22 de janeiro de 2023

A Litologia da Patagônia Austral

Por Marco Gonzalez

Mapa Geológico da Patagônia Austral (adaptado de [a4]).

A Patagônia Austral é coberta em alguns locais:
  • (A, no mapa) por áreas de evaporitos de salar, lagos ou calotas de gelo e
  • (B) por rochas sedimentares do Quaternário (localmente algumas do Neógeno) e por outras sequências de cobertura.
Os grupos litológicos, com sobreposições de idades, mas em geral de mais jovens para mais antigos são [a4]:
  • Rochas vulcânicas do Quaternário ao Paleógeno:
    • (C1) Campo Vulcânico Pali Aike e 
    • (C2) rochas vulcânicas intraplaca do Paleógeno ao Holoceno indiferenciadas.
  • Rochas vulcânicas do Devoniano ao Quaternário:
    • (D1) metaturbitidos do Triássico.
  • Rochas da Bacia Austral do Jurássico Superior ao Cenozoico:
    • (E1) rochas da fase foreland do Eoceno ao Oligoceno-Mioceno,
    • (E2) rochas das fases foreland e de subsidência térmica do Cretáceo Superior ao Paleoceno-Eoceno Inferior,
    • (E3) rochas da fase de subsidência térmica
    • (E4) rochas da fase de Rifte.
  • Rochas vulcânicas do Permo-triássico ao Cretáceo Inferior:
    • (F1) Grande Província Ígnea de Chon Aike.
  • Granitoides e rochas vulcânicas e metamórficas:
    • (G1) Batólito Patagônico e
    • (G2) rochas vulcânicas e metamórficas.
    Sem pretender abranger todas as unidades estratigráficas da Patagônia Austral, são citadas a seguir aquelas mais relevantes encontradas nos trabalhos pesquisados, reunindo-as nos grupos litológicos C1 a G2.

    1. Rochas vulcânicas do Quaternário ao Paleógeno

    1.1. Campo Vulcânico Pali Aike (C1)

    Este campo do Plioceno-Quaternário Superior está localizado na fronteira da Argentina (no limite sul da Província de Santa Cruz) com o Chile. Compreende três eventos vulcânicos pós-glaciais [l1]:
    • o mais antigo originou maars;
    • o segundo originou cones de escória e fluxos de lavras que cobrem boa parte da área, muitas vezes também encobertos; e
    • o terceiro, mais jovem, ocorrido após 15 mil anos atrás, representado pela Formação Cerro Diablo, constituída por rochas de cone piroclástico com poucos sinais de erosão.
    Maar: Cratera vulcânica ampla e baixa formada por erupções vulcânicas rasas, frequentemente freáticas e acompanhadas por refluxo magmático.

    1.2. Rochas vulcânicas intraplaca do Paleógeno ao Holoceno (C2)

    Neste grupo, predominam basaltos e ainda rochas sedimentares piroclásticas, epiclásticas e intercalações.

    Clasto: Fragmento de rocha ou de mineral pré-existente contido dentro de uma rocha.
    Piroclasto: Clasto de origem vulcânica ejetado por explosão vulcânica. Podem ser classificados como cinzas (menores que 2mm de diâmetro), lapili (entre 2mm e 64 mm) ou bombas ou blocos (maiores que 64 mm).
    Epiclasto: Clasto liberado por intemperismo. Epiclasto vulcânico é clasto de composição vulcânica derivado de rocha vulcânica.

    O Basalto La Sibéria é uma unidade que faz parte deste grupo. É constituída por basaltos olivínicos correlacionados a episódio basáltico alcalino do Miceno Superior ao Plioceno Inferior. Seus derrames foram mesetas, como a Meseta Desocupada, ao norte do Lago Viedma [h2].

    A Meseta Desocupada, à direita ao fundo, com sua topografia horizontalizada, é visualizada da Rota 23 ao norte do Lago Viedma. Em primeiro plano aparecem estratos inclinados da Formação Puesto El Álamo (ver 3.2) (Foto: Marco Gonzalez).

