. Aquela cordilheira é o lar do vulcão ativo mais elevado do mundo, Ojos del Salado, na fronteira do Chile com a Argentina, tendo 6.879 metros. 

A depressão Challenger, na fossa das Marianas, é o ponto mais profundo da Terra, com 322 km medidos na vertical desde a superfície do oceano. Se o Everest fosse jogado nessa depressão, ficaria 16 km debaixo d'água.

Os vulcões principais

É difícil dizer quais são os principais e mais temidos vulcões do Anel de Fogo do Pacífico, mas é possível bem exemplificar esses fenômenos geológicos através dos seguintes: Ruapehu, Fuji, Saint Helens, Popocatépetl, Cotopaxi e Krakatoa. A maioria deles são do tipo estratovulcão.

O estratovulcão Ruapehu é um dos vulcões mais ativos da Nova Zelândia. Seu cone data de cerca de 200.000 anos. Em junho deste ano, a temperatura do lago da sua cratera estava subindo e havia detecção de tremor vulcânico na área, mas estes sinais eram considerados como comportamento de menor agitação vulcânica.

Cratera do vulcão Ruapehu, em 2013, na ilha norte da Nova Zelândia (Foto: Xflo)

O estratovulcão Fuji é o vulcão mais conhecido do Japão. Foi construído sobre um grupo de vulcões sobrepostos há 11.000 anos. Já entrou em erupção 16 vezes desde 781 dC, tendo sido a maior delas e a última em 1707. O Monte Fuji se eleva a 3.500 m acima da planície ao seu redor.


Fuji e a cidade de Numazu no Japão (Foto: Alpsdake)

O estratovulcão Saint Helens, localizado no oeste dos EUA nas proximidades da fronteira com o Canadá, iniciou seus períodos eruptivos há 40 ou 50 mil anos. Durante a erupção de 1980, os 400 metros superiores do seu cume foram removidos formando uma cratera de 2 x 3,5 km preenchida por uma cúpula de lava.


Saint Helens, em 1982 (Foto: Lyn Topinka)
O material ejetado visto na foto subiu 910 m acima da borda do vulcão.

O estratovulcão Popocatépetl, 70 km a sudeste da cidade do México, é o segundo vulcão mais alto da América do Norte. Possui uma cratera de 400 x 600 m com paredes íngremes e profundidades entre 250 e 450 m. Desde 1994 tem produzido explosões poderosas em intervalos irregulares. 


Fumarola do Popocatépetl em 2012 (Foto: Luisalvaz)

estratovulcão simétrico Cotopaxi, o vulcão mais conhecido do Equador e um dos mais ativos, tem um cone de faces íngremes, tendo sua maior cratera cerca de 550 x 800 m. Sua recente forma foi construída há aproximadamente 5.000 anos e suas erupções mais violentas ocorreram em 1744, 1768 e 1877.


Cotopaxi em 2008 (FotoGerard Prins)

famoso vulcão Krakatoa (ou Krakatau), do tipo caldeira, localiza-se no estreito de Sonda (ou Sunda) entre Java e Sumatra. Provavelmente em 416 dC sua estrutura ancestral colapsou formando uma caldeira de 7 km de largura. Mais adiante, a catastrófica erupção de 1883 deu formatos mais definitivos ao Krakatoa. Desde 1927, a região tem sido palco de frequentes erupções. Em 1930, uma explosão com colapso do velho Krakatoa fez com que um novo vulcão, o Anak Krakatoa ("o filho de Krakatau"), passasse a tomar forma, tendo sua última erupção em 2014.


Krakatoa em 2008 (Foto: Flydime)

O vulcão, o poder e a arte

erupção de agosto de 1883 do Krakatoa foi uma das mais destrutivas da história moderna, tendo causado a morte de 36.000 pessoas.

Litogravura de 1888 com a erupção do Krakatoa em 1883.
(Crédito: Parker & Coward, Britain - fonte)

No dia 26 de agosto aconteceu a explosão inicial com a força de 200 megatons de TNT e no dia 27 mais quatro explosões foram ouvidas na Austrália, cerca de 4.500 km de distância. Fluxos piroclásticos foram enviados a 40 quilômetros do vulcão com velocidade de mais de 100 km/h. Estima-se que as nuvens de cinza tenham subido mais de 9,6 km de altura. 

Uma parede de água de aproximadamente 36 metros de altura foi gerada pelo colapso do vulcão no mar. Cento e sessenta e cinco aldeias costeiras foram destruídas. Nuvens incandescentes surgiam no céu que escureceu em uma área de até 445 km ao redor do vulcão. Por três dias não houve amanhecer na região. Ondas de choque na atmosfera, detectadas por barógrafos, circundaram o planeta pelo menos sete vezes. 

Em 13 dias, uma camada de dióxido de enxofre e outros gases filtraram a luz solar. Um pôr do sol espetacular foi visto em toda a Europa e nos Estados Unidos. Nas proximidades do vulcão, nos dois meses seguintes eram ouvidos ruídos trovejantes e os nativos das ilhas vizinhas realizaram festivais para celebrar os fogos de artifício naturais. As temperaturas globais médias caíram até 1,2ºC nos cinco anos seguintes.


"O Grito" de Munch

A Royal Society em Londres relatou que um crepúsculo de um vermelho incomum foi registrado na Noruega desde o final de novembro de 1883 até meados de fevereiro de 1884. Esse espetáculo, amplamente visto, foi associado à explosão do Krakatoa. 

Há indícios e documentação, como os diários de Edvard Munch, que apoiam a tese de que ele e alguns amigos estariam, naquela época, próximos ao porto de Christiania (agora Oslo) e da ilha de Hovedø, na Noruega, na estrada Mosseveien, antigamente chamada Ljabrochausséen. Foi uma experiência onde Munch buscou inspiração para colocar o que sentiu, cerca de dez anos depois, na mais conhecida de suas obras, "O Grito", cuja primeira versão foi produzida em 1893. 

Em "Quando o céu ficou vermelho: A história por trás do grito", Donald W. Olson, professor de física e astronomia na Texas State University, e seus colegas Russell L. Doescher e Marilynn S. Olson, na edição de fevereiro de 2004 da revista Sky & Telescope, contam a história da famosa obra de arte onde Munch representou suas emoções.

Voltando às emoções dos dias atuais: o anel de fogo acordou?


Há quem diga que o Anel de Fogo acordou, baseando-se na erupção do vulcão del Fuego, na Guatemala (e também do Kilauea, no Havaí, embora este não esteja em zona de subducção), além de outras recentes atividades vulcânicas e sísmicas no Japão, no Alasca, em Bali e nas Filipinas. 

Em janeiro, a ONU alertava que o Anel de Foto do Pacífico estava ativo, relatando terremotos no Golfo do Alasca, em Java, na Indonésia, e ainda uma súbita erupção do Monte Kasatsu-Shirane, no Japão.


ponto fraco dessa hipótese é que o Anel de Fogo do Pacífico não está verdadeira e totalmente conectado, sendo muito improvável que uma erupção ative outra. O que acontece no Chile, por exemplo, não afeta realmente o que está acontecendo na Califórnia, no Japão ou na Nova Zelândia. 

Além disso, o que acontece atualmente não é incomum tendo em vista a quantidade de vulcões presentes e as características geológicas da região. O que é incomum (para parâmetros do passado) é que atualmente podemos detectar e medir os eventos geológicos em todo o mundo com mais agilidade e divulgar a informação rapidamente.


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