24 de dezembro de 2020

Pálido ponto azul

Compilado por Marco

Imagem com o título "Pale blue dot" ("Pálido ponto azul") que mostra uma região do Universo, onde é possível ver um ponto mais claro aproximadamente no centro da faixa mais à direita (Fonte: Wikipedia). Esta foto, obtida em 1990 pela Voyager 1, foi montada a partir de 60 fotogramas. A distância entre a Voyager e a Terra era de 6 bilhões de quilômetros, que é 40,5 vezes maior que a distância entre a Terra e o Sol. A Terra aparece com o tamanho de 0,12 pixel. As faixas visíveis são produzidas por difração dos raios de luz solar capturados pela lente da câmera. 

A expressão "pálido ponto azul" refere-se à insignificância da Terra, quando vista do espaço ou quando estamos conscientes disto.

Considerando a insignificância de tudo, trato de definições e etimologia, da origem da expressão, de Carl Sagan e da Voyager 1.

Definições e etimologia

"Pálido" é o que tem cor tênue. O adjetivo "pálido" vem do latim "pallidus", que significa "amarelado, de cor doentia".

"Ponto" é um lugar, um sinal ou o cruzamento de duas retas. O substantivo "ponto" vem do latim "punctus", que significa "ponto, picada".

"Azul" é a cor entre o verde e o violeta no espectro solar. O adjetivo (ou substantivo) "azul" vem do persa "lazward", que significa "azul, lápis-lazúli". "Lápis-lazúli" é uma rocha de cor azul.

Origem da expressão

Em 1994, em uma palestra pública na Universidade Cornell, de Ithaca, Nova Iorque, Estados Unidos, o cientista, físico, biólogo, astrônomo, astrofísico, cosmólogo, escritor, divulgador científico e ativista norte-americano Carl Edward Sagan (1934-1996) apresentou a imagem que aparece no início deste texto e compartilhou suas reflexões sobre ela. Ele disse:

"Look again at that dot. That's here. That's home. That's us. On it everyone you love, everyone you know, everyone you ever heard of, every human being who ever was, lived out their lives. The aggregate of our joy and suffering, thousands of confident religions, ideologies, and economic doctrines, every hunter and forager, every hero and coward, every creator and destroyer of civilization, every king and peasant, every young couple in love, every mother and father, hopeful child, inventor and explorer, every teacher of morals, every corrupt politician, every "superstar," every "supreme leader," every saint and sinner in the history of our species lived there--on a mote of dust suspended in a sunbeam.

The Earth is a very small stage in a vast cosmic arena. Think of the rivers of blood spilled by all those generals and emperors so that, in glory and triumph, they could become the momentary masters of a fraction of a dot. Think of the endless cruelties visited by the inhabitants of one corner of this pixel on the scarcely distinguishable inhabitants of some other corner, how frequent their misunderstandings, how eager they are to kill one another, how fervent their hatreds. 

Our posturings, our imagined self-importance, the delusion that we have some privileged position in the Universe, are challenged by this point of pale light. Our planet is a lonely speck in the great enveloping cosmic dark. In our obscurity, in all this vastness, there is no hint that help will come from elsewhere to save us from ourselves. 

The Earth is the only world known so far to harbor life. There is nowhere else, at least in the near future, to which our species could migrate. Visit, yes. Settle, not yet. Like it or not, for the moment the Earth is where we make our stand. 

It has been said that astronomy is a humbling and character-building experience. There is perhaps no better demonstration of the folly of human conceits than this distant image of our tiny world. To me, it underscores our responsibility to deal more kindly with one another, and to preserve and cherish the pale blue dot, the only home we've ever known."

Ou em português:

"Olhe novamente para aquele ponto. É aqui. É nossa casa. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, cada ser humano que já existiu, ali viveram suas vidas. O conjunto de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas confiantes, cada caçador e coletor, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada professor de ética, cada político corrupto, cada "superstar", cada "líder supremo", cada santo e pecador na história de nossa espécie viveram ali – em um grão de poeira suspenso em um raio de sol. 

A Terra é um cenário muito pequeno em uma vasta arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores para que, em glória e triunfo, eles pudessem se tornar os senhores momentâneos de uma fração de um ponto. Pense nas infindáveis ​​crueldades cometidas pelos habitantes de um canto deste pixel sobre os habitantes mal distinguíveis de algum outro canto, quão frequentes seus desentendimentos, quão ávidos para matar uns aos outros, quão fervorosos seus ódios. 

Nossas posturas, nossa presunção imaginada, a ilusão de que temos alguma posição privilegiada no Universo, são desafiadas por este ponto de luz pálida. Nosso planeta é uma partícula solitária na grande escuridão cósmica que nos cerca. Em nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indício de que a ajuda virá de outro lugar para nos salvar de nós mesmos. 

A Terra é o único mundo conhecido até agora para abrigar vida. Não há nenhum outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Assentar-se, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é onde temos que ficar por enquanto. 

Já foi dito que a astronomia é uma experiência humilhante e de formação de caráter. Talvez não haja melhor demonstração da tola presunção humana do que esta imagem distante de nosso minúsculo mundo. Para mim, isto ressalta nossa responsabilidade de tratarmos com mais gentileza e preservarmos e valorizarmos o pálido ponto azul, o único lar que conhecemos."

Quem foi Carl?

Carl Sagan

Carl nasceu em família modesta, mas que sempre incentivou sua curiosidade pela ciência. Graduou-se em arte e em ciências. Obteve mestrado em física e doutorado em astronomia e astrofísica.

Foi um cientista e um escritor muito produtivo, com mais de 600 publicações científicas e mais de vinte livros que divulgaram a ciência, tanto através de conhecimento quanto de ficção.

Procurou inteligência extraterrestre, foi pioneiro na exobiologia (estudo da origem, evolução e distribuição da vida no Universo) e em estudos do efeito estufa em escala planetária. Contribuiu para melhorar nosso conhecimento sobre Vênus, Saturno, Júpiter e Marte, além de ter importante participação no programa espacial norte-americano. 

Carl recebeu diversos prêmios e homenagens. Uma em especial foi a bem humorada criação da unidade "sagan" que corresponde a uma grande quantidade de qualquer coisa. Pode-se dizer que poderia ser aplicada para medir a distância entre a Terra e a posição onde se encontra a Voyager 1 hoje.

Voyager 1

Esta sonda espacial norte-americana foi lançada em 1977 com o objetivo de estudar Júpiter e Saturno. Posteriormente, a partir de 2013, foi passear a 64 000 km/h no espaço interestelar. Com 43 anos, continua informando a NASA através dos dados que envia rotineiramente à Terra.

É o primeiro objeto feito pelo homem que se aventura fora do Sistema Solar e o que está mais distante da Terra. Seu objetivo atual é investigar alvos como a heliosfera, o cinturão de Kuiper e o que mais encontrar de interessante no espaço sideral.

No momento em que a Voyager 1 ia se aproximando do limite exterior do Sistema Solar, recebeu o comando de se virar e apontar a lente de sua câmera para nós. A imagem que obteve do "pálido ponto azul" permitiu uma excelente oportunidade para refletirmos sobre nossa insignificância no Universo.


Referências e Leituras Complementares

Davidson, Keay. Carl Sagan: vida e obra. Editora Bizâncio, 2012.

Sagan, Carl (Tradução: Eichenberg, Rosaura). Pálido ponto azul: Uma visão do futuro da humanidade no espaço. Editora Companhia das Letras, 2019.

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