    Faz parte destas rochas vulcânicas intraplaca, a Basandesita Alta Vista, do Eoceno, constituída por pórfiros andesíticos a basandesíticos de cor cinza claro a escuro, onde predominam fenocristais de plagioclásio [a4].

    Basandesito: Rocha porfirítica de matriz afanítica, intermediária entre basalto e andesito.

    Basandesita Alta Vista no Cerro Comisión (ou Cerro Los Elefantes). Este cerro está localizado na Rota 11, a meia distância entre a cidade de El Calafate e o Glaciar Perito Moreno (Foto: Marco Gonzalez).

    2. Rochas vulcânicas do Devoniano ao Quaternário (D1)

    Este grupo inclui metaturbiditos do Triássico, encontrados nas ilhas costeiras do extremo oeste do Chile, pertencentes ao Prisma de Acreção [a4].

    3. Rochas da Bacia Austral do Jurássico Superior ao Cenozoico (E1 a E4)

    Os locais apresentados no mapa a seguir são usados como referências para contextualizar algumas das próximas descrições litológicas.
    Mapa de locais da Bacia Austral para o estudo de colunas estratigráficas (adaptado de [e5]).

    1. Setor de cordilheiras (Chile)
    2. Setor de cordilheiras (Argentina)
    3. Maciço Deseado
    4. Última Esperanza
    5. Río Turbio
    6. Lagos Argentino e Viedma
    7. Subsolo de Santa Cruz (Argentina)
    8. Península Brunswick e Isla Riesco
    9. Subsolo da região de Magallanes (Chile)
    10. Tierra del Fuego (Chile)
    11. Tierra del Fuego (Argentina)

    3.1. Fase foreland do Eoceno ao Oligoceno-Mioceno (E1)

    Esta fase inclui principalmente rochas sedimentares marinhas a continentais e rochas epiclásticas e piroclásticas variadas [a4].

    Ao sul do Maciço Deseado, encontram-se depósitos do Mesozoicos e do Cenozoicos e rochas basálticas alcalinas do Mioceno ao Plioceno Superior, como o Basalto Stobel, que, para o sul, vão sendo substituídos pelos Rodados Patagônicos do Mioceno-Pleistoceno [l1].

    Um dos exemplos de manifestações basálticas do Mioceno é o Basalto Gregores, que é um basalto olivínico cinza escuro a preto, às vezes avermelhado pela oxidação, sólido a vesicular [h1].

    A Formação Santa Cruz (Mioceno) é encontrada nas regiões de Rio Turbio e no subsolo de Santa Cruz e também no Setor de cordilheiras (Argentina). Neste último local, são consideradas equivalentes a ela, as formações Arroyo Pinturas, na região dos lagos San Martín e Posadas, e o Grupo Río Zeballos, na região dos rios Jeinimeni e Zeballos [e5].

    A Formação Palomares (Mioceno) é constituída por conglomerados, tufos, brechas vulcânicas e arenitos, de ambiente continental e com restos vegetais. Ela é coberta, no Chile, em Última Esperanza, na Península Brunswick e na Isla Riesco, pela Formação El Salto e, no subsolo da região de Magallanes, pela Formação Filaret, todas do Mioceno [e5].

    No subsolo da região de Magallanes (Chile), a Formação Brush Lake, com xistos e camadas finas de calcário xistoso, indica que houve uma ingressão atlântica durante o Mioceno Médio. O mesmo evento é indicado pela Formação Salto no depocento da região de Última Esperanza da Península Brunswick e da Isla Riesco [e5].

    Na região dos lagos Argentino e Viedma, a Formação Centinela (com arenitos e conglomerados finos de ambiente marinho marginal com intercalações de níveis de tufos, do Oligoceno Superior) [e5], a Formação Santa Cruz (com espessos depósitos sinorogênicos) e o Basalto Belgrano (do Mioceno) ocorrem sobre o Basalto Posadas (Cenozoico) [l3].

