por Almiro Wilbert
Transcorridos 50 anos da nossa formatura e ingresso no mercado de trabalho e já há 14 anos usufruindo da justa aposentadoria e vivendo com os netos na intensidade que a idade me permite muitos daqueles momentos de descobertas de meus filhos quando pequenos os quais sacrifiquei em função de compromissos de trabalho, muitas vezes me deparo com a questão: Foste feliz na tua escolha profissional, no teu trabalho?
A resposta não é objetiva e nem simples. Por isso vou me valer de instantâneos da minha caminhada profissional e com eles montar um quadro que, desejo, permita elucidar a pergunta formulada.
Começo lembrando que, antes de ir para a Faculdade de Geologia como um meio de “retornar à terra”, visto que sou oriundo do meio rural e o chão sempre me atraiu, eu passei por um Curso Normal Rural e fui professor do ensino fundamental (4ª série do Primário da época) por três anos. Embora tenha abandonado o magistério por razões financeiras na época, o “bichinho da cátedra” nunca me largou e convivi em todo tempo profissional ministrando conhecimentos requeridos para o melhor exercício das responsabilidades das minhas equipes e de outros e também em cursos de MBA nas áreas e locais em que atuava.
Na Petrobrás, meu primeiro e único local de trabalho no cargo de Geólogo, passei os primeiros sete anos, de 1976 a 1982, atuando como Geólogo de acompanhamento de perfuração, avaliação e operações especiais em poços.
Em 1983 e 1984 fui chamado pela empresa para compor a primeira turma de Mestrado em Geologia (Sedimentologia) em um convênio da Petrobrás com a Escola de Minas de Ouro Preto, MG, com a participação de vários professores estrangeiros convidados.
No retorno, por solicitação da empresa, fui deslocado da área técnica para a área gerencial com a responsabilidade de conduzir sucessivas equipes multidisciplinares de Geologia e Geofísica de Exploração, de Geologia e Geofísica de Desenvolvimento e Engenharia de Produção e Reservatório, de Cubagem e Classificação de Reservas e delimitação de Blocos para a ANP, de Avaliação Técnica e Econômica de potenciais acumulações próprias e com parceiros e, finalmente, como “cereja do bolo” e coroamento do meu exercício profissional, a coordenação do Megaprojeto de Desenvolvimento da Produção do Campo de Marlim Leste, na Bacia de Campos, cobrindo as fases Conceitual, de Definição, de Implementação e de início de Produção.
A proativa e compromissada integração multidisciplinar com profissionais dos Departamentos de Exploração, Produção, Engenharia, Centro de Pesquisas, Finanças, Jurídico, Petrobras Internacional, FRONAPE (Frota Nacional de Petroleiros) e outros, que construímos na condução deste projeto, nos agraciou com dois primeiros prêmios de distinção, em 2005 e em 2006 (foto), pela área de Gerenciamento de Projetos da empresa e consultoria da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Este Megaprojeto de Desenvolvimento da Produção que coordenei de 2002 até 2010 quando foi considerado concluído e entregue à produção, englobou a perfuração e avaliação de 23 poços produtores e 13 poços injetores de água para manutenção da pressão dos reservatórios e dos quais, na operação final, 13 poços produtores e 8 injetores foram efetivamente interligados à unidade de produção e operados.
Também integrou o escopo do projeto a aquisição do casco de um superpetroleiro para a construção de uma Unidade Flutuante de Produção - FPU (Floating Production Unit). Como na FRONAPE não havia mais disponibilidade de cascos e no mercado internacional, em decorrência do acidente com o Petroleiro Exxon Valdez (que se chocou com recifes e derramou um grande volume de óleo cru na Enseada do Príncipe Guilherme, no Alasca, em 24 de março de 1989), havia sido proibido o uso continuado de superpetroleios de casco simples para navegações à distância, os poucos restantes e de operação custosa para cabotagem, estavam a preços depletados.
Nesta condição identificamos e adquirimos o navio petroleiro VLCC Settebello (Very Large Crude Carrier) com 346,5 metros de comprimento e 57,3 metros de largura, inativo junto a um armador em Portugal. Levado para o Estaleiro Keppel em Cingapura, ele foi colocado em um dique e sustentado sobre pilotis para exame, condicionamento e troca de chaparia do casco e retirada de todo maquinário e casario.
Em seguida três rebocadores o trouxeram até a costa de Rio Grande, RS, onde, após três semanas de espera por condições de mar mais apropriadas, com a ajuda de sete rebocadores e sob o olhar admirado da população Riograndina, no começo da manhã festiva de 20 de setembro de 2007, ingressou pela Barra de Rio Grande e atracou junto ao cais do Porto Novo para receber as facilidades de produção em seu convés e configurar a sua nova condição de FPU, agora sob a denominação de P-53.
A FPU P-53 chegou na sua locação no Campo de Marlim Leste, na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, a 120 quilômetros da costa e em lâmina d’água de 1.080 metros de profundidade, em setembro de 2008 e iniciou seu período de produção por até 25 anos sem docagem, em novembro de 2008. Tem uma capacidade de produção de até 180.000 barris/dia, comprimir até seis milhões de metros cúbicos de gás/dia e gerar até 92 megawatt de potência elétrica.
Em todos estes momentos, no último e em todos os anteriores, foram cruciais a integração profissional e a disposição em ampliar e apurar conhecimentos dos integrantes das equipes herdadas ou construídas, com a clareza e compromisso com a qualidade e os prazos para a entrega dos produtos sob nossa responsabilidade.
Também cuidei para apurar e atualizar meus próprios domínios de conhecimento fazendo um MBA em Gerenciamento de Empresas e outro em Gestão de Projetos e me certificando como PMP (Project Management Professional) junto ao PMI (Project Management Institut).
Ao fitar pelo retrovisor os colegas da caminhada que abraçaram comigo muitos dos desafios a que fomos submetidos, reconheço com gratidão a confiança que tiveram em minhas argumentações e pelo espírito de equipe que não deixaram esmorecer em nenhum momento e, graças ao qual, sempre chegamos a bom termo.
E assim, posso responder afirmativamente: Sim, me realizei profissionalmente!!!
Posso igualmente e com embasada segurança, assegurar aos meus netos que estão chegando a uma idade onde a escolha da faculdade e profissão se torna preocupação constante: nos dias de pós-modernidade em que vivemos e onde os limites das responsabilidades profissionais estão cada vez mais tênues ou fluidas, mais do que acertar a profissão é preciso acertar na escolha daquilo que nos traz maior satisfação e agregar neste universo tudo que case ou permita ser exercitado na profissão que escolhemos.
Almiro Wilbert
Em 20.11.25 no Rio de Janeiro, RJ







Um comentário:
Muito orgulho da sua trajetória, pai! Você é nosso exemplo! Te admiro e te amo muito!
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