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6 de junho de 2018

Os vulcões Vesúvio e de Fuego e os fluxos piroclásticos

Por Marco Gonzalez


"O último dia de Pompeia", de 1833, pintura em óleo sobre tela de Karl Bryullov (fonte)


O vulcão Vesúvio é conhecido por sua erupção de 79 dC, quando destruiu as cidades de Pompeia e Herculano, na Itália.

O vulcão de Fuego é um dos vulcões mais ativos da América Central e um dos três grandes com vista para Antigua, a antiga capital da Guatemala. Em 3 de junho de Fuego entrou em erupção pela segunda vez em 2018.

Há semelhanças e diferenças entre o vulcão guatemalteca e o vulcão italiano.


Vesúvio e Pompeia

O Monte Vesúvio faz parte do complexo vulcânico Somma-Vesúvio localizado na costa oeste da Itália. É o único vulcão ativo na Europa continental e, no mundo, é um dos que apresenta maior risco pela sua proximidade com a cidade de Nápoles e com as populações vizinhas nas encostas próximas. Estima-se que 1 milhão de pessoas vivam dentro da zona de perigo. Apesar de já ter entrado em erupção mais de 50 vezes, ficou conhecido por sua ação em 79 dC quando destruiu as cidades de Pompéia e Herculano. O cone do Vesúvio muda a cada nova erupção, em 2013 tinha 1.281 metros de altura, sobressaindo-se em uma cordilheira semicircular chamada Monte Somma que se eleva a 1.140 metros em média.

O Vesúvio faz parte do arco vulcânico da Campânia juntamente com outros vulcões italianos, como o Mont Etna, o Campi Flegrei e o Stromboli. Este arco se localiza na fronteira onde a placa tectônica Africana está em subcucção sob a placa Eurasiana. Suas erupções estrombolianas com lava andesítica normalmente são explosivas, incluindo fluxos piroclásticos, e ocorriam a cada 20 anos até que a última mais séria aconteceu em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Ela prejudicou as recém-chegadas forças aliadas na Itália com cinzas e rochas da erupção destruindo aviões e uma base aérea próxima tendo que ser evacuada.



Região afetada pelo Vesúvio em 79 dC, na Itália (fonte)

Fundada em 600 aC, Pompeia se recuperava de um grande terremoto que a abalou em 62 dC. A reconstrução estava sendo realizada em vários templos e edifícios públicos. Os sismos da época também haviam danificado a cidade de Herculano e causado pequenos estragos em Nápoles. Eles eram comuns na região e, em agosto de 79 dC, ninguém prestou muita atenção aos tremores em Herculano e Pompeia. Pouco depois do meio dia, em 24 de agosto, o Vesúvio explodiu. As cinzas bloquearam o sol por volta das 13 h e começaram a cair a uma velocidade de cerca de 15 centímetros por hora. Uma muralha de lama vulcânica engoliu Herculano pouco depois da meia-noite com avalanches ígneas de gás e detritos. A antiga cidade de Stabiae também foi soterrada por destroços vulcânicos. 

Desencadearam-se pelo menos seis ciclos de erupção e fluxos piroclásticos naquela única erupção, com rajadas de ventos fortes seguidos por seis rios de lama que destruíram tudo a cerca de 14 quilômetros do Vesúvio. Pompeia foi destruida em cerca de 25 horas, soterrada por cinzas. Durante 11 horas, o Vesúvio lançou uma quantidade inacreditável de pedra-pomes, cinzas e vapores no ar. 



Pompeia, em 2010, com o Vesúvio ao fundo (fonte)

Há um relato detalhado do desastre em uma carta de Plínio, o Jovem, enviada a seu amigo Tácito. Plínio assistiu tudo de Misenum, onde morava com seu tio, Plínio, o Velho, e sua mãe. Ele entrevistou outros sobreviventes e registrou o evento. Acredita-se que cerca de 30.000 pessoas morreram. Mesmo recentemente, em 2016, ainda outras vítimas estão sendo encontradas.

O vulcão de Fuego nas terras maias

A Guatemala é um paraíso exuberante, estendendo-se dos mangues às montanhas de mais de 2.000 metros de altura. Porém, três placas tectônicas, em constante conflito entre elas, construíram 37 vulcões justamente naquele paraíso. A região tem a maior densidade de vulcões ativos, mais que qualquer outra parte do mundo. Talvez desta forma a natureza tenha moldado o modo de viver dos guatemaltecas, assim como de todo o povo maia. Eles convivem ao longo dos anos com o vulcanismo, reconhecendo-o tanto como causa de destruição, quanto como fonte dos melhores solos agrícolas do mundo.