    Acima da "Inconformidade do Paleoceno", ocorrem o Basalto Posadas intercalado entre as formações Rio Tarde (do Aptiano) e El Chacay (do Mioceno). Em áreas restritas, ocorrem as formações Ligorio Márquez e Rio Lista, onde também são encontrados depósitos marinhos a estuarinos rasos da Formação Man Aike (Eoceno médio) [t2].

    A Formação Loreto (Oligoceno Superior), tanto na região da Península de Brunswick e da Isla Riesco, quanto em direção à região de Última Esperanza, é constituída por siltitos de granulação média a grossa e arenitos fossilíferos, com níveis de siltitos carbonáceos e veios de carvão [e5].

    Na região de Río Turbio, estendendo-se para o norte da bacia, os arenitos médios a finos, tufos e folhelhos de ambiente fluvial anastomosado e de planície de inundação da Formação Rio Leona e os conglomerados acumulados em ambiente fluvial de alta energia da Formação Río Guillermo cobrem a Formação Río Turbio (ambas do Oligoceno Superior) [e5,t2].

    Os sedimentos pelíticos pelágicos e os arenitos turbidíticos do Grupo Bahía Inútil (Oligoceno) representam os fácies de talude distal e centrais da bacia. Estes materiais são encontrados no subsolo da região de Magallanes (Chile) [e5].

    Ao norte do Lago Argentino, representando uma ingressão marinha, ocorrem os arenitos grosseiros com estratificação cruzada e intercalações de conglomerados, com fauna abundante de bivalves, gastrópodes e braquiópodes, além de ossos de dinossauros, da Formação Man Aike (Eoceno Médio) [e5]. Esta formação se estende em direção ao depocentro Última Esperanza [t2].

    Na região de Río Turbio, os arenitos finos a grossos, conglomerados e níveis argilosos com abundantes restos vegetais e jazidas de carvão, depositados em ambiente estuarino, litoral a pântano, da Formação Río Turbio (Eoceno Médio), recobrem discordantemente a Formação Cerro Dorotea [e5].

    Na região da Península Brunswick e da Isla Riesco e na Tierra del Fuego chilena, sobre a Formação Chorrillo Chico, ocorrem (da bases para o topo), as formações Água Fresca, Tres Brazos e Leña Dura. Os argilitos, siltitos e arenitos finos a médios com intercalações calcárias, com glauconita (destas três últimas formações) são do Eoceno e foram depositadas em ambiente deltaico raso de plataforma externa a média. Na Tierra del Fuego chilena, as formações Água Fresca, Tres Brazos e Leña Dura se misturam a sudoeste, ao norte dos lagos Lynch e Blanco, com espessos fácies clásticos da Formação Ballena [e5].

    Níveis espessos de conglomerados polimíticos, com clastos de xistos, siltitos, rochas vulcânicas ácidas e granitoides, e intercalações menores de arenitos e siltitos com palinomorfos do Eoceno inferior do Grupo La Despedida (equivalente à Formação Ballena) afloram na Tierra del Fuego argentina. Este grupo é subdividido nas formações Punta Torcida (siltitos depositados em ambiente marinho do Eoceno Inferior), Letícia (arenitos glauconíticos estuarinos a marinhos rasos do Eoceno médio a superior) e Cerro Colorado (arenitos e xistos do Eoceno-Oligoceno superior). Estas Formações fazem parte de uma cunha sedimentar cuja espessura diminui rapidamente a partir do Sul [e5].

    3.2. Fase foreland do Cretáceo Superior ao Paleoceno-Eoceno Inferior (E2)

    São rochas predominantemente sedimentares, com menores componentes vulcânicos/epiclásticos [a4].

    Nos depocentros do norte da Bacia Austral ocorrem as seguintes formações [t2]:
    • no depocentro principal anterior:
      • no norte: Formação Puesto el Moro (ambiente estuarino continental),
      • na porção central: Formação Lago Viedma (arenitos heterolíticos [s4] de ambiente marinho raso, do Cenomaniano, com dobras que fazem parte do Cinturão de Dobras Kaiken Aike [s5]) sobreposta pela Formação Puesto El Álamo (arenitos, conglomerados e pelitos do Turoniano) [h2] e
      • no sul, desde El Chaltén (Argentina) até a Região Última Esperanza (Chile): Formação Punta Barrosa (lutitos e arenitos [e5] de ambiente marinho profundo, acumulados em sistemas de vents submarinos em grande parte não confinados até o Turoniano, correlacionados com as formações Arroyo Alfa e Middle Inoceramus na Tierra del Fuego). 
    • no depocentro Cardiel-Tres Lagos: Formação Mata Amarilla (siltitos e argilitos, alternados com bancos de arenitos [u1] de ambiente estuarino-continental a leste do foredeep, no início do estágio de foreland).
    Ao norte do lago Viedma, nas proximidades de El Chaltén, observam-se dobras em arenitos e pelitos da Formação Lago Viedma. Na parte inferior, com declividade mais suave, ocorrem pelitos, calcários e arenitos da Formação Rio Mayer (Foto: Tatiana Gonzalez). 

    Em resposta à convergência andina e ao desenvolvimento do cinturão de dobra e cavalgamento patagônico e com a consequente migração do foredeep para leste, ocorreu a deposição das seguintes formações [t2]:
    • Cabeza de León (equivalente a Inoceramus Médio ou Inoceramus Superior), com deposição na parte sul do depocentro foredeep, durante o Campaniano Médio e Superior;
    • Dorotea (na região de Última Esperanza), com arenitos maciços, geralmente glauconíticos com intercalações de conglomerados [e5], em depósitos marinhos/deltaicos rasos do Maastrichtiano-Início do Paleoceno;
    • La Anita (na Argentina), com depósitos marinhos marginais e deltaicos, conglomerados e arenitos do Campaniano [m3];
    • Cerro Fortaleza, La Irene e Chorrillo, com depósitos fluviais agrupados nos Depósitos Continentais do Cretáceo Superior;
    • Calafate, com arenitos e pelitos [m3] em evento transgressivo do Maastrithianos e depósitos marinhos/deltaicos rasos do Maastrichtiano-Início do Paleoceno, bem expostos na margem sul do Lago Argentino;
    • Tres Pasos (na região de Última Esperanza, acima da Formação Cerro Toro [e5]) e Alta Vista (na Argentina), com depósitos de arenitos e siltitos associados a sistemas clinoformes progradantes de águas profundas em direção ao norte, associadas à Formação Dorotea e à unidade inferior da Formação La Anita; e
    • Cerro Toro, com depósitos espessos de turbiditos, acumulados durante o Coniaciano até o Campaniano [e5,h3];
    Turbiditos da Formação Cerro Toro ao redor do Glaciar Perito Moreno. No flanco noroeste do glaciar (à direita na foto), no Cerro Perito Moreno (à esquerda) e na Península de Magallanes (na parte inferior, à esquerda) (Foto: Tatiana Gonzalez).

    A Formação Cazador, na região de Río Turbio, é equivalente à Formação Tres Pasos [e5]. As formações Cerro Dorotea e Monte Chico são equivalentes, respetivamente, às partes superior e inferior da Formação Dorotea [e5].

    Ao sul da cidade de El Calafate, na Formação La Anita, é encontrada a "Piedra de los Sombreros". São alguns afloramentos com concreções resultantes da precipitação de óxidos de ferro, em processo de diagênese e em ambiente submerso, em torno de núcleos que favoreceram a precipitação [c2,w1]. As "abas" dos "sombreros" são esculpidas em uma porção externa menos resistente da concreção. Não há consenso sobre a fonte dos tais núcleos. 

    A Piedra de los Sombreros, com a cidade de El Calafate e o Lago Argentino ao fundo [p2].

    Arenitos e conglomerados da Formação La Anita ao sul da cidade de El Calafate (Foto: Marco Gonzalez).