Antigua, a antiga capital da Guatemala, e os vulcões (fonte)

Há 4.000 anos, a misteriosa civilização maia surgiu na região com seus hieróglifos que permaneceram indecifráveis até a década de 1870. Mas antes, há 8.500 anos, uma enorme avalanche de detritos se estendeu por cerca de 50 km na planície costeira do Pacífico, como resultado do colapso do ancestral vulcão Meseta. Nesta região, os vulcões gêmeos Acatenango e de Fuego continuaram a migração do vulcanismo para o sul. Desde 1524 são registradas erupções vigorosas e frequentes com cinzas, fluxos piroclásticos ocasionais e fluxos de lava. Na última grande erupção explosiva, em 1974, de Fuego produziu espetaculares fluxos piroclásticos visíveis de Antigua.

Enquanto o Acatenango produz erupções principalmente andesíticas, em de Fuego predominam as máficas, tendo produzido rochas basálticas na maior parte da sua atividade históricaO vulcão de Fuego é um dos mais ativos da América Central. Desde o ano 1580 aC teve 79 erupções registradas. Caracteristicamente, em seus períodos de calma, erupções de gás e cinzas ocorrem a cada 15 a 20 minutos.


Erupções do vulcão de Fuego em 1932 (fontee em 1974, à direita (fonte)

Suas erupções são do tipo estromboliano (pequenas rajadas de lava) com eventuais fases de intensa fonte de lava. Produz colunas altas de cinzas e fluxos piroclásticos perigosos. Neste século, está em erupção desde 2002 e durante o ano de 2017 permaneceu continuamente ativo. No dia 17 de maio de 2018, um lahar (lama vulcânica) de 25 metros de largura extravasou e houve explosões e plumas de cinzas de 19 a 21 de maio.

Em 3 de junho, o vulcão de Fuego entrou em erupção pela segunda vez em 2018. Foram lançadas colunas de cinzas e fluxos piroclásticos que se espalharam para oeste e sudoeste alcançando Chimaltenango, Sacatepéquez, Escuintla, Mixco e algumas áreas na Cidade da Guatemala. Os mortos chegam a cerca de uma centena e há aproximadamente o dobro de desaparecidos.

Fluxos piroclásticos

O vulcão de Fuego não se caracteriza por longos fluxos de lava fluida como os que são vistos na erupção no vulcão Kilauea (no Havaí). A lava do vulcão da Guatemala dificilmente alcança áreas habitadas e, portanto, este não é o seu principal perigo.

Guatemala, em 2018, e Pompeia, em 79 dC, sofreram efeitos semelhantes de duas erupções vulcânicas com estilos um pouco diferentes. As duas cidades foram atingidas por uma nuvem de gás, cinzas, lapilli e blocos de rochas a temperaturas muito elevadas. Porém, enquanto o vulcão de Fuego, na Guatemala, gerou colunas de cinzas e gases de até 4 quilômetros de altura, com fluxos piroclásticos incluídos, no caso do Vesúvio, os fluxos piroclásticos resultaram do colapso sobre si mesma de uma coluna de gás e cinzas de até 25 quilômetros de altura.

Um fluxo piroclástico é uma mistura caótica de fragmentos rochosos, gás e cinzas, normalmente com temperaturas maiores que 800° C. Ele se desloca relativamente a grande velocidade chegando a dezenas de metros por segundo. Justamente devido às elevadas temperatura e velocidade, pode ser extremamente destrutivo e mortal. Seus fragmentos podem ser classificados como cinza (menos de 2 mm de diâmetro), lapili (entre 2 e 64 mm) e bomba ou bloco (mais que 64 mm de diâmetro).


Pesquisador do Serviço Geológico dos EUA (USGS), em 30/05/1980, examina blocos de pedra-pomes na borda de um fluxo piroclástico da erupção de 18/05/1980 do vulcão St. Helens, EUA (fonte)

O fluxos piroclásticos podem se mover até uma distância superior a 100 quilômetros. É conveniente ficar um pouco mais longe.

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