    Na região da Península Brunswick e da Isla Riesco, são encontrados arenitos finos glauconíticos, folhelhos e margas com estratificação planar e estratificação cruzada da Formação Fuentes de ambiente de plataforma muito rasa, com abundante fauna amonoide do Campaniano. Sob esta formação, conglomerados e arenitos muito espessos, com clastos de vulcanitos ácidos, rochas intrusivas e metamórficas e siltitos da Formação Escarpada representam fácies de preenchimento de cânions submarinos, provavelmente alimentados pelo norte e semelhantes aos Conglomerados do Lago Sofia. E sob a Escarpada, a Formação Latorre (Coniaciano) consiste em turbiditos, com amonitas, depositados em uma bacia que diminui rapidamente [e5].

    Na Tierra del Fuego algumas das formações encontradas são [o1]:
    • no Paleoceno-Eoceno:
      • Tres Amigos, com sucessão bem estratificada de conglomerado médio-fino, arenito conglomerático e arenito médio-grosseiro, de coloração cinza a cinza claro, alternando com pacotes de arenito e pelita, ritmicamente estratificados e de coloração cinza a cinza escuro na área de Bahía Thetis [e4].
      • Letícia, com arenitos glauconíticos, de ambiente estuarino a marinho raso (Eoceno Médio a Superior).
      • Punta Torcida, com limolitas depositadas em ambiente marino (Eoceno inferior).
    • no Maastrichtiano-Daniano:
      • Policarpo, com sucessão com bioturbação, predominantemente composta por lamitos, lamitos arenosos e arenitos siltosos muito finos, cinza escuro, muito endurecidos, compactos e com abundantes lamelas de mica, com amonites e foraminíferos do Maastrichtiano e do Daniano, na área de Bahía Thetis [e4]. 
      • Cerro Cuchilla, que recobre a Formação Río García por contato transicional, incluindo siltitos arenosos e arenitos finos, parcialmente glauconíticos, intensamente bioturbados, acumulados em um ambiente de plataforma rasa do Maastrichtiana, com sequências clásticas mais espessas na parte centro-oeste do cinturão fueguino chileno do Maastrichtian Superior-Daniano [e5].
    • no Coniaciano-Maastrichtiano:
      • Bahía Thetis, com lamitos escuros, tufos, turbiditos arenosos e conglomerados, com amonites e foraminíferos do Campaniano Superior-Maastrichtiano Inferior na área de Bahía Thetis [e4].
      • Cerro Matrero, com arenitos depositados por correntes de turbidez, siltitos parcialmente bioturbados, arenitos laminados e conglomerados finos e grossos, com clastos de até 40 cm de diâmetro, representando todas um complexo de leques durbitíticos [e5]. 
      • Río García, ao norte da Formação Cerro Matrero, na zona mais externa do cinturão de dobras e cavalgamento fueguinos, cobrindo a Formação Vicuña, é constituída por siltitos argilosos laminados bioturbados, com finos níveis de arenito fino, depositados em plataforma externa [e5].
    3.3. Fase de subsidência térmica (E3, no extremo norte do mapa)

    Nesta fase, há rochas principalmente sedimentares, com menores componentes vulcânicos/epiclásticos. Também predominam rochas vulcânicas e vulcanoclásticas e ignimbritos basálticos a riolíticos continentais [a4].

    No Setor de Cordilheiras (na Argentina), ocorre uma sucessão de arenitos verdes e rochas conglomeráticas pertencentes às formações Río Belgrano e Río Tarde de idade Barremiano-Albiana. Na Formação Río Tarde, o membro inferior é caracterizado por conglomerados vermelhos e arenitos de sistema fluvial continental de alta energia, enquanto o membro superior é dominado por tufos retrabalhados, ignimbritos e arenitos depositados em uma planície de inundação [e5,l3].

    No setor chileno de Última Esperanza, na Península Brunswick e na Isla Riesco, é encontrada a Formação Erezcano (ou Zapata), cuja seção superior é composta por folhelhos negros bioturbados com arenitos intercalados e níveis de tufos depositados em um ambiente marinho raso do Aptiano Superior ao Turoniano [e5].

    Uma plataforma marinha é representada pelas formações Río Mayer (do Berriasiano ao Turoniano) e Springhill (do Tithoniano ao Hauteriviano). Esta plataforma é encontrada no Setor de Cordilheiras argentino e nos lagos Argentino e Viedma com estas duas formações. No caso da Formação Springhill, a plataforma é encontrada também na Península Brunswick e na Isla Riesco e no subsolo de Magallanes, no Chile, e ainda no subsolo de Santa Cruz, na Argentina [e5,l3,t2]. Nestes locais, o Complexo El Quemado [l3] é coberto:
    • pela Formação Río Mayer com uma alternância de lamitos negros e margas em espessa sucessão, de ambiente marinho profundo, e
    • pela Formação Springhill (sobreposta pela Río Mayer) com importantes depósitos transgressivos constituídos por arenitos com clastos quartzosos bipiramidais.
    Na Tierra del Fuego argentina, a Formação Beauvoir está presente com uma sequência de lamitos escuros e arenitos do Cretáceo Inferior [s3].

    Na Tierra del Fuego chilena, uma série de rochas vulcanoclásticas e piroclásticas, intercaladas por lavas e cúpulas de composição riolítica a basáltica e afinidades químicas cálcico-alcalinas constituem a Formação Hardy (Aptiano Superior a Cenomaniano Inferior). Esta formação representa evidências do arco magmático do Cretáceo Médio, ao sul do Canal Beagle [e5]. Ela se interdigita ao norte com a Formação Yaghan (Cretáceo Inferior), constituída por lamitos negros marinhos profundos, com tufos e turbiditos, que completam o enchimento da Bacia de Rocas Verdes [s3].

    Na Terra do Fogo, as formações Vicuña e La Paciencia correspondem a equivalentes distais da formação Margas Verdes. A Vicuña (Aptiano-Albiana) possui siltitos calcários e coquina, com intercalações de níveis tufáceos, acumulados em ambiente de plataforma interna rasa. A Formação La Paciencia (Albiano-Coniaciano inferior) é constituída por siltitos e argilitos com finas intercalações de arenitos tufáceos depositados em plataforma externa. É equivalente na Argentina, ao norte do Canal Beagle, à Formação Beauvoir [e5].

    No final desta fase, as formações Piedra Clavada e Kachaike foram depositadas em grande sistema de delta de margem passiva no início do Aptiano-Albiano [u1].

    3.4. Fase de Rifte (E4)

    Nesta fase, há rochas jurássicas continentais a marinhas basálticas a vulcânicas riolíticas e rochas vulcanoclásticas de transição para o arco vulcânico andino.

    Ao sul do Paralelo 51ºS, no Chile, ocorre um complexo ofiolítico incompleto, que inclui o Complexo Sarmiento, na área de Última Esperanza, ou Complexo Tortuga, ao sul da Tierra del Fuego. Estas rochas, a rigor, corresponderiam a uma bacia de Foreland de "colisão", já que a deformação inicial está associada ao fechamento da Bacia de Rocas Verdes e ao cavalgamento do arco vulcânico da Formação Hardy contra a margem da placa Sul-Americana. Deste processo, os ofiolitos da Formação Sarmiento ou Toruga permaneceram remanescentes [e5]

    Nesta fase de Rifte, o Complexo El Quemado (Jurássico) assenta em discordância ou em contato tectônico sobre a unidade exposta mais antiga ao longo do segmento norte dos Andes da Patagônia Austral. Este segmento corresponde ao embasamento metassedimentar da Formação Río Lácteo (Devoniano ao Carbonífero) [l3,t2].

    Escarpa em rochas vulcânicas do Complexo El Quemado. O Rio de Las Vueltas passa ao longo desta escarpa e recebe águas do Rio Fitz Roy. A ponte sobre este segundo rio dá acesso a El Chaltén (Foto: Marco Gonzalez). Esta cidade está localizada em terreno glacifluvial [h2]. 

    O Complexo El Quemado é equivalente às formações Tobífera e Lemaire. A primeira é encontrada em Última Esperanza, na Tierra del Fuego chilena e no subsolo de Magallanes e de Santa Cruz, enquanto a Formação Lemaire ocorre na Tierra del Fuego argentina [e5,s3]. Esta é constituído por sequências vulcano-sedimentares (com predomínio de ignimbritos félsicos) do Jurássico [l3,t2]. A Formação Lemaire apresenta rochas de ambiente submarino, com uma intercalação de riolitos, ardósias e basaltos [s3].

    3.5. Bacia Aysén (E4, ao norte do Paralelo 48ºS)

    Esta bacia é caracterizada por três grupos estratigráficos principais [g1]:
    • Grupo Divisadero. É uma sequência continental de rochas vulcanoclásticas e piroclásticas do Aptiano, com intercalações de fluxos de lava e com rochas riolíticas, dacíticas e andesíticas hipabissais associadas.
    • Grupo Coihaique. Foi depositado em retroarco na crosta continental a leste do arco magmático, sob o Grupo Divisadero. Caracteriza-se por transgressão seguida de regressão. É subdividido nas seguintes três formações marinhas e continentais com contatos concordantes entre si (da mais jovem à mais antiga):
      • Formação Apeleg. É constituída por arenitos, lamitos e, em menor escala, conglomerados, depositados em plataforma marinha aberta no Hauteriviano.
      • Formação Katterfeld. Seus xistos negros espessos foram depositados em condições anóxicas em reservatório marinho protegido e parcialmente fechado, controlado por tectonismo, do Valanginiano ao Hauteriviano.
      • Formação El Toqui, no Chile, ou formações Cotidiano ou Três Lagunas, na Argentina. São sedimentos clásticos e calcários depositados em linha costeira de alta energia, de idades do Tithonian ao Valanginian.
    • Grupo Ibanez. Em discordância acima do Complexo Metamórfico Andino, apresenta fácies vulcânicos (rochas piroclásticas siliciosas e, subordinadamente, derrames riolíticos, dacíticos, andesíticos e basálticos) e sedimentares do Valanginiano Inicial até Hauteriviano Inicial, podendo representar a porção mais jovem do episódio vulcânico félsico de Chon Aike.
    O Cretáceo Superior está mal representado ao norte de 50°S e consiste em depósitos continentais vermelhos da Formação Cardiel [l3]. 

    4. Grande Província Ígnea de Chon Aike (F1)

    São rochas vulcânicas bimodais intraplaca do Jurássico Inferior ao Cretáceo Inferior, com tufos continentais superiores, além de rochas epiclásticas e sedimentares. Estão expostas sobre o Maciço Deseado e sobre rochas das bacias de San Jorge e Austral [a4]. É uma sequência continental clástica, interdigitada com o vulcanismo riolítico, representado por riolitos e fluxos piroclásticos que constituem extenso planalto, em geral, com ampla superfície de aplanação exumada [l1].

    As rochas vulcânicas desta província, correlacionáveis aos basaltos da Província Paraná-Etendeka, cobrem áreas descontínuas e, na região costeira do Atlântico, seus afloramentos produzem os relevos irregulares que são vistos sobre o Maciço Deseado [a4]. Estes relevos costeiros irregulares ao são formados por afloramentos de rochas ígneas da Formação Chon Aike [l1].

    Esta província é representada pelas seguintes principais formações [a4]:
    • Sobre o Maciço do Deseado, é encontrado o Complexo Vulcânico Bahía Laura, subdividido em:
      • Formação Roca Blanca (arenitos e tufos arenosos), 
      • Formação Bajo Pobre (lavas intermediárias a básicas com fluxo de cinzas subordinados e aglomerados vulcânicos),
      • Formação Chon Aike (riolitos calcio-alcalinos com dacitos e traquidacitos),
      • Formação Cerro León (lacólitos subvulcânicos tipicamente porfiríticos), e
      • Formação La Matilde (tufos de queda de cinzas e sedimentos vulcanoclásticos).
    • No sopé andino da Patagônia chilena, a província é representada pelo Complexo El Quemado.
    5. Granitoides e rochas vulcânicas e metamórficas

    Este grupo inclui o Batólito da Patagônia Austral (G1) e rochas vulcânicas e metamórficas (G2).

    O Batólito da Patagônia Austral faz parte do batólito que evoluiu do Mesozoico ao Cenozoico e que se estende continuamente ao longo da margem continental andina entre as os paralelos 40ºS e 56ºS na Patagônia. O BPA possui dois segmentos [t6]:
    • o Batólito Sul-Patagônico (do Paralelo 47ºS, na latitude da Junção Triplice, até 53°S), onde atualmente a placa Antártica está sendo subduzida sob a Sul-Americana, o que acontece desde o final do Jurássico Superior, e 
    • o Batólito Fueguino, que se estende até o extremo sul do continente.
    5.1. Batólito Sul-Patagônico (G1)

    A construção do Batólito Sul-Patagônico começou com um volumoso corpo do Jurássico Superior, composto principalmente de leucogranito com algum gabro, localizado ao longo de sua atual margem leste em um período de tempo restrito (157 a 145 milhões de anos) [t6]. 

    A maioria dos granitoides do Cretáceo Médio a Superior (126 milhões a 75 milhões de anos) e Paleogeno (67 milhões a 40 milhões de anos) do Batólito da Patagônia Austral são representados por plutons geograficamente restritos, localizados principalmente entre as margens previamente estabelecidas do batólito e principalmente no extremo sul. Nenhuma rocha vulcânica associada de idade semelhante é conhecida nesta área [t6].

    5.2. Batólito Fueguino (G1, na Tierra del Fuego)

    O Batólito Fueguino é constituído pelos seguintes complexos [t7]:
    • Complexo de Gabro (141 milhões a 103 milhões de anos). Possui gabros e hornblenditos e apresenta texturas cumulativas comuns sem foliação penetrante.
    • Complexo Plutônico Canal Beagle (113 milhões a 81 milhões de anos). Contém tonalito e granodiorito com quartzo-monzodioritos e quartzo-dioritos subordinados e é observada folheação penetrativa de origem sintagmática.
    • Complexo Plutônico Seno Año Nuevo (60 milhões a 34 milhões de anos). É constituído por quartzo-dioritos a granitos, sendo os tonalitos e os quartzo-monzodioritos os mais comuns, havendo ligeiro enriquecimento de K sem foliação magmática penetrativa.
    5.3. Rochas vulcânicas e metamórficas (G2)

    Este grupo de rochas do Devoniano ao Triássico apresenta aumento de componentes vulcânicos e de metamorfismo para oeste [a4], onde é encontrado o Complexo Metamórfico Cordilheira Darwin, cuja orogenia teve início a cerca de 100 milhões de anos [o1].

    A este complexo metamórfico pertence a Formação Lapataia [s1], com ardósias, filitos e xistos finos em fácies de xistos verdes provavelmente do Jurássico Superior (sua idade ainda é questão controversa, abrangendo do pré-Jurássico ao Mesozoico Inferior) [e5,e6].

    Afloramento de xistos da Formação Lapataia na margem sul da Bahia Lapataia, no Parque Nacional de Tierra del Fuego (Foto: Marco Gonzalez).

    No Complexo Metamórfico Cordilheira Darwin, há identificação de filitos e xistos provenientes de protolitos pelíticos paleozoicos, com metamorfismo que aponta para uma idade anterior ao Jurássico Superior. São rochas metamórficas com diversos graus, alcançando até fácies anfibolita [e5]. Por outro lado também foram descritas estruturas dos xistos da Formação Lapataia, atribuindo-lhes idades provavelmente entre Paleozoico Superior e Mesozoico Inferior [e6].